Imensa pouca vergonha

Rubens Nóbrega

Vou logo adiantando o meu pedido de desculpas. Peço aos leitores paciência e condescendência. Pelo menos por hoje.

Rogo para que tentem compreender a razão do que vou dizer, porque vou dizer de público que estou passando por um momento muito difícil em que se juntam e se misturam no meu íntimo dois sentimentos muito ruins.

O primeiro sentimento é a vergonha. Vergonha, sobretudo, de ver a minha Paraíba tão maltratada, tão subtraída, tão sem rumo, tão sem perspectiva. Vergonha de sentir que muitas pessoas de bem que conheço estão sentindo a mesma coisa e sentem vergonha ou medo de dizer.

Vergonha de não ter a palavra mais certa para encorajá-las a ter esperança de que isso vai passar. Apesar de tudo. Apesar de quem nos faz tanta vergonha. Vergonha de não enxergar nem poder apontar alguma saída sequer no médio prazo. Vergonha de assistir à força do poder e ao poder da corrupção dando aparência legal à roubalheira de longo prazo, e à vista de todos.

Já o segundo sentimento ruim que se instalou feito posseiro na minha alma é a sensação de impotência ou de inutilidade. Sinto-me inútil e sem forças para fazer como faria aquele poeta mais otimista, que nos ensinou a cantar no escuro. Pra quê? Se poucos ouvem e quase ninguém presta atenção no canto daqueles que querem a luz…
Perdoem-me, mas é que me bateu esse desânimo medonho, arrasador, desses que fazem a gente desacreditar por completo na raça humana.

Até por que a gente olha pra trás e constata que foi justamente a maioria dos nossos conterrâneos que nos empurrou para esse abismo, que nos colocou nessa encruzilhada.

Bem, devo parar por aqui. Antes que vocês desistam de mim. Antes que eu desista de me agarrar à réstia de possibilidade de alguma coisa acontecer.

Alguma coisa que me devolva a mais justificada expectativa de que essa mesma maioria perceba a besteira que fez e dê o troco na próxima.

Alguma coisa que me convença de que chegará a hora de a gente acabar com essa agonia e dar um fim à imensa pouca vergonha que tomou conta da Paraíba.


Porque pararam obras em 2010

Expus esta semana o que me parece ser uma estratégia muito evidente do Ricardo I: repor perdas salariais dos servidores em ano eleitoral (2012) ou pré (2013) e, enquanto a eleição não vem, tocar, concluir e inaugurar obras planejadas, projetadas e licitadas, com recursos assegurados por antecessores.
Mas observem que nessa de meio que fazer ‘caridade’ com o chapéu alheio, o governante atual atribui tudo o que encontrou de ruim ao Maranhão III, de quem não reconhece sequer o mérito de ter destravado o empréstimo de U$ 100 milhões que lhe permite hoje asfaltar estradas fazedoras de voto no interior.
Nesse ‘tudo de ruim que encontrou’ estão algumas obras paradas em 2010 e o monarca a ela se refere como se tivessem parado por deliberada ruindade de Maranhão, quando sabe que as razões da paralisação são bem outras. As razões são essas que exponho adiante com texto e dados solicitados ao Doutor Francisco Jacome Sarmento, ex-secretário de Infra e Recursos Hídricos do governo anterior. Confiram.
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O que aconteceu com o Programa Novos Caminhos (formatado no governo de Cássio Cunha Lima e deflagrado no governo de José Maranhão, com dois terços financiados pela Corporação Andina de Fomento – Caf) foi o seguinte:
1) em agosto de 2010, o Estado apresentou toda a documentação prevista em contrato para o recebimento da primeira parcela do empréstimo da Caf (pleiteava-se aproximadamente 20 milhões de dólares);
2) seguiu-se então a análise dos projetos enviados à Caf e, nesse interregno, deu-se o primeiro turno das eleições;
3) como se sabe, o resultado foi adverso para o governo de então e após os resultados do primeiro turno deu logo para perceber sutis mudanças de comportamento dos interlocutores da Caf;
4) após o segundo turno, não posso confirmar, mas várias pessoas, inclusive jornalistas, mencionam visita do governador eleito à representação da Caf em Brasília (também noticiou-se visita ao BNDES, instituição também credora do Estado);
5) com a derrota nas urnas – isso posso assegurar – deu-se uma nítida mudança no trato da Caf para com o governo, pois surgiram exigências e obstáculos antes inexistentes e não tardou ficar claro que nenhuma parcela seria liberada para o governo cuja validade expirava em 31 de dezembro de 2010;
6) sendo tal situação de certa forma previsível, todas as empresas cujos contratos dependiam dessa parcela de recursos estrangeiros aproveitaram para dar férias coletivas ou remanejar máquinas e operários para outras obras.
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O mais os leitores podem deduzir facilmente: entronizado o novo governante, os recursos fluíram e começou o festival de assinatura de ordens de serviço, algumas até para obras que faltavam pouco ou quase nada para serem concluídas.