Histórias: Futebol e Avião(Parte V)

Bruno Filho

Na Copa do Mundo da Suécia, o Brasil montou uma equipe com jogadores já experientes e outros jovens, que sairam daqui como reservas,mas que depois da segunda partida ganharam a posição de titulares e assim ficaram até o final do torneio, entre eles Mané Garrincha,nosso “Anjo das pernas tortas”.

Ano de 1958.Depois de uma campanha exemplar, o Brasil volta com o troféu e até hoje é o único sul-americano que conseguiu ganhar um título em campos europeus.Revelou gênios e abriu caminho para o respeito,que se hoje está meio abalado ainda existe.

Na delegação, um negro forte, rápido, hábil e simpático.Amigo de todos e que não jogava, era o massagista.O lendário Mário Américo,tri-campeão do mundo e que fez escola entre os profissionais do ramo.Foi o “Pelé” da massagem e conviveu amistosamente com todos os craques que estiveram nas suas mãos.

Com Garrincha não foi diferente. Mané passou muito tempo com Mário, pois tinha dores horríveis no joelho,jogava quase sempre infiltrado, à base de medicamentos e precisava passar noites e noites com o profissional, para poder jogar no dia seguinte.

Mário conhecia Garrincha como niguém.Astuto,sabia da ingenuidade do artista e da simplicidade deste que foi considerado o maior gênio dos campos de futebol, depois de Pelé,e para muitos foi o maior.Era um Neymar melhorado 100 vezes, imaginem !

Garrincha gostava muito de beber umas e outras , gastar seu dinheiro nos cabarés e comprar um monte de besteiras.Numa das folgas que teve na Suécia foi a uma loja e convencido pela vendedora,comprou um rádio transistor que na época era uma novidade,os nossos eram ainda à base de válvulas.

Deve ter pago talvez uns 20 dólares se tanto.Mário Américo viu aquilo e ficou quietinho, esperando a hora de dar o bote em Mané.Chegou o dia da viagem de volta e já dentro do avião, para não dar tempo de reação,Mario se aproxima de Garrincha,sempre ao lado de Nilton Santos seu mentor e diz…

“Mané quero te ajudar…quero comprar o teu rádio, esse ai que esta na sua mala”…Mané retruca e diz:”Não vou vender coisa nenhuma, esse vou levar para ouvir no Brasil”…o massagista escolado responde: “Compro por 10 dolares agora,quero te ajudar…”

O ponteiro cismado,começa a ficar encafifado e diz: “Quer comprar pela metade do preço ? não sou idiota, não vou perder dinheiro”…no que Mário retruca:”Vai sim,esse rádio só fala em sueco e voce não vai entender nada do que ouvir lá no Brasil”.Mané, do alto de sua ingenuidade, e confirmando que na verdade não tinha entendido nada até ali…

Vira-se para Nilton Santos,seu gurú para ter uma certeza, e Nilton,entrando na brincadeira, balança a cabeça como autorizando a venda e dando razão à pilheria de Mario Américo.O sorridente e realizado massagista,rapidamente saca de seu bolso uma nota de 10 dolares e paga Mané.

Depois das gozações, Mané não quis o seu rádio de volta.Aceitou a brincadeira do amigo. Era simples e bom demais para brigar com alguém.Talvez brigasse se fosse um passarinho ou uma garrafa de cana.Deixou seguir assim mesmo,afinal Mário sempre esteve ao seu lado nos piores momentos.

E Mário, por sua vez,ganhou muito dinheiro dos bichos que Mané arrancava nas partidas em que decidiu e foram muitas.Não seriam os 10 dólares que os separariam.Eram companheiros.Mané só queria ser feliz.Não conseguiu.Fez a alegria de milhões e morreu sózinho.Mário também já se foi.

Bruno Filho,jornalista e radialista,graças a Deus viu Mané ao vivo.Um espetáculo !

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