Há quatro anos, Cássio deixava o governo

Cássio Cunha Lima

No dia 17 de fevereiro de 2009, o Tribunal Superior Eleitoral decretou a cassação dos mandatos do então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, e do seu vice, José Lacerda Neto, acatando recursos impetrados que apontavam conduta vedada e abuso de poder político e econômico nas eleições de 2006. A decisão recomendava que Cunha Lima (PSDB) e Lacerda, então filiado ao DEM, hoje no PSD, deixassem imediatamente os cargos, abrindo espaço para a investidura de José Maranhão (PMDB), segundo colocado no pleito de 2006, e para Luciano Cartaxo (PT), que integrara a chapa como vice. A posse de Maranhão e Cartaxo deu-se no dia seguinte.

Cássio recorreu até o último instante para permanecer no Palácio da Redenção, apresentando sucessivos embargos declaratórios que foram submetidos à apreciação do TSE. O PSDB nacional também se movimentou no sentido de preservar o seu mandato, alegando que eram insustentáveis as acusações de abuso de poder e de ilegalidade cometida durante a campanha. A Assembléia Legislativa, então presidida por Arthur Cunha Lima, primo de Cássio, impetrou uma ação nas esferas judiciais em Brasília pedindo a convocação de eleições indiretas para completar o restante do mandato de Cássio e a conseqüente suspensão da posse de Maranhão. A iniciativa não foi acolhida, porém, pelos doutores da Lei. Arthur ainda se licenciou do cargo de presidente da Assembléia para assumir interinamente o cargo, com a renúncia de Cássio. O já ex-governador, enquanto isso, dizia ter sido vítima do maior erro judiciário na história do país e suplicava uma reavaliação do caso, inutilmente.

Cauteloso, Maranhão, que exercia o mandato de senador, somente renunciou na undécima hora, temeroso de que houvesse reversão por meio de decisão extraordinária, em último grau, pelo Supremo Tribunal Federal. A investidura de Maranhão deu-se de forma tumultuada, numa cerimônia presidida pelo deputado Ricardo Marcelo, que era o primeiro vice-presidente da Assembléia e ascendeu à titularidade com a posse provisória de Arthur no Executivo. Maranhão não logrou realizar grandes avanços em termos administrativos. Queixava-se de esfacelamento da máquina administrativa e da falta de recursos para pôr em execução projetos urgentes de reconstrução do Estado. A situação, de um modo geral, era de instabilidade política e social na Paraíba. Em 2010, pretextando necessidade de mais tempo para continuar ações administrativas que havia idealizado, Maranhão impôs-se como candidato à reeleição dentro do PMDB, atropelando a pretensão do então prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego. Foi derrotado no confronto com Ricardo Coutinho (PSB), tendo como companheiro de chapa Rodrigo Soares, então deputado estadual e presidente do diretório regional do Partido dos Trabalhadores, posto que ainda exerce.

Cássio, após deixar o governo, viajou para os Estados Unidos com a família, onde passou uma temporada, que aproveitou para refletir sobre as motivações que provocaram a sua cassação. No retorno, declarou apoio à candidatura de Ricardo, como alternativa para derrotar José Maranhão, gerando divisões no PSDB, já que o senador Cícero Lucena se disse impossibilitado de dar apoio a Coutinho, que teve como vice o então deputado federal Rômulo Gouveia. Em 2010, Cunha Lima disputou o Senado, alcançando mais de hum milhão de votos. Demorou quase um ano para tomar posse, diante de interpretações judiciais desfavoráveis decorrentes do seu enquadramento na Lei da Ficha Limpa. No período em que Cássio ficou inabilitado para assumir o Senado, ocupou a vaga o peemedebista Wilson Santiago, que chegou a integrar a Mesa Diretora e o Parlamento do Mercosul, Parlasul, com sede em Montevidéu, no Uruguai. Atualmente, Cássio está no pleno exercício do mandato de senador, Santiago retornou aos quadros da Defensoria Pública da Paraíba, Maranhão preside o diretório regional do PMDB e Luciano Cartaxo é o prefeito de João Pessoa, eleito em segundo turno no ano passado, derrotando Cícero Lucena. Veneziano foi lançado pré-candidato pelo PMDB ao governo em 2014, Coutinho anunciou que disputará a reeleição, e Rômulo Gouveia tem dúvidas sobre sua permanência na chapa como vice ou seu remanejamento para uma vaga ao Senado. Arthur Cunha Lima, por sua vez, tornou-se conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Do Blog com RepórterPB