Luiz Gonzaga: A Visão de um Paulistano

Bruno Filho

Peço permissão aos meus “conterrâneos” e anfitriões paraibanos, aos vizinhos pernambucanos e a todo Nordeste.Vou me atrever a escrever alguma coisa sobre Luiz Gonzaga,neste centenário de nascimento do “Rei do Baião”.Sem dúvida, no meu ponto de vista, o maior artista nordestino de todos os tempos.

Luiz chegou na minha vida logo cedo.Sou de família de músicos,meus tios tinham uma orquestra dentro da família e tocavam todos os tipos de ritmo, e nós crianças acompanhávamos. Eu aprendi “Tico-Tico no Fubá” de Zequinha de Abreu aos 5 anos de idade enquanto rolavam pelas casas Boleros,Sambas,Tangos e Baião…

Meu primo mais velho Arnaldo,professor de Acordeon, tinha uma Scandalli italiana que guardava a 7 chaves e quando tocava não deixava nunca passar em branco o solo principal de “Asa Branca”.Era o aquecimento de todos os acordionistas em São Paulo,quem não sabia tocar a canção principal de Gonzaga não era acordionista.

Outro detalhe que as vezes passa em branco para muita gente.São Paulo é a maior cidade nordestina do Brasil fora do Nordeste.Estima-se que por lá vivam 2 milhões de almas nordestinas.O convívio com os nordestinos é diário e constante e quem não é nascido neste pedaço iluminado por Deus,devido a mistura de gerações passa a ser filho ou neto.

Assisti recentemente o filme sobre a vida de Luiz e me espantei com coisas que não sabia,e com outras que sabia mas não à fundo.Percebi na sala de cinema o carinho com que as pessoas recebiam cada cena que aparecia e acompanhei quase todas as músicas,cantarolando.

Meu amigo Luiz Felipe de Recife me ajudou a conhecer um pouco mais a história do astro de Exú,pois viveu “in loco” alguns passos da vida dele. Contou, por exemplo, que ele aparecia de madrugada para cantar na Radio Clube,a “pioneira” da América Latina, mas tinha um ritual…

Só começava a cantar depois de comer um suculento cuscuz com ovo e linguiça,servido no boteco que ficava ao lado da emissora e que só ficava aberto nas madrugadas para atender justamente os boêmios, artistas e cantores da época.Olha que história espetacular !.

Fico espantado como alguém pode agradar a 3 gerações diferentes,ou até 4.Avô,pai,filho e neto sabem cantar todas as músicas dele.Passou por esses 100 anos sendo respeitado e admirado.Isso não existe no sudeste.Se você perguntar por lá quem foi Vicente Celestino,as crianças e adolescentes gargalham na sua cara.

Esse amor que o nordestino tem por seus ídolos é apaixonante.Uma das coisas que me fizeram adotar essa terra.É exemplo que deveria ser seguido pelo resto do país.Uma outra que reparo, é o eco que as músicas do compositor fazem.São regravações em cima de regravações e a música torna-se eterna.

No ultimo final de semana, fui a uma festa de confraternização da empresa, e por lá acompanhado de minha esposa que é paraibana fui à pista de dança e “desenferrugei” ao som de outro ídolo, Flavio José.Senti um espanto de meus colegas de trabalho,afinal era forró.

Quero me defender.Eu sei dançar forró sim.E não aprendi a dançar agora.Já sabia, embora não pareça, admito.Eu danço desde os 5 anos de idade, e como disse no início sou de uma família de músicos.Agora o principal…só dancei porque eram músicas que me transmitiam felicidade e alegria.

Independe de quem canta ou aonde você está localizado.Sou meio como Lennon em “Imagine”,considero o Universo uma coisa só, e quando o assunto é musica mais ainda.Tem coisas que eu ainda não aprendi mas me esforço para isso,uma delas a cordialidade do nordestino.Isso eu acho que é de nascença.Salve Luiz e respeite Januário !

Bruno Filho,jornalista e radialista,que sabe o peso que tem Gonzaga na vida nordestina e agradece a permissão.