Luciano Cartaxo, o PT e Rocinante

Gilvan Freire

Luciano Cartaxo teve primeiro de vencer o PT para ganhar as eleições de prefeito de João Pessoa. Este foi o parto mais complicado e difícil das eleições ganhas por Cartaxo, um monge político obstinado que por conta disso tudo compra em vida o ingresso para entrar no céu quando morrer, sem necessidade de prestar contas do que fez em vida na terra. E não vai direto ao paraíso só porque venceu as eleições na Capital em nome do PT – um partido que nunca possuiu em João Pessoa votos para eleger prefeito -, mas porque venceu o próprio PT internamente, uma obra que exige a paciência de um penitente beneditino e a bravura de Dom Quixote, que imaginava liquidar legiões inimigas montando num cavalo e vestido com armaduras de metais antigas, em companhia de Sancho Pança, seu fiel escudeiro.

As armaduras de Luciano foram a sorte (com ela ele venceu o desânimo e as adversidades que pareciam insuperáveis, penetrantes e mortais); o outro Luciano, o Agra, foi possivelmente Sancho Pança, o leal amigo e companheiro; e seu Rocinante (nome do cavalo de Dom Quixote de La Mancha) foi… Bem só no futuro próximo se saberá se esse não foi mesmo o papel de Luciano Agra, em vez de ter sido Sancho. É situação em aberto que somente o PT pode decifrar a curto prazo. Afinal, o PT raciocina tanto quanto Rocinante quando é para agradecer aos outros, mas vira Sancho Pança quando é para montar no cavalo alheio.

LULA ENSINOU O PT A NÃO SER O PT

Antes de Lula chegar ao governo era o PT que o impedia de chegar, até que Zé Dirceu, o gênio da engenharia lulista, pregou e operou a aliança que fez Lula presidente – uma mistura do lulismo petista com a direita malufista sem Maluf, que governou e dividiu o poder com ele, Lula, até hoje, mesmo depois que a preposta de Lula passou a ocupar o cargo de presidente agora denominado de Presidenta, como se ‘a’ fizesse alguma diferença.

O PT, que pregou uma reforma socializante de gestão democrática para Lula realizar no governo dos trabalhadores, entendeu-se com a direita mais reacionária do país e passou a governar de forma pragmática, exatamente como ensinavam os velhos manuais conservadores da República Antiga, que se fez renovada apenas pelas novas cores (que muito rápida desbotaram). A ética vermelha amarelou diante das fantásticas montanhas de dinheiro do Estado. E todos, como os gatos à noite, ficaram pardos. Foi ai que morreram a ética petistas e o petismo lírico, também chamados de utopias.

Lula percebeu cedo que, no governo, o PT mais queria empregos e dinheiro e menos utopias, e deu a Dirceu, Genuíno e Delúbio o segredo dos cofres abarrotados, a fim de que eles financiassem parte de um pacto político conservador, contanto que o projeto de poder petista pudesse durar ao menos 20 anos.

Luciano Cartaxo sabe que para domar o PT basta garantir o que Lula deu, prometendo primeiro e dando depois. Só assim terá a certeza de que o partido, antes e depois das eleições, deixará que ele lidere e governe.

No principio, o PT desejará governar sozinho e tentará expurgar os melhores aliados, mas, atraídos pelas iscas do poder, pode mudar de atitude, dependendo das compensações, precisamente como entendeu Lula. Haverá preço e riscos, mas não há outro caminho. Existirá sempre uma fórmula de o PT não parecer com o PT: é dar-lhe a parte do poder de que mais gosta. Lula sempre soube disso e unificou o PT, antes que uma banda engolisse a outra e a sobrevivente morresse de má digestão.