Lobão cantou 'Lula-lá' em 1989 e hoje integra linha de frente do antipetismo

Nesta semana, Lobão foi a Brasília se encontrar com o senador Aécio Neves

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O músico João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão, 57, transformou-se no “muso” das manifestações contra o governo Dilma.

Ele está em todas. Nesta semana, Lobão foi a Brasília se encontrar com o senador Aécio Neves; no sábado, estava esbravejando contra o PT no carro de som, na manifestação na avenida Paulista.

Na semana passada, o músico já tinha feito um bate e volta no Congresso para protestar contra o projeto que libera a União de cumprir a meta de superavit primário.

Tudo isso enquanto tuíta freneticamente pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“Lobão representa o engajamento de quem está cansado tanto da roubalheira do governo como da passividade da oposição, que foi ausente ou fraca”, diz Rodrigo Constantino, colunista da revista “Veja” e queridinho dos conservadores.

Mas nem todo mundo da oposição quer o Lobão de porta-voz. No sábado, o músico queria subir no carro do movimento Vem pra Rua, mas foi desaconselhado pelos líderes do movimento. Acabou subindo mesmo assim.

No outro carro de som, do Movimento Brasil Livre, ele tampouco era bem-vindo. “A gente acha o Lobão caricato, ele não é um símbolo —ele vê sempre mágicas no absurdo”, diz Renan Starkey, 30, coordenador do movimento, parafraseando letra da música “Me Chama”, do Lobão. “Ele fala em impeachment e fraude em eleições, nós queremos investigação na Petrobras.”

Líderes tucanos também preferem certa cautela. “Eu não me identifico com ele, com posições tão à direita”, diz o deputado José Aníbal (PSDB-SP). “O Lobão não é um símbolo, é só mais uma pessoa protestando”, diz o vereador Andrea Matarazzo.

Parte do receio de se associar ao músico se deve às companhias de Lobão. Para seu tour por Brasília, o músico se fez acompanhar de Marcello Reis, líder do grupo Revoltados Online.

Segundo o próprio Lobão, ele e Marcello são como a dupla “Debi e Lóide”. Há cerca de três meses, na página do grupo no Facebook, os Revoltados Online defendiam a intervenção militar. Agora, falam em anulação imediata da eleição ou impeachment já.

O cantor já deu declarações polêmicas sobre o tema. “Comissão da Verdade, que loucura que é isso… Tem que ter anistia para os caras de esquerda que sequestraram embaixador, e para os caras que torturaram, arrancaram umas unhazinhas, não?”, disse Lobão no Festival da Mantiqueira, em 2011. “As pessoas não estavam lutando por uma democracia, estavam lutando por uma ditadura do proletariado, e os militares foram lá e defenderam nossa soberania.”

Hoje, Lobão condena repetidamente os militaristas das manifestações, em seu Twitter e ao vivo. E disse a Aécio Neves (PSDB-MG) que o senador fez bem de não ter ido ao protesto na Paulista, “uma arapuca militarista”.
Eduardo Bolsonaro, eleito deputado federal em SP pelo PSC e companheiro de manifestações, não se ofende. “O sentimento anti-PT nos une.” Mas ele acha que os defensores do golpe militar não podem ser excluídos das manifestações. “Você quer um PM na sua casa? Depende, se tiver um bandido com uma faca no seu pescoço, você certamente vai querer… E a atual situação é essa, estamos com a faca no pescoço…”

MUDANÇA

Sua transformação de paladino do petismo —chegou a cantar “Lula-lá” ao vivo, no programa do Faustão, em 1989- para nêmesis da esquerda foi gradual.

Segundo Lobão, a decepção começou em 2002 e se agravou com o escândalo do mensalão, em 2005.

Mas daí a se tornar companheiro de videoconferências no YouTube de Olavo de Carvalho, ídolo dos ultraconservadores, foi um passo.

Toda semana, Lobão almoça com o jornalista Claudio Tognolli, coautor de sua biografia, “50 Anos a Mil”, Romeu Tuma Júnior e o jornalista Sérgio Malbergier. Jocosamente, dizem que são a banda da UDN, referindo-se ao partido conservador que se opunha ao populismo e tinha fama de golpista.

“Nossos almoços têm um tom altamente conspiratório, sabemos coisas que só daqui a seis meses as pessoas vão saber”, diz Lobão. Segundo ele, sua oposição ferrenha ao governo tem levado a muitos cancelamentos de shows.

Ele aposta em outras atividades. Sua biografia, de 2010, vendeu mais de 150 mil exemplares. No ano passado, lançou o “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, que vendeu mais de 40 mil cópias. No ano que vem, quer publicar “Como Tirar o Hype do PT”.

Diversificando ainda mais o portfólio, Lobão se prepara para lançar os bonequinhos Lobãothinhos, em homenagem a Cazuza, que ciciava ao dizer o nome do amigo. Em pré-venda, o primeiro lote de cem bonecos, de óculos, barbicha e tênis, está quase esgotado, tamanha a procura. Vão custar R$ 30.

Folha