A Jovem Pan demitiu a comentarista Bruna Torlay na última segunda-feira (7) após a analista de política acusar agentes da Receita Federal de corrupção e ser processada pela instituição. Ela integrava o programa 3 em 1, e o Notícias da TV apurou que a saída foi provocada por pressão interna da emissora.
O comentário feito por Bruna havia sido feito na edição de 22 de dezembro do ano passado, mas teve consequências apenas neste mês. O programa apresentado por Paulo Mathias naquela ocasião discutia o pedido de demissão coletiva de agentes da Receita Federal após a categoria ficar sem reajuste salarial, enquanto o presidente Jair Bolsonaro havia concedido aumento para membros da Polícia Federal.
“É só o setor público que vive nesse planeta mágico e encantador em ano de pandemia, discutindo um bilhão pra cá, um bilhão pra lá, Bruna?”, perguntou o Mathias.
“Paulo, que observação pertinente, porque é esse o mundo que a gente tem que ver. A gente ainda tem que comentar o orgulho ferido dos auditores da Receita Federal, sendo que a Receita é aquela que apresentou esse ano a pior proposta de reforma tributária que a gente poderia ter tido no Brasil”, começou a professora de Filosofia.
“Reforma tributária com a cara do pessoal da Receita Federal. Ainda bem que não foi aprovada lá. Ela nada mais foi do que um malabarismo pra manter a arrecadação. A Receita Federal tá preocupada com isso. E muitas vezes a malha fina é usada como pretexto para corrupção”, continuou a então funcionária da Jovem Pan.
“Muitos agentes da Receita, quando a pessoa cai na malha fina, eles ficam esperando a pessoa trazer um ‘presente’ para eles fingirem que não viram aquela sonegação. É assim que funciona a Receita Federal. Então, os auditores deveriam estar mais preocupados com a instituição em que eles atuam do que ficarem ofendidos que uma categoria ia receber aumento e a outra não”, acusou Bruna Torlay.
“Embora muitas pessoas já tivessem esperando que essa concessão à Polícia Federal criasse problemas para o próprio Bolsonaro, ontem a gente comentou esse aumento à Polícia Federal, e muita gente já começou a falar que os outros servidores vão criar problemas. Parece que não demorou”, provocou.
“De qualquer maneira, a Receita Federal, os agentes, atuam contra o cidadão. Porque eles simplesmente têm a tarefa de arrecadar a contribuição máxima possível para segurar esse leviatã voraz que vive das nossas energias. E ainda querem um aumento. Que lindo, né?”, concluiu a comentarista.
Confira o comentário de Bruna Torlay:
Processo na Justiça
A reportagem teve acesso a um processo aberto pelo Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil) e Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil) contra Bruna Torlay no Tribunal de Justiça de São Paulo. Os grupos pedem explicações da ex-Jovem Pan sobre os comentários.
Em 26 de janeiro, a juíza Luciana Piovesan, da 27ª Vara Criminal da Barra Funda, definiu um prazo de dez dias para que a ré apresentasse explicações.
Advogado do sindicato e da associação, Odel Mikael Jean Antun explicou que se trata de uma “ação preparatória para futura ação penal condenatória por crimes contra a honra, que poderá ser interposta caso ela não se explique satisfatoriamente”.
Outros lados
Questionada sobre a saída da funcionária e se houve pressão do órgão federal para tal, a Jovem Pan informou que não comenta assuntos internos da emissora.
Já Bruna Torlay declarou que sua demissão foi justificada por uma mudança no quadro de comentaristas do programa 3 em 1 e ressaltou sua boa relação com os agora ex-colegas. Além disso, a diretora da revista Esmeril disse que ainda não foi informada de nenhum processo, mas que atenderá qualquer demanda feita pela Justiça. Ela também publicou vídeo de despedida da empresa nas redes sociais:
https://www.instagram.com/reel/CZszEmDjbp1/?utm_source=ig_web_copy_link
Procurada pelo Notícias da TV, a Receita Federal respondeu com uma nota de repúdio às declarações da comentarista. Confira na íntegra o posicionamento do órgão de fiscalização tributária:
“A Receita Federal, enquanto instituição republicana inserida num regime democrático, está naturalmente sujeita ao controle social e a críticas, que contribuem para o aperfeiçoamento constante do órgão.
Entretanto, não foi isso que se observou na acusação genérica e desprovida de quaisquer provas proferida pela comentarista.
Assuntos relacionados à integridade, à ética e aos desvios funcionais são tratados com rigor máximo pela instituição, que possui uma das corregedorias mais atuantes do Poder Executivo Federal.
A chamada malha fina do imposto de renda é um mecanismo automatizado e, atualmente, aponta a irregularidade detectada para que o contribuinte, na grande maioria dos casos, possa se autorregularizar sem qualquer intervenção humana.
Portanto, diante da crítica desmedida, infundada e sem qualquer elemento probatório, a Receita Federal repudia veementemente as declarações emitidas pela profissional.”
Fonte: Notícias na TV
Créditos: Notícias na TV