Ironias de Ricardo desagradam aliados

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Nonato Guedes

Candidato à reeleição em 2014, o governador Ricardo Coutinho (PSB) tem se especializado em destilar ironias que desagradam seus aliados políticos e podem complicar a perspectiva de apoio às suas pretensões. Ele mirou, por exemplo, no deputado federal Ruy Carneiro, atual presidente do diretório regional do PSDB, insinuando que ele não tem autoridade para comentar declarações atribuídas ao senador Cássio Cunha Lima sobre o processo sucessório paraibano. Ruy tem operado como uma espécie de algodão entre cristais dentro do ninho tucano, buscando convencer o senador Cícero Lucena a absorver a hipótese de uma composição em torno da reeleição de Coutinho ao Palácio da Redenção. Por outro lado, o deputado federal tem sido alvo de elogios por parte do senador Cássio, pela forma conciliatória com que busca administrar conflitos no PSDB.

As insinuações de Ricardo causaram mal-estar nas hostes do PSDB. Cássio, por não ter interesse em alimentar polêmica ou divergência, evitou passar recibo publicamente, mas, no íntimo, não escondeu seu desapontamento, conforme fontes que lhe são próximas. O próprio Ruy Carneiro ficou abespinhado, considerando que houve ingerência indevida da parte do governador em outro partido. Cícero, por ter diferenças assumidas com Coutinho, não partiu para qualquer revide, mas é fato que não digeriu as colocações feitas pelo governador. Até deputados que se dizem aliados de Coutinho e militam no PSDB acusaram o golpe com a rebatida do chefe do Executivo. No mínimo, dizem que ele foi inconveniente e não soube agir com pragmatismo político. O governador não pediu desculpas nem atribuiu mal-entendido às suas colocações, o que reforçou a convicção de que ele estava lúcido e seguro quando fez tais digressões.

O que irrita Coutinho, profundamente, é a argüição da tese de que Cássio pode ser candidato ao governo do Estado pelo PSDB. O governador, de acordo com interlocutores, considera que se trata de um estratagema para lhe fazer chantagem e levá-lo a fazer concessões ao PSDB. Por isso, reage de forma incisiva a qualquer apreciação feita nesse terreno. Cássio já deixou claro que não pretende se candidatar ao governo porque seu projeto pessoal não passa por 2014, não porque tema suposto impedimento legal. “Se ele quisesse ser candidato ao Palácio da Redenção, teria adeptos não só no PSDB mas em outros partidos que fazem oposição a Ricardo Coutinho. Mas não é do seu estilo voltar atrás na palavra empenhada”, define um interlocutor muito próximo do senador, advertindo que ele tem acumulado “Senas” com o governador por causa do estilo difícil e personalista do socialista. Um caso emblemático bastante citado ainda é o do episódio em que Cássio foi ignorado por Ricardo no gabinete de um ministro da presidente Dilma Rousseff, em Brasília. “Ele (Cássio) engoliu em seco a desfeita do governador, mas anotou no caderno porque ninguém é de ferro”, assegura uma fonte muito próxima do senador.

As ironias de Ricardo atingiram, por tabela, o seu vice-governador Rômulo Gouveia, que deixou o PSDB, preside o PSD no Estado e tem compromisso com a reeleição do chefe do Executivo. Ao ser indagado por jornalistas sobre a admissão de Rômulo de que pode sair candidato a senador numa chapa com Ricardo Coutinho, o governador teria dito, em tom de galhofa: “Rômulo seria um graaande senador”. O tom enfático no adjetivo foi entendido como insinuação ou provocação ao ex-presidente da Assembléia Legislativa e ex-deputado federal. Até por causa do seu estilo, Rômulo também evitou passar recibo. Mas, igual a Cássio, anotou a observação na caderneta de anotações. Nos bastidores, o que se argumenta é que o poder subiu à cabeça de Ricardo, levando-o a deitar falação sempre que acha necessário, envolvendo quem quer que seja. Mas alguns aliados começam a prevenir que essa tática pode ser suicida para o projeto de Ricardo Coutinho. “Não somos do antigo Coletivo Ricardo Coutinho. Fomos parceiros em 2010 e pretendemos continuar mantendo a parceria em 2014. Mas temos nossos próprios líderes e nossos ídolos na atividade política”, desabafa um graduado interlocutor do esquema que teoricamente está fechado com o governador, alertando que há outros casos de desprestígio que não colaboram para a unanimidade pretendida por Ricardo no arco de forças que lhe dá apoio.