João Pessoa, filial do crime

Amadeu Robson Cordeiro

O governo pode exigir empenho dos servidores públicos quando ele próprio fere os seus direitos, sonega sua valorização? Podemos culpar o Policial, o Delegado, o Professor, o Médico, o Defensor Público, o Auditor Tributário e tantas outras dignas categorias por sua falta de motivação? Claro que não, senhor governador. O retrato está estampado como foto 3 x 4, em preto e branco, nos seus últimos contracheques.
Pincelando este texto, relembro as sabias palavras do colega/irmão Manoel Isidro, presidente da FENAFISCO – Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital, quando do movimento em busca da manutenção dos nossos direitos: “A categoria estava azeitada”. Ou seja, Manoel queria transmitir ao governo e mostrar a sociedade que os Auditores Fiscais do Estado trabalhavam a todo vapor, municiando o governo de recursos para as suas demandas institucionais, nestas, instrumentos para uma segurança pública mais eficaz, principalmente na questão salarial. Diferentemente da ironia de que a arrecadação só serve para compra de cafezinho, gasolina e alguns biscates, hoje na repartição falta o café, o papel higiênico, e não é por falta de recursos não. Hoje o azeite secou, o vapor exaurido pela categoria não passa de uma chamuscada labaredinha de um velho, asqueroso e impotente isqueiro “bic” em seus últimos instantes de vida.
Adentrando ao tema do texto, creio que não se pode direcionar culpa aos policiais ou Delegados, quando o próprio Estado é o maior vilão na história.
A violência que vem tomando conta das noites pessoense assusta e causa indignação a todos. Esta cidade com sua beleza natural, com sua cultura e história, que até poucas décadas se podia prosear na calçada, caminhar a luz da lua sem a paranóia de poder ser molestado, vem sofrendo uma metamorfose e se transformando numa verdadeira filial do crime. Mas por que a violência optou por aportar em nossa cidade? É que o crime é uma atividade rendosa como qualquer outra. Busca oportunidades; tem suas estratégias; elege o território propicio para sua expansão.
O pessoense como todo bom paraibano, trás em sua cultura raiz, no berço da educação doméstica o estudo como meta de sucesso e realização familiar. Dos primeiros aprendizados no banquinho da escola à universidade, uma longa caminhada, diferentemente do que acontece na escola do crime que não precisa de vestibular. Como as facilidades são imensas, algumas pessoas optam por segui-la em função do sucesso, de se obter uma profissão com risco, mas, com menor concorrência.
A atividade criminosa organizada é como uma grande empresa. Procura regiões nas quais venha a encontrar facilidades para a sua implantação, benesse para poder enraizar, locais onde possa se misturar, implantando a sociologia, a psicologia e o planejamento para o crime. É triste constatar que nossa cidade foi cadastrada no CNPJ do crime; na Junta Comercial do sangue.
Esta mazela que nos torna refém do medo transforma-nos em toupeiras domésticas, pois, já não temos segurança no livre trânsito dos nossos filhos em irem à praia, ao Shopping, a universidade e, também nele, no trânsito, que por menor que seja a barbeiragem do volante, se revida com um 38 que pode matar seis.
Hoje, pai mata filho; filho mata pai. Do outro lado, um crime lento e danoso, ao se arquitetar institucionalmente nos pomposos gabinetes, atos preparatórios que se consumam com o desrespeito e injustiça a dignidade de categorias profissionais. É o crime que não jorra sangue.
Deixo para reflexão palavras do nosso governador: “Não andem em lugares escuros onde possa haver perigo”. Ou seja, amigos, fiquem atentos, pois não temos o privilégio de segurança e escolta policial, as vinte e quatro horas do dia.