Sátira e irreverência são a quintessência do Pacotão, um dos sete blocos tradicionais do carnaval do Distrito Federal. As melodias costumam fazer chacota com os principais acontecimentos políticos do país. Em 2014, a cabeleira reforçada de Renan Calheiros (PMDB-AL) foi o alvoroço entre os compositores, sendo o assunto mais citado nas músicas que, até agora, se candidataram à honra de ser hino oficial do bloco (veja Na boca do povo). No cardápio da ironia, tem pizza sabor infringente e resort na Papuda. Nem anão morto tem descanso, que o diga Nelson Ned.
As inscrições terminam no próximo dia 22 e a vencedora será conhecida em 25 de janeiro, após as deliberações abertas a partir das 14h na comercial da 408/409 Norte. “Não é bem uma votação democrática”, esclarece José Antônio Filho, o Joanfi, um dos organizadores do bloco. A aclamação popular conta e muito, mas quem bate o martelo é Charles Preto, o comandante soberano e todo-poderoso da Sociedade Armorial Patafísica Rusticana — o nome completo do Pacotão. Tem sido assim há 36 anos, desde a primeira vez que o “bloco de sujos” invadiu a W3 pela contramão.
O uso de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar o presidente do Senado, Renan Calheiros, a Recife no intuito de realizar um implante capilar foi um prato cheio para os letristas interessados em compor os temas desta edição. “A FAB levou um careca / E trouxe um cabeludo / E foi o zé povinho / Que acabou pagando tudo / Bota o cabelo da testa / Tira o cabelo da nuca / Ficava mais barato / Ter comprado uma peruca”, reclama a marchinha de Cesar Palvarini.
“Diz a Bíblia que a força de Sansão está nos cabelos / O que fez Renan? / Foi pro Recife / Onde implantou 10 mil pentelhos”, entoa o refrão da música escrita pelo jornalista Cicinho Filisteu, 73 anos, que não revelou toda a letra. Fundador e autor de dezenas de marchinhas, ele é fiel ao espírito original do coletivo. “Não tem como escapar da sátira política. É o motivo principal do Pacotão. Vamos falar da Fifa metendo o bedelho em tudo, vamos falar do Joaquim Barbosa, dos mensaleiros presos, do implante do Renan”, adianta.
Correio Braziliense