Histórias: Futebol e Avião(Parte III)

Bruno Filho

O Santos da década de 60, era o principal time do planêta e viajava pelo mundo inteiro fazendo excursões para arrecadar dólares e manter na equipe o maior de todos os tempos,”Sua Majestade” o Rei Pelé, chegou a jogar 100 partidas num ano pelos 4 cantos do mundo.
O ano era 1962. Campeão do Mundo Interclubes, depois de vencer o poderoso Benfica na final, a equipe de Vila Belmiro preparava-se para uma excursão à Africa,aonde faria uma série de jogos amistosos.Na delegação,o jornalista Otavio Munis, meu pai, convidado a acompanhar o clube em campos africanos.
Amigo dos jogadores, tinha em José Macia, o grande Pepe,um companheiro inseparável.Aliás,Pepe que é o maior artilheiro da história do Santos,tendo marcado 405 gols.Como ele mesmo diz,Pelé não conta, trata-se de um ser extra-terrestre,então ele se auto-intitula o primeiro.
Aquela tradicional rota,Rio-Recife-Paris-Dakar, chegando ao Senegal,a porta de entrada do Continente Negro.Naquela viagem,mesmo sendo espirituoso e contador de histórias Pepe estava calado.Não havia o que fazer no avião, a não ser as palavras-cruzadas, ou no máximo um baralhinho para jogar.
A música não era boa, aparelhos eletrônicos não exisitiam e filmes,só em rôlos, também eram raros.Então,ou conversava ou dormia,mas dormir não era com Pepe.Agitado, cutuca papai e diz:”Tatá, temos que inventrar alguma coisa para passar o tempo”.O velho responde: “Mas o quê ? O avião está no escuro…vamos dormir”.
Já sei, retruca o “Canhão da Vila”, que era seu apelido:” Vamos jogar Pum…”.Espantado,curioso e sempre disposto a um novo aprendizado,Munis aceita e responde:”Como é isso ?”. E Pepe feito um professor ensinando algo de química ou física ,mas na verdade matemática explicou…
Vamos começar a contar os números e a cada vêz que chegarmos a um 4 ou múltiplo de 4, trocamos o número pela palavra Pum. Num rápido aquecimento começam a brincadeira.”Agora é sério, valendo, vamos lá, profetiza o inventor” e assim surgiu o passatempo…
 Número 1,começa Pepe,2 responde Munis,3 diz Pepe,Pum responde Munis, e assim engajados e atentos continuam 5,6,7,Pum,9,10,11,Pum,13,Pum,15,Pum.Reza a lenda que foram até mais de 1000, revezando-se na palavra Pum.Não acredito que tenham ido tão longe sem se confundir.
O que sei,é que o avião inteiro acordou para acompanhar o desafio que tornou-se o programa divertido da longa viagem.Até hoje Pepe se lembra disso,na ultima vez que o encontrei seus olhos se encheram de lágrimas assim como os meus.Isso foi há 50 anos atrás.
Com isso, a brincadeira chegou na minha casa é claro, e divertiu a mim e aos meus irmãos por noites e noites ao lado de nosso grande idolo.Sou bom de tabuada até hoje, agradeço muito a invenção de Pepe.Quem sabe voce que esta lendo não tenha achado um metodo de ensinar seu filho ?
As crianças na sua maioria detestam tabuadas.Faça a experiência, e crie uma nova palavra se quiser.Fica a seu critério, e o número base também pode ser qualquer um,talvez seja mais fácil começar com o 5, me parece que para os menores é mais fácil de aprender.
Esse é o mundo do futebol,repleto de dinheiro e de histórias infantis.Hoje, não há mais isso, as pessoas quase não se falam,ficam presos aos seus computadores e outras máquinas e nem conversar quase conversam.Cada um no seu tempo,mas é bom resgatar coisas do passado.
As histórias também diminuiram muito.As viagens já não são tão longas.Não há mais excursões de times de futebol, acabou essa época.E o principal…os contadores de história estão morrendo,estão acabando,pois as pessoas hoje não falam entre elas, apenas teclam,curtem e compartilham.
Bruno Filho,jornalista e radialista,que desafia qualquer um na brincadeira do Pepe.Estou pronto !
Twitter:BrunoFComenta