Houve um tempo em que o papa, lá nos idos da Idade Média, cobrava a indulgência. O que é isso? Um valor que Vossa Santidade estabeleceu para perdoar pecados diversos tais como a gula, o palavreado de baixo calão, inveja, ira e até o adultério. Tudo poderia ser perdoado desde que houvesse arrependimento sincero, confissão ao líder da Igreja e, claro, dinheiro. Os tempos hoje são outros. São? Claro que não. Dá uma passadinha só na Igreja Evangélica Assembleia de Deus (não confundir com a Assembleia tradicional) onde não os pecados, mas os desejos, são igualmente cobrados em reais.
E, em tempos de Internet, o sonho pode ser satisfeito em valores modestos. Por exemplo: que tal ficar de bem com a família? Acabar com os conflitos entre cunhados, noras e sogra que muitas vezes por destroem a harmonia do lar o almoço de domingo? Não é pouca coisa, né? E tudo isso estará ao alcance do fiel por módicos R$ 10.
Saúde? Uma pechincha. Sem fila, Plano ou SUS, aquele que crê na graça do pastor a alcançará com garantia por R$ 20. O equivalente a um tubo de dipirona. Nada mal! Dependência Química, considerada o mais grave problema social do milênio, não passou desapercebido pelos dirigentes da Evangélica: Por R$ 50 eles podem tirar um filho, marido ou o cunhado folgadão do vício do crack, maconha ou cocaína.
E, por fim, as pendências judiciais. Aquelas que se arrastam por anos como as causas trabalhistas, divórcio, pensão dos filhos e herança. Cem reais e a propalada burocracia do Judiciário, onde juízes pernoitam sobre processos intermináveis e os atos de ofício se impõem como pedras no caminho, tudo estará resolvido.
Mas não pense que os milagres a serem alcançados ficam por aí. Há uma outra lacuna, na cartela distribuída na Igreja, que está livre para “outros” pedidos – aqueles mais difíceis aos quais nem a criatividade cristã pode antever. A estes o valor a ser ajuizado também permanece em branco. Tudo será combinado entre as partes em uma conversa em separado entre o fiel necessitado e o pastor dotado do milagre já agendado com Deus.
Este escriba já prepara seus tostões para uma visita à Igreja Evangélica Assembleia de Deus. “Quanto vai me sair um título nacional para o Botafogo, hein?”
Fonte: Conexão jornalismo
Créditos: Fábio Lau