Luar do Brejo - Rubens Nóbrega

Ah, o que eu não daria para assistir a todos os eventos do ‘Caminhos do Frio’ de 25 a 31 deste mês em Bananeiras!

Vai ser uma beleza, tenham certeza. Até porque tudo fica mais bonito, mais atraente e mais aconchegante sob o frio da Serra e o calor humano das pessoas do lugar.

De toda a programação, batizada de ‘Aventuras e Arte na Serra’, só não posso perder a de quarta-feira (27) à noite.
Vou passar a noite em Bananeiras com a minha Branca, amada musa, e juntos vamos poder acompanhar a melhor serenata ao luar que o Brejo já viu e ouviu.

Evidente que a chuva vai dar uma trégua e vai fazer uma noite linda, feito aquelas dos velhos tempos, cheia de estrelas no céu e uma lua do tamanho do mundo.

Peço a Deus e a todos os santos que nos ajudem a viver ‘esse momento lindo’, sentindo as mesmas emoções que a gente sentiria se por lá aparecesse um seresteiro chamado Roberto Carlos.

Mas que ninguém se admire se o rei aparecer por lá e der ‘aquela canja’, de preferência acompanhado por meu amigo Rogério (da Banda Antares) ao violão.

Mesmo se ele não cantar, se for seguramente irá só pra ver Ozeas, Maguila e o próprio Rogério cantando. Voz da minha saudade
Vou logo adiantando uma coisa: vou pedir a Ozeas, ao Professor Ozeas Almeida, ao meu Professor de Música, pra ele cantar ‘O bem do mar’, de Caimmy.

E, quando ele começar, vou fechar os olhos e não vou ter coragem outra vez de entrar atrasado na aula dele que perdi em 1968, no Ginásio Estadual.

Não entrei, Professor, porque ainda estava do lado de fora quando ouvi o senhor começar a aula cantando, como quase sempre fazia.
Cheguei bem pertinho da porta, mas parei na primeira estrofe.

– O pescador tem dois amor. Um bem na terra, um bem no mar…

Parei e fiquei escondido, encolhido, só escutando. Não sei se por encantamento ou medo de interromper, quando entrasse na sala.

E se não foi ‘O bem do mar’, se essa não é do seu repertório, desculpe. Mas, com certeza, foi uma de Caymmi.

Terá sido aquela da jangada que sai pro mar? Como é mesmo o nome? ‘Suíte do pescador’? “Minha jangada vai sair pro marvou trabalhar, meu bem querer”… Acho que é assim. Música e aula de verdade

Voltando a Bananeiras dia 27 que vem, vou ter a chance de ouvir mais uma vez a voz que fez um garoto como eu, que amava os Beatles e os Rolling Stones, descobrir e amar também o que havia de mais belo e puro da música brasileira.

Sim, porque Ozeas não cantava em sala apenas para mostrar os seus dotes de grande intérprete. A cada canção, o Professor apresentava a seus alunos um grande compositor da nossa MPB.

Lembro dele cantando também, por exemplo, ‘Chão de Estrelas’ (Sílvio CaldasOrestes Barbosa) e, se a memória pouca não me trai, ‘Feitiço da Vila’ (Noel RosaVadico) e ‘Luar do Sertão’ (Catulo da Paixão CearenseJoão Pernambuco). E como fica maravilhoso ouvir ‘Luar do Sertão’ sob o luar do Brejo!

Mas é bom dizer, esclarecer e explicar que aula de Ozeas não se limitava à cantoria, lógico. Ele ensinava música mesmo, de verdade.
Dessa parte, infelizmente, guardei muito pouco. Lembro um pouco das notas, claro, da pauta desenhada no quadro verde e da clave de sol que eu achava difícil reproduzir no caderno.

Lembro também o Professor estalando o polegar contra o médio, ao mesmo tempo em que marcava o ritmo movendo o braço esquerdo pra cima, pra baixo e pro lado. Acho que era assim que ele nos ensinava o compasso da música.

Música em toda escola

Pena ter sido uma aula apenas por semana e, se não me engano, o meu colégio em Bananeiras só oferecia música na terceira série ginasial.
Música deveria ser ensinada em todas as escolas, desde o Fundamental. Tal como acontece ou acontecia em países mais ricos e desenvolvidos.
Esta semana que passou mesmo vi na tevê, durante uma dessas madrugadas de insônia, o Elvis Costelo entrevistando Bill Clinton e o ex-presidente norte-americano dizendo o quanto a música ajudou na sua formação.

Chamou-me a atenção Clinton mostrando o quanto a sensibilidade e o conhecimento musical ajudam a quem governa, dirige, decide, orienta, conduz.

É parecido com um grupo de jazz tocando. O bandleader dita o andamento. Ele sabe a hora certa de tocar forte, de tocar suave, de avançar, de recuar, de brecar, de florear, de esticar uma nota…

Pelo que entendi da fala do Bill, um bom líder, musical e politicamente falando, é aquele que admite, pratica e exercita todas as possibilidades e nuances diante da platéia.

Porque um bom músico, tanto quanto um bom líder, sabe tocar todas as notas e através delas aprende a tocar todos os corações.
Melhor ainda: sabe, sobretudo, jamais perder de vista – e de ouvido – que o seu talento deve ter como maior serventia agradar e fazer bem ao público.

Por essas e outras, gostaria de ter aprendido mais ou tudo com Ozeas.

Até para ter o orgulho adicional (no bom sentido) de até nisso ter ‘puxado’ ao Professor Vicente Nóbrega, meu pai, líder, músico e cantor tão bom quanto o meu Professor de Música.

***

Bananeiras não fará apenas serenata no ‘Caminhos do Frio’, evidentemente. Vai ter também cinema nas escolas, teatro, lapinha, balé, exposição de fotografias, festival gastronômico e mais música, muita música.

De Erick Von Shosten a Diana Miranda e Orquestra Sinfônica da Paraíba, com direito ainda a uma apresentação especial da diva Cida Lobo. Como diria a Doutora Ana Gondim, vai ser um es-pe-tá-cu-lo!