Imbroglio chamado Santiago

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Paulo Santos

O casamento da fome com a vontade de comer, em política, é tão antiga quanto a própria humanidade.

As situações para essa união mudam de palco, de circunstâncias, cenários, personagens e perspectivas. Uns precisam mais e outros menos, mas o normal é que os dois alIados vejam equivalência na quantidade do desejo mútuo.

Agora mesmo, no cenário político paraibano, está aberta a temporada de conquistas entre dois grupos que necessitam firmar aliança, precisam casar seus interesses para 2014, têm que fazer frente a adversários poderosos e precisam andar de braços dados se quiserem ultrapassar algumas barreiras eleitorais.

O governador Ricardo Coutinho – que vai em busca da reeleição no pr óximo ano – precisa do condomínio político construído pelo ex-senador Wllson Santiago, recém-desprezado pelo PMDB e o líder de Uiraúna, defenestrado da maior corrente de oposição no Estado, precisa do esquema governista para se recuperar dos infortúnios recentes.

O problema está na desigualdade dos tratamentos entre os nubentes. Nada impede que Santiago, agora falando grosso como recém-empossado presidente estadual do PTB, possa compor a base governista e, atrelado a ele, um considerável número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, além da estrela de primeira grandeza nessa galáxia que vem a ser o deputado federal Santiago Filho.

Ricardo Coutinho, porém, não precisa de muito esforço para ter Santiago como aliado, mas terá sérias dificuldades para conter a sofreguidão do ex-senador desejoso de voltar a cam inhar nos carpetes da Casa que hoje abriga Cássio Cunha Lima, Cícero Lucena e Vital Filho.

E a “chave” desse imbróglio atende pelo nome de Cássio Cunha Lima. Santiago dorme e acorda pensando na candidatura senatorial em 2014 e muitos aliados do líder do clã Cunha Lima – Cícero Lucena, Rômulo Gouveia, Ruy Carneiro e Efraim Moraes, entre outros – também se imaginam chegando ao mesmo paraíso para um mandato de oito anos.

No melhor estilo Cássio, o senador campinense entrou em campo recentemente e já foi distribuindo cotoveladas em Santiago, marcando território para seus aliados em postos-chaves, como é caso da cadeira de Cícero em Brasília e/ou a vice-governança de Ricardo no pleito de outubro do próximo ano.

A confusão está formada antes mesmo de Santiago formalizar um possível casamento político com Ricardo e tende a crescer à medida em que prazos e estratégias começam a correr e ser discutidas. O ex-senador seria considerado, na linguagem do futebol, como jogador dispensado por um clube e contratado por outro por valor relativamente menor.

A essas alturas do campeonato ninguém avalia o peso da perda do PMDB para a eleição de 2014, mas sim o quanto pesa atrair o grupo de Santiago para o Governo e obsequiá-lo com uma vaga na chapa majoritária, inclusive porque o governismo poderá ter pesos pesados, pesos médios e pesos leves no ringue, daqui a um ano e meio. Dizem que ninguém dança com marcha nupcial. Em política, em certos casamentos, alguém “dança”.

PONTO FUTURO

Um passarinho, que costuma bisbilhotar os meandros da política, sussurra aqui ao lado que o arquivamento de quatro pedidos de CPIs na Assembleia Legislativa da Paraíba, por recomendação da Procuradoria da Casa, não foi em vão nem agrado ao Governo e outras instituições. Além do aspecto da inconstitucionalidade das propostas feitas por deputadas e deputados há, ainda, a necessidade de esvaziar a pulverização e aguardar o momento certo para tocar adiante a CPI da Granja Santana. A pequena ave sabe que um conselheiro do Tribunal de Contas avalia os relatórios governamentais com lupa.

SUPERIORES

A indicação do advogado paraibano Walter Agra para o Conselho Nacional do Ministério Público ensejou ao seu colega Marcos Pires uma observação quase profética: “Pelo andar da carruagem, nos próximos cinco anos a Paraíba voltará a frequentar as listas de candidatos a ministros de tribunais superiores, coisa que há muito não acontece”. O também advogado Carlos Frederico, do escritório de Roosevelt Vita, provavelmente pode ser o próximo a ostentar uma indicação para importante cargo federal na sua área de atuação.