II Reich, o Fisco, a Lei

Amadeu Robson Cordeiro – Auditor Fiscal

Como dizia Joseph Goebels, ministro da comunicação de Hitler, o grande mentiroso convence primeiro a si próprio, e mentiras insistentemente contadas tornam-se verdades, infelizmente. O resto da história da dupla todos conhecemos. Aqui na Paraíba, terra plural em religiosidade e miscigenação, estamos literalmente vivenciando uma espécie maquiada de um II Reich. A Gestapo, a SS nazista e o famoso ministro/ariano, até parece terem espiritualmente incorporado e, em pleno século XXI, trajando indumentária governamental, ousam em investir pesadamente nos combativos Auditores Fiscais da Receita, que buscam corajosamente a manutenção dos seus direitos.

Sabemos que numa batalha muitos saem feridos e que outros tantos poderão cair e sangrar nas valas e trincheiras do tempo, sentenciados a conviverem em guetos tributários, tudo por afrontarem com bravura a tirania do poder. Nesta batalha colegas, não existe a Lista de Schindler, nem tão pouco um plano de fuga. É continuar a nossa boa luta. Ordeira, respeitosa e disciplinada, ou estaremos fadados no tempo ao desrespeito funcional, minados estruturalmente em um campo de concentração do coletivo, sob a espreita de floridos e vigorosos girassóis. Mas tenham a certeza de que todos já estão com os nomes escritos no pergaminho da história do Fisco paraibano. Todos fizeram e estão fazendo a nossa história.

Conhecemos o nosso Estado do litoral ao sertão. Nele labutamos no nosso dia-a-dia, trabalhando em Postos e Comandos Fiscais, enfrentando as adversidades estruturais e os múltiplos desafios da função, buscando, enfim, arrecadar e angariar recursos em prol de toda uma população. Superamos metas. Todas as metas. Hoje, tentam inverter estas verdades, vendendo e distribuindo mentiras, alicerçados na hipocrisia e no cinismo, acreditando ser o nosso solo fértil e bem agricultável na arte do ridículo. Estão enganados.

Hoje já não podemos mais deixar construir sociedades a rigor, para “mamutes” políticos, dominadores de mentalidades, senhores poderosos, intocáveis, à semelhança dos tempos mais deprimentes da história da humanidade.

Sabemos que a Paraíba tem presenciado ultimamente certos acontecimentos que, creio, sempre constrangem um alguém, ou mesmo toda uma sociedade. Sim, principalmente quando esse alguém é uma coletividade, uma representatividade, um grupamento de interesses legítimos que digladiam numa luta desproporcional com o Grande Poder.

Portanto, muitas vezes tento me questionar: a greve do fisco foi judicialmente declarada legal, mas, até onde vai o limite do poder? Até onde a batuta ditatorial de alguns subalternos entronados, tem o poder de sentenciar, mesmo sem a toga de magistrado, julgando o certo como errado, o errado como certo?

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, retrata os vários tipos de principados, e de como se governa um estado. Como dito, o que mais chama a atenção é que mesmo sendo um livro, muito antigo, se enquadra perfeitamente no cenário atual.

O que vimos na história passada é que quanto mais se ampliava o leque de injustiças, sob o mando de incompetentes que se agasalhavam nas axilas do poder, mais e mais o cidadão tendia a achar que era melhor ele mesmo fazer justiça. E aí, voltava a práticas medievais – como a das milícias privadas – que necessariamente já se encontram sepultadas.

Apenas como ilustração, deixo este pensamento: O grande líder indiano Gandhi certa vez recebeu uma mulher em sua casa e esta pediu conselhos ao líder, querendo saber como fazer para seu filho parar de consumir açúcar. Gandhi pediu para ela voltar três dias depois. Ela retornou e finalmente o mestre lhe deu o conselho. Ela perguntou por que ele não dera o conselho antes, ele disse que primeiro precisava saber se agüentaria ficar sem comer açúcar durante um tempo para então poder dar-lhe o conselho.

A lição de Gandhi é que antes de cobrar atitudes dos outros, antes de omitir a verdade, antes de se julgar soberano e acima da lei, você deve olhar para si mesmo e observar atentamente seus atos. Gandhi precisou de apenas três dias, aqui na Paraíba já se vão trinta e sete. Com certeza o errado é Gandhi, não acham?