O fim de semana registrou dois graves absurdos na Paraíba. Um no campo da segurança e o outro no campo da política, mas ambos com requintes de violência.
O primeiro foi à selvageria registrada numa praça do conjunto Renascer, em Cabedelo, onde bandidos dispararam contra crianças indefesas, matando uma e ferindo outras duas.
O fato por si só se constitui num absurdo, mas o caso é ainda mais grave. A repórter Anne Gomes, da TV Tambaú, captou, em gravações informais, queixas de mães de que a violência contra crianças só teria ocorrido em razão do chefe do grupo criminoso que domina a comunidade se encontrar preso.
Explicando melhor. Existem duas facções criminosas que dominam comunidades próximas. As duas são rivais. Quem defendia a comunidade onde o fato se deu era o líder criminoso preso. Sem ele, a outra facção teria invadido a comunidade e cometido a barbárie.
Sob qualquer aspecto, é inaceitável que o Estado permita que a defesa e segurança de uma comunidade sejam feitas por um chefe de facção criminosa e que outra facção mate criancinhas indefesas numa praça.
O fato atesta o que se convencionou denominar de falência do Estado, mas, sobretudo, reprova a gestão de segurança do governo Ricardo Coutinho.
Disputa política
Outro absurdo igualmente reprovável é o aprofundamento da briga entre o Governo do Estado e a Prefeitura de João Pessoa.
No fim de semana, o governador Ricardo Coutinho fez uma visita a um conjunto habitacional recentemente inaugurado pelo prefeito Luciano Cartaxo para ouvir queixas dos moradores sobre sérios problemas nas casas entregues. A Prefeitura, por seu lado, teria avançado na tentativa de cercar um terreno no trevo de Mangabeira e as estacas de concretos acabaram derrubadas.
Por trás de cada ação, cada lado saca argumentos administrativos. Há engodo nisso. A disputa assume cada vez mais conotação política.
A ida do governador ao conjunto Nova Palmeira, por exemplo, parece um troco contra a visita feita pelo prefeito Luciano Cartaxo às obras do Centro de Convenções na companhia da ministra Ideli Salvatti (PT) no último dia 13. Os dois lados estão errados.
No caso da Prefeitura, tecnicamente, há legalidade no embargo de obras sem licença e sem alvará, mas essa história do terreno no trevo de Mangabeira é mal explicada. É um erro que o Governo estadual queira realizar obras fora do padrão de regularidade, mas estranha-se, porém, que as duas ações da Prefeitura atinjam exatamente as obras importantes do Estado – a avenida Perimetral Sul e o Trevo de Mangabeira (o terreno em disputa serviria para entrada de um túnel).
Veja-se que o Governo depende dessas e outras obras para melhorar o desempenho nas eleições do próximo ano em João Pessoa. Criar o problema pode ser bom para o Governo pela divulgação e disseminação da ideia de que a gestão petista se posta contra e tenta atrapalhar.
Por outro lado, se o governo for efetivamente atrapalhado na realização de grandes obras em João Pessoa pode chegar em 2014 bem mais fragilizado eleitoralmente na Capital.
É estupidamente absurdo, pois, que os gestores que comandam o Governo e a maior Prefeitura do Estado usem essas duas instituições públicas para travarem disputa política. Isso também é uma forma de violência contra a sociedade.