Insulto à inteligência

Rubens Nóbrega

O governador Ricardo Coutinho e o prefeito Luciano Agra inauguraram ontem a temporada de promessas de obras e investimentos na Capital, com o indisfarçado propósito de fazer imagem e tentar elevar os índices de intenção de voto em seus candidatos nas eleições deste ano.

Gosto Ruim acompanhou especialmente o anúncio de Sua Majestade. Ouviu pelo rádio o discurso do monarca e ao final comentou: “Na boa, véi, mas é muita cara de pau incluir nesse pacote obras iniciadas em governos anteriores, a exemplo do Centro de Convenções, do Artesanato de Tambaú e a Translitorânea”.

Concordo em parte com o meu amigo, mas compreendo a necessidade do governador de fazer qualquer coisa – nem que seja insultar a inteligência alheia – para deter a escalada de rejeição que ele empresta à sua candidata a prefeito de João Pessoa.

Gosto não aceita a minha ponderação, contudo. Acha que dessa vez o governante exorbitou na desconsideração, “porque se acha um gênio e pensa que todo mundo é idiota de cair nessa conversa mole do bilhão, grana que em sua maior parte vem de obras planejadas, licitadas, contratadas e iniciadas por governos anteriores”.

Parecendo mesmo indignado com o que ouviu, Gosto Ruim reclamou também do fato de terem lotado o Teatro Santa Roza com uma claque “arrebanhada para bater palma pro homem”. Retruquei dizendo que muita gente compareceu espontaneamente e saiu de lá acreditando mesmo nos investimentos anunciados.

“Claro, camarada, os aspones de contracheque alto têm mais é que acreditar. Se eu ganhasse o que eles ganham, sem trabalhar, teria chegado de madrugada no teatro, pra pegar assento na fila do gargarejo”, rebateu.

Sem mais argumentos, apelei. Disse que a manha de fazer solenidades do gênero não é exclusiva do nosso imperador. Lembrei que o rebelado súdito Luciano Agra, pra não ficar por baixo ou talvez por ter sido ensinado na mesma escola, também cometeu o seu anúncio de investimentos, esses da ordem de R$ 90 milhões.

O alvo ou a vítima de sempre desse tipo de declaração foi a comunidade do Timbó, que pela enésima campanha eleitoral consecutiva recebe juras de amor e garantias de que aquilo lá vai virar um paraíso em breve tempo.

De qualquer forma e sorte, não vamos ser tão rigorosos assim. Afinal, nada como uma campanha para vermos governantes tão empenhados em fazer o bem sem olhar a quem. E se fizerem 10% do prometido, cá pra nós, já será um ganho fantástico para toda a população da cidade.

Não é difícil. O percentual é bastante conhecido e praticado na realização de obras públicas. De um lado ou de outro, pode ser atingido sem maiores dificuldades.


A mobilidade de Agra

Quem disse que não existe mobilidade urbana em João Pessoa? Existe e muito. Presentemente, estamos assistindo, por exemplo, a uma intensa mobilidade e mobilização do prefeito na campanha eleitoral.

O alcaide consegue ainda uma mobilidade extra porque não precisa usar nem dirigir o próprio carro nos seus deslocamentos dentro ou pra fora da cidade. Além do quê, essa mobilidade adicional, da gasolina ao motorista, o contribuinte banca.

Existe também a mobilidade dos empresários de ônibus, que detêm o monopólio do transporte de massa na Capital e devem ter prestígio suficiente junto ao prefeito para impedir quaisquer alternativas para o setor, aí incluída a regularização dos alternativos.
Existe ainda a mobilidade quase parando do motorista que em João Pessoa se submete a congestionamentos por falta de ônibus confortável e rápido, de metrô, VLT, trem, barco ou ciclovia digna desse nome que anime deixar o carro na garagem.

Por último, mas não por fim, existe mobilidade urbana na tradução, por extenso, da sigla Semob. Que vem a ser outra cria do atual prefeito, que nessa matéria mais parece narrador de futebol pelo rádio.

Digo isso porque toda vez que ouço Luciano Agra falar de trânsito e transporte ele me deixa a impressão de querer passar pro ouvinte o que gostaria de estar vendo em campo, como fazem os melhores locutores do ramo.

Privatização é conversa

A Cagepa não será privatizada pelo atual governo, conforme já me garantiu a própria direção da empresa. De modo que manifesto mais uma vez minha estranheza diante do terrorismo que grupos organizados fazem em torno de uma privatização que eles sabem estar descartada pelo Ricardus I.

Não acredito que esse governo ou qualquer outro venha a vender a Cagepa. Com ela, através dela, é possível arranjar dinheiro emprestado muito, a perder de vista, e gastá-lo sem dar satisfações a quase ninguém, a não ser, talvez, ao acionista majoritário ou a algum conselho fiscal que a companhia possa ter.

Somente na gestão em curso, segundo ouvi o presidente Deusdete Queiroga dizer anteontem na Arapuan FM, a Cagepa já tomou mais de R$ 60 milhões. Que serão pagos tranquilamente. Pelos consumidores residenciais, lógico, que financiam inclusive o calote dos grandes e a complacência com que esses são tratados pela empresa.