Laureano quer respeito

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Paulo Santos

O diretor do Hospital Napoleão Laureano, João Batista, deu entrevista ontem (12) à rádio CBN de João Pessoa e apresentou, sem arrodeios, uma microscópica parte daquilo que transforma a saúde pública num caos no Brasil: a má distribuição de recursos para as instituições que praticam a medicina com seriedade.

Com sua naturalmente pausada voz, João disse que o Hospital Napoleão Laureano precisa receber mensalmente pelo menos R$ 4 milhões para manter o atendimento de forma satisfatória e, ainda, fazer investimentos. O hospital, entretanto, só recebe R$ 3,6 milhões a cada mês.

Com senso de Justiça, o diretor do hospital que é referência paraibana no tratamento de pacientes com câncer, diz que os pagamentos do SUS não estão atrasados, mas defasados. O HNL, filantrópico e mantido por uma fundação, nem de perto lembra as sucatas públicas que hoje dizem atender a população da Paraíba.

Conheço de perto o presidente da Fundação Laureano – o médico, ex-prefeito da Capital e ex-deputado federal Antônio Carneiro Arnaud – que há décadas, com João Batista, trava luta diária para manter não só atendimento a pobres e ricos no Laureano, mas – e principalmente – a dignidade no exercício da medicina.

As revelações de João Batista, na CBN, são testemunho de que o sistema de saúde do Brasil precisa mais do que de médicos do exterior: está a exigir competência e seriedade daqueles que estão em todas as esferas de poder. A realidade é sofrível nas instituições federais, estaduais e municipais.

E tudo isso acontece sob a silenciosa conivência dos políticos com o desastre atual e, por isso mesmo, emparedados pelas manifestações e os protestos que irromperam neste país de Norte a Sul. E não venham, deputados ou senadores, dizer que desconhecem esses problemas que afligem o Laureano e outras instituições.

Anualmente, Carneiro e João Batista realizam um périplo pelos luxuosos corredores e gabinetes do Congresso Nacional para amealhar emendas orçamentárias dos senhores parlamentares em favor do Laureano. Claro que, em parte, têm as reivindicações atendidas e incluídas no OGU.

O problema é que a maior parte das emendas não beneficia a saúde ou a educação, mas sim as empreiteiras, as grandes construtoras, aquelas que produzem os percentuais de pedra e cal que vão ajudar nas futuras campanhas eleitorais. E depois ficam atônitos sem compreender porque o povo indignou-se com tanta corrupção.

O Laureano não está pedindo socorro. Quer respeito. Ali não se finge de combater a morte. E em meio a esse quadro de indiferença do poder público João Batista dá um exemplo da solidariedade da população: entre R$ 60 mil e R$ 70 mil são doados mensalmente através das contas de luz. Pode ser insuficiente, mas demonstra que o povo tenta fazer o que os governos nao querem fazer.
CÔMICOS
Cada geração tem direito a um trio que a faz morrer de rir. No início do século passado tínhamos Moe, Larry e Curly encarnando Os Três Patetas. No final do mesmo século a Rede Globo nos brindou com Os Trapalhões (Didi, Dedé e Mussum). Neste século, a presidente Dilma também tem seu trio atrapalhado: Mantega na economia, Mercadante na educação e Padilha na saúde. A diferença é que estes últimos não nos dão motivos para rir.
CONVIVÊNCIA
É difícil viver sem governo. Que o diga a oposição paraibana. Os deputados Trócolli Júnior (PMDB) e o Janduhy Carneiro (PEN) não têm do que reclamar dos mimos do lorde inglês Carlos Pereira de Carvalho, superintendente do DER.
DESCULPA
A economia brasileira alimenta o rosário de desculpas dos prefeitos para justificar incompetência e má aplicação dos recursos públicos. A mais nova é a redução de 17% nas cotas do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) de julho em relação a junho.
ÉDSON RAMALHO
O que faz o Ministério Público estadual que não age com seriedade em relação ao que acontece no Hospital Édson Ramalho, em João Pessoa? Pacientes e acompanhantes são submetidos a humilhações no atendimento e nas enfermarias. E, com todo o respeito à categoria, as denúncias começam pelos médicos desatenciosos, grosseiros e faltosos.