Ibope ajuda Estelizabel

Rubens Nóbrega

Nunca joguei no time daqueles que com frequência e facilidade ou por encomenda tentam desacreditar institutos de pesquisa de opinião que têm tradição, reputação estabelecida e boa clientela garantida.
Não porque goste deles, mas por saber que seus donos e executivos são inteligentes o suficiente para não matar a própria galinha dos ovos de ouro. Não quer dizer, contudo, que não possam cometer erros grosseiros, feito esse que o Ibope cometeu anteontem.
Só não acredito na versão de fraude e armação deliberada que o governador Ricardo Coutinho, seus seguidores e bajuladores midiáticos deram a essa parvoíce ibopeana. Tanto que aposto como as inteligências medianas compreendem que o esforço ricardista não passa da mais previsível e descarada tentativa de convencer incautos.
Querem convencer que um instituto do tamanho e da importância do Ibope veio a João Pessoa com o propósito previamente acertado de prejudicar uma candidatura a prefeito feito a de Estelizabel Bezerra, do PSB. Mas não convencem.
Não convencem porque a pretensa prejudicada é uma candidatura que vinha patinando em praticamente todas as pesquisas e amargava ou ainda amarga a lanterna na disputa com os principais postulantes ao cargo. Não convencem porque a candidatura mal conseguia encostar nos dois dígitos de intenção de voto, mesmo após três meses de rica e intensa campanha.
Definitivamente, o Ibope não prejudicou a candidata do governador. Pelo contrário. Deve ter dado o maior gás a Estelizabel, que em retribuição deveria agradecer ao instituto, ao acaso ou ao pessoal contratado para fazer a pesquisa na Capital.
Afinal, o episódio a transformou em vítima, papel que em campanha eleitoral sempre ajuda a angariar pena, simpatia e votos. Que faça bom proveito, então. É direito dela assim proceder.


Pau e machado se arriscam

Corre risco grande quem se empenha premeditadamente na desqualificação das pesquisas de opinião pública, só porque nelas o candidato ou candidata do desqualificador não se dá bem nas intenções de voto.
O descrédito acaba contaminando as pesquisas em geral, derrubando, inclusive, a serventia daquela encomendada ou comprada pelo padrinho e grande eleitor para alavancar campanha de candidatura estagnada ou em baixa.
Risco igual ou maior corre também quem esquece que pesquisa reflete o momento e por não se lembrar disso acredita que o índice obtido em certo momento permanecerá imutável até a eleição.
Pior do que acreditar é dormir sobre os louros de pesquisa favorável no meio da campanha. Zé Maranhão que o diga. Em 2010, faltando dois meses para a abertura das urnas, o então governador detinha efetivamente uma liderança folgada na preferência do eleitorado.
Diversos institutos, Ibope incluído, atestavam a vantagem de Maranhão naquele momento da campanha. E foi nesse momento que o candidato do PMDB ou seu comando de campanha resolveu economizar e subestimar o adversário.
Deu no que deu. Abandonados ou esquecidos pela cúpula maranhista, cabos eleitorais, correligionários, aliados e candidatos proporcionais foram cuidar da própria vida, de suas candidaturas e campanhas.
Na reta final da maratona, o cada um por si e Deus por todos virou um Deus nos acuda para Maranhão. Enquanto isso, Cássio Cunha Lima pegava Ricardo pelo braço para levá-lo a todos os cantos e recantos da Paraíba e daí à vitória.
O governador e as máfias

Apresentando-se com o crachá de @realrcoutinho no Twitter, o governador postou anteontem à tarde no microblog o seguinte comentário: “A mafia das pesquisas manipuladas sempre teve terreno fértil aqui na PB. O fundamental é saber quem é o corrupto e o(s) corruptor(es)”.
Ao tirar casquinha da pixotada do Ibope para dizer que o instituto estaria prejudicando a sua candidata a prefeito da Capital, Sua Majestade também cometeu uma pixotada, embora de natureza semântica.
Foi quando se referiu à suposta “máfia das pesquisas manipuladas”. O monarca empregou inadequadamente a palavra “máfia”. Empresas que fazem pesquisa de opinião podem eventualmente ser dirigidas por mafiosos, mas não conseguem formar uma máfia.
Não conseguem porque máfia significa “qualquer associação ou organização que, à maneira da Máfia siciliana, usa métodos inescrupulosos para fazer prevalecer seus interesses ou para controlar uma atividade”. É o que diz o Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Máfia tem, portanto, sentido (e formação) de grupo, quadrilha, cartel…
No caso dos chamados institutos de pesquisa, eles não têm como nem porque compor uma máfia porque são inevitavelmente concorrentes. Não agem em bando. Ao contrário do que fazem, por exemplo, a Máfia do Lixo, a Máfia da Merenda Escolar, a Máfia da Propina…