" Lampions League "

Bruno Filho

Quando li e ouvi pela primeira vez estas duas palavras, lado a lado, não consegui definir exatamente o que senti no momento. Uma mistura de tristeza, desdém e inconformismo, eu que vivo ligado ao futebol e sei da importância de uma conquista, fiquei me perguntando qual o objetivo da criação deste termo pejorativo especialmente neste momento de glória para nosso futebol.

Seria engraçado se não fosse com instintos de crueldade. Um campeonato ganho no Sudeste por exemplo não se chamaria “PCC League” por exemplo, embora não haja concordância de sufixos de palavras que permitam esta mistura. Se fosse especialmente no Rio de Janeiro não chamaria “UPP League”, ato que está em moda e tenta reabilitar os governos de atos duvidosos.

Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião” morreu em 1938, pelas contas 75 anos atrás. No Nordeste especialmente no sertão e nas caatingas todo o mundo sabe de seus atos e dos atos de seu bando dentro do cangaço. Pratica de sequestros, assassinatos, saques e tantas outras peripécias nos 20 anos de atividades movidas pelo ódio de ter visto seus pais assassinados na infância.

Isto colocado, vamos ao lado B da história. Muitos o consideravam “Robin Hood”, que tirava dos ricos coronéis e distribuia aos pobres, segundo suas idéias malfadados seres viventes. Não me cabe julgar até porque não sou a pessoa ideal para isso, não sou historiador, professor de culturas nordestinas, contudo não sou tapado e sou minimamente inteligente para perceber más intenções.

Esta criação, que eu imagino tenha vindo do Sudeste, não foi apropriada para o tamanho da festa da conquista do Campinense. Não era o momento para isso, veio certamente carregada de um ódio não sei de quê, e de um sentimento de inveja também não sei de quê. Comercialmente pode até ter chamado atenção da mídia, vendido camisetas e outras bugigangas, mas para mim que sou do Sudeste foi decepcionante.

Poderiamos chamar o torneio de ” Ponto mais oriental das Américas League” ou então ” Maior São João do Mundo League” ou até ” Terra do maior poeta de todos os os tempos League”. Quem sabe partindo para outros campos culturais Elba Ramalho, Geraldo Vandré que orientou a adolescencia de tantos como eu, Herbert Viana, Sivuca, e já que o assunto é futebol: Junior o extraordinário craque do Flamengo.

Não vou aceitar nunca. Achei de um mau gosto tremendo. Peço desculpas aos paraibanos e alagoanos se é que esse codinome horroroso tenha sido criado por meus conterrâneos. Até porque ninguém conhece a fundo a vida e o legado seja ele do bem ou do mal deixado por este homem nascido em Pernambuco e morto nas Alagoas. Mesmo se assim fosse não haveria motivo.

Enfim, resumindo , não tem nada que faça uma correlação com o futebol. Foi de uma infelicidade sem par, e a mim particularmente provocou vergonha alheia. Quem sabe chegará um dia em que o Nordeste seja realmente colocado no lugar que merece, ele que é repleto de maravilhas naturais que preenchem as férias e o lazer daqueles que vivem cercados do frio concreto, frio como a alma de quem criou este absurdo.

Bruno Filho, jornalista e radialista, que as vezes pensa em sumir com vergonha de sua origem !

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