Liberdade. E depois confirma

Amadeu Robson M. Cordeiro

Outro dia dei uma estirada até a Assembléia Legislativa da Paraíba. O sol estava causticante e, para matar a sede, resolvi dar uma entrada em um daqueles botecos que ficam em suas beiradas, foi quando esbarrei inadvertidamente com acalorada discussão política.
Abstrato a minha limonada, enquanto o suor empapava as minhas virilhas e descia pelas canelas pra dentro dos meus sapatos, vez por outra corria os olhos e afinava ou ouvidos, procurando me manter oculto perante um senhor gordo e pançudo, que mais parecia com um hipopótamo, e que apimentava a discussão: “O povo não sabe votar, o povo vende o seu voto por qualquer migalha”. Do outro lado um magro e careca que mais parecia o grilo falante, rebatia: “mas ele tá certo em vender, pois é a única forma do povo ganhar alguma coisa com a política, desde que, receba e não vote”.
Minhas interrogações me perturbaram e não mais entrei na Casa das Leis. Cai à noite e logo me vem graves reflexões: vitórias, derrotas; sonhos, ilusões; amigos com poder no Poder, inimigos no Poder sem poder. Tudo girando em torno do voto. Do voto que trás alegria; do voto que trás tristeza; do voto que cria e do voto que castra do muito um pouco do que se tinha adquirido. Dai consegui entender e chegar à conclusão de que os difíceis embates da vida se tornam elementos propulsores a grandes conquistas ou, infelizmente, a lastimáveis derrotas.
O lado oposto seja em que lado esteja ou quaisquer que seja seu posto, sempre nos acompanha na campanha interminável da sobrevivência, o que me faz lembrar um samba de ritmo gostoso e bem meloso de Martinho da Vila que preconiza as grandes transformações, mostrando que é fácil dizer que o povo não sabe votar, mas, que é devagar, devagarinho que o povo vai aprendendo…aprendendo…aprendendo…
Fazendo minhas as palavras e pensamentos de Enock Cavalcanti, aqui explanadas, vejo que na reta final das campanhas a ciranda do cordão político multicolorido espalhadas por esta Paraíba afora, ainda semeiam a cultura arcaica e desleal do curral eleitoral, do boqueiro e do voto negociado, concluindo que, nesses tempos virtuais, alegria e felicidade não são conquistas instantâneas, porque a liberdade do voto não tem preço, mais tem valor. E nós temos valor.