Luiza de " Ferro "

Bruno Filho

Sou apartidário. Aliás, sempre fui.Salvo alguns “escorregões” que tive, em um deles torci por Leonel Brizolla, quando candidato á presidência da República em 89,derrotado que foi, mas me chamava a atenção por seu verbo forte,sua impáfia gaúcha,desafiadora e repleta de pequenas falas previamente preparadas para chocar.Reconheço seu valor.

Deixando de lado esse fato isolado, nunca trabalhei ou servi de “cabo eleitoral” para ninguém, a não ser para eleger meu amigo Avedis como presidente do Grêmio de meu colégio.Até porque de onde eu venho política é relegada a segundo plano.Prova disso é que poucos homens públicos são nascidos por lá, e contam-se nos dedos os que fizeram sucesso.

Contudo,a eleição para Prefeito de 1988 teve uma conotação especial. Estavam disputando o cargo, nomes fortes como Paulo Maluf, o então secretário João Leiva apoiado por Janio Quadros,João Melão Neto, uma espécie de Russomano da época,além do- já naquele tempo incansável- José Serra , entre outros.

Eis que surge então, uma pequena senhora, desconhecida daqueles que não gostavam de política, mas militante ativa ao extremo do PT, o Partido que ajudou a fundar,na disputa pelo Palácio das Indústrias, nome da sede aonde fica o Alcaide paulistano.Foi indicada e entrou na disputa,ela que já havia perdido na eleição anterior como vice de Suplicy.

Com um curriculo respeitado, não parecia ser “boa de voto” como se diz na gíria. Colocou-se na luta e ocupava céleremente a terceira posição nas pesquisas até os dias finais que antecediam o pleito.No dia anterior à votação, um sábado, dirijo-me a uma padaria como fazia corriqueiramente e escuto “fofocas eleitorais” na fila do caixa…

“Eu vou votar nela…a outra voz responde…quer saber ? eu tembém…” e assim qualificado pelo pronome Ela,já que era a única mulher na disputa, a conversa ganhava força.Fui para casa, e no dia seguinte, o tradicional domingo das eleições, antes de cumprir meu dever cívico fui a uma feira livre.

E não é que na feira,a conversa era a mesma ? Voltei para casa,e então confidenciei à família e amigos o que tinha se sucedido e afirmei…” Olha, acho que a mulher vai ganhar…” recebi em troca um punhado de gargalhadas incrédulas e assim o dia transcorreu.

Pois não é que aconteceu ? Na maior “virada” da história da política de São Paulo, a pequena senhora de grande capacidade, venceu o todo poderoso Paulo Maluf, uma “zebra” universal que mostrou definitivamente que eleição só se ganha com a abertura das urnas.

Fiquei feliz com o resultado, pela demonstração de capacidade e perseverança da Prefeita, aliás a primeira da história de São Paulo, a maior cidade da América Latina. E Luiz Erundina fez uma boa gestão.Assumiu o cargo em 1989, sob uma inflação calamitosa e dirigia São Paulo quando do advento Collor que “arrebentou” com o Brasil.

Não há nenhuma reclamação ou escândalo,salvo engano da minha parte, contra Luiza até hoje.Mantem-se como política, exerce seu cargo de Deputada Federal e no solo paulistano é respeitada por integrantes e simpatizantes de todos os partidos.Não conheço ninguém que não goste dessa filha de Uiraúna.

Ela está completando 78 anos de idade, e graças a Deus com saúde para poder trabalhar, saibam e que todos os paraibanos tenham certeza que ela sempre honrou o nome desse ,hoje, meu Estado de coração.É para mim um orgulho falar de Luiza Erundina,sou seu fã e naquele domingo não votei nela.Perdi.

Bruno Filho, jornalista e radialista, que adora conhecer as regiões da Paraíba, e saber de suas histórias.