A INSINCERIDADE CAMPEIA

Por Gilvan Freire

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A crise que se abate sobre a candidatura de Veneziano, minando sua resistência e deprimindo seu emocional, abriu a temporada de negociações secretas entre vários segmentos partidários no Estado. O grosso da crise, porém, está dentro da coligação PMDB/PT, partidos que se toleram à força, por causa da pressão vinda das cúpulas das duas agremiações. Na convenção do PMDB, ocorrida em Brasília, semana passada, apenas 54% aprovaram a coligação para a reeleição de Dilma – o restante protestou. Ou seja: é um casamento forçado, movido a insinceridade, cujo resultado é o fracasso previsível, ao menos que Dilma reverta a tendência de queda, porque então funcionará o interesse no lugar do amor.

Na Paraíba, noutras eleições, a coligação entre o PMDB e o PT funcionou a contento, pois o PMDB votou inteiro em Dilma e uma parte do PT votou em Ricardo Coutinho, seguindo a liturgia de todos os anos em que o PT joga na oposição e no governo ao mesmo tempo, nunca ficando debaixo totalmente. Assim, ter apenas uma parte do PT trabalhando em favor da coligação é uma praxe nessas composições na Paraíba.

 

Agora, entretanto, depois que o PT elegeu o prefeito da Capital e engrossou o pescoço, passou a haver não apenas essas escaramuças entre os dois partidos, mas disputas mesmo, porque Luciano Cartaxo assumiu o papel de grande líder, a ponto de entenderem os petistas que já não era mais aquele tempo em que o PT pedia por favor uma vaga de vice na chapa do PMDB.

 

MAS É O PMDB QUE APRENDEU A TRAIR COM O PT AGORA, talvez movido pelo sentimento de revolta com os petistas por causa das afrontas que eles fizeram contra Veneziano, forçando uma intervenção branca do comando vermelho na orientação antes dada pelo diretório local, dominada pelo pessoal de Cartaxo. Da mesma forma fizeram os convencionais do PMDB em Brasília, por pouco não desaprovando a coligação nacional. É que, no PMDB, já são quase majoritários os que não acreditam na lealdade do PT e na vitória de Dilma, enxergando o fim da era estelar.

 

Todos sabem, dos dois lados dessa coligação meramente formal que se anuncia, que não há afinidades e sinceridade entre os partidários da aliança. Ou seja: é um casamento sem compromisso de fidelidade, cuja maior vítima é a candidatura de Veneziano, na qual nem acreditam hoje os petistas nem a maior parte do PMDB.

 

Essa fragilidade da candidatura de Veneziano, que não pode ser escondida sob nenhum pretexto, e que alimenta a frivolidade de todos os que estão com a cabeça a prêmio, porque disputam cargos dentro da coligação mal assombradaestá criando várias rotas de fuga e esconderijos, de tal sorte que cada agente engendra sua própria forma para sobreviver no processo.

 

É ABSOLUTAMENTE FACTÍVEL QUE O PRÓPRIO VENEZIANO VENHA PARTICIPANDO DE CONVERSAÇÕES DIRETAS OU INDIRETAS, objetivando criar suas próprias rotas estratégicas de fuga, porque ele sabe que a situação de sua candidatura está se precarizando, tanto a falta de densidade eleitoral quanto por causa dessa aliança movediça. Ele não está tendo prestigio eleitoral para se impor como candidato convincente e liderador.

 

As especulações sobre os entendimentos das várias correntes políticas entre si, tentando consolidar a hegemonia da candidatura de Cássio, a fim de ganhar o pleito no primeiro turno, ou para engrossar a oposição a Cássio, são absolutamente procedentes, e contam com muitos agentes importantes de todos os lados. Ainda não está descartada nem mesmo uma chapa partidária tipo Maranhão na cabeça, Veneziano vice, ou senador, e Luciano Cartaxo na outra vaga. Seria a revanche do século e uma válvula de escape para dona Dilma, que tem feito pela Paraíba o suficiente para receber por aqui a mesma homenagem que lhe prestaram as arquibancadas do jogo inaugural da Copa. Mas para que haja qualquer mudança, seja para qual lado for, o difícil será contar com a sinceridade dos líderes. Essa morreu antes deles.