BOLSOCOIN

Inspirada em Bolsonaro, moeda 'BolsoCoin' é usada até em troca de crimes virtuais

A criptomoeda é divulgada em fóruns na internet e apresentada como a primeira “da direita alternativa e neonazista do Brasil”

O ano eleitoral começou, e apoiadores de candidatos já fazem campanha das formas mais diversas possíveis. Supostos eleitores do deputado federal Jair Bolsonaro (recém-filiado ao PSL-RJ) escolheram um modo inusitado: a criação da BolsoCoin. Oferecida e divulgada em cantos pouco conhecidos da internet, a invenção é uma criptomoeda vendida por seus criadores como a primeira “da direita alternativa e neonazista do Brasil”.

A BolsoCoin é uma das milhares de criptomoedas existentes hoje no mundo. A modalidade é uma espécie de dinheiro virtual que utiliza a criptografia para garantir mais segurança em transações financeiras na internet e criar novas unidades da moeda, como em um investimento. A transferência de valores é feita de um usuário a outro, sem a interferência de instituições bancárias.

Nesse caso, existe uma particularidade: o uso do nome de um pré-candidato à Presidência da República. “O nome vem de Jair Bolsonaro, político brasileiro similar a [Donald] Trump”, descrevem os responsáveis pela BolsoCoin. A moeda é uma versão do Litecoin, que, por sua vez, é uma cópia do Bitcoin, o dinheiro virtual mais famoso do mundo.

Diferentemente das criptomoedas de investimento, no entanto, esta pode ter sido feita para fins mais nebulosos. Segundo a descrição apresentada pelos criadores, na internet, a BolsoCoin está sendo utilizada em fóruns anônimos de extrema direita como forma de pagamento para usuários que fazem doxxing ou swatting em favor da causa do grupo.

O primeiro termo faz referência à prática de conseguir e transmitir dados privados – principalmente de pessoas conhecidas – a terceiros. Muitas vezes, o doxxing leva a crimes de chantagem ou a tentativas de destruição da reputação da vítima.

Já o swatting é uma tática que consiste, basicamente, em passar um trote às forças de segurança. O hacker aciona os serviços de emergência e os envia à casa de uma pessoa onde não há ocorrência, com o objetivo de causar constrangimento.

Histórico conturbado
Formado em ciência da computação e ex-estudante de letras na Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Valle Silveira Mello já esteve envolvido em diversas polêmicas. Em 2005, ele foi processado após postar ofensas contra negros em um fórum na finada rede social Orkut. Em 2012, Mello foi preso durante a Operação Intolerância, da Polícia Federal.

À época, Marcelo foi acusado de manter um blog no qual postava ofensas a negros, homossexuais e mulheres. Uma das postagens, por exemplo, trazia um guia de como cometer um estupro. Ainda, ele era suspeito de ter planejado um suposto atentado contra estudantes da UnB. Em 2013, foi condenado a 6 anos e 7 meses de prisão em regime semiaberto – cumpriu apenas um ano efetivamente detido.

TV Globo/Reprodução

No ano passado, uma conta de e-mail com o nome Marcelo Valle Silveira Mello enviou mensagem ameaçando de morte o apresentador e jornalista Fernando Oliveira, mais conhecido como Fefito. O motivo do ataque seria homofobia.

Um dos sites onde a BolsoCoin pode ser armazenada on-line faz parte do domínio do fórum Dogolachan, atribuído a Marcelo Mello. Além disso, o nome psycl0n é, segundo internautas, um dos pseudônimos usados pelo hacker. Não foi possível confirmar, no entanto, se o autor da criptomoeda é realmente o ex-aluno da Universidade de Brasília ou alguém se passando por ele.

Até a última atualização desta matéria, a reportagem não havia conseguido contato com o deputado Jair Bolsonaro ou sua assessoria, nem com Marcelo Mello.

Moedas virtuais

O mercado de criptomoedas, como a BolsoCoin, tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Nessa modalidade, o usuário converte uma quantia de dinheiro real em virtual. A partir de então, pelo processo de “mineração”, é possível aumentar seu patrimônio on-line. Geralmente, os responsáveis por essas moedas prometem altos retornos em um curto espaço de tempo.

O negócio, no entanto, é polêmico e abre espaço para uma variedade de crimes virtuais. Desde vírus de computador visando às moedas virtuais a fraudes e esquemas de pirâmide. Um dos casos mais recentes no Distrito Federal foi o da Kriptacoin, que resultou na prisão de 13 pessoas em setembro do ano passado.

O grupo criminoso convencia pessoas a investir na moeda virtual, e quanto mais usuários fossem aliciados, maior era a promessa de retorno. Não havia, no entanto, dinheiro suficiente para pagar todos os investidores. Segundo a Polícia Civil, a organização criminosa movimentou R$ 250 milhões e pode ter atingido até 40 mil pessoas.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Preocupação do Banco Central

Em novembro do ano passado, diante do crescimento do mercado de criptomoedas, o Banco Central emitiu comunicado no qual alertava: “Não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não têm garantia de conversão para moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores. Seu valor decorre exclusivamente da confiança conferida pelos indivíduos ao seu emissor”.

Na sexta-feira (12), o Conselho de Valores Mobiliários (CVM) proibiu a utilização de moedas virtuais em fundos de investimento regulados. Para o especialista em venda de criptomoedas Richard Dantas, algumas medidas devem ser tomadas para garantir a segurança nesse tipo de transação.

“Primeiro de tudo, é preciso procurar uma corretora de confiança, como a BitcoinToYou, a Mercado Bitcoin ou a Foxbit. Elas exigem documentação dos usuários e contam com certa garantia nas transações”, ressalta.

Ainda de acordo com o especialista, é necessário ler sobre o assunto, pesquisar, saber quais são os perigos envolvidos na transação. “E, é claro, sempre tenha um antivírus instalado na máquina em que for fazer as operações”, acrescenta.

 

Fonte: Metrópoles
Créditos: Metrópoles