Nunca tantos dependeram tanto de tão poucos. Ou nem tão poucos assim: a busca pela vacina para o novo coronavírus, única forma de sairmos consistentemente do pesadelo, é o maior projeto científico da história da humanidade. Dos mais modestos aos mais exuberantes, todos os centros de pesquisa do planeta estão na corrida.
Um número, entre tantos, dá uma ideia da mobilização. Está chegando a catorze mil a quantidade de trabalhos científicos publicados desde o começo do ano sobre todos os aspectos da pandemia. São quatro vezes mais do que os demais estudos voltados para todas as doenças humanas. A rede de colaboração não tem precedentes, mas o nível de disputa entre Estados Unidos e China também está atingindo níveis fervilhantes.
No round mais recente, os Estados Unidos acusam a China de mobilizar seus “espiões e hackers mais capacitados para roubar” as pesquisas americanas, segundo descreveu o New York Times. É claro que as agências americanas de inteligência e guerra cibernética não ficam de braços cruzados, só observando os ataques. Nesse sentido, a corrida pela vacina, tão aberta entre os adeptos da ciência colaborativa, também é travada no silêncio virtual da guerra cibernética.
Na China, cujo regime tem interesse máximo em limpar a barra depois de vários episódios suspeitos de ocultação no início da epidemia, o comando das pesquisas sobre a vacina para o novo vírus é do exército. Mais especificamente, o Exército de Libertação do Povo, designação que remete à revolução comunista e abrange todas as forças armadas. Verticalíssimo, portanto. Para queimar etapas e dar um sentindo conjunto às pesquisas, o governo americano criou um projeto com nome de filme, Operação Warp Speed.
É o nome do mesmo recurso usado, com liberdade ficcional, em Guerra nas Estrelas para designar as viagens acima da velocidade da luz, conhecidíssimo por nerds de todas as galáxias, embora impossível para a física teórica. Na atribulada vida real do momento, a ideia é acelerar e horizontalizar não só as pesquisas, mas também os processos de produção, permitindo o desenvolvimento simultâneo de vários projetos.
O que for dando certo, continua. O que não der, vai sendo descartado. Já foram identificados 14 projetos considerados viáveis, entre os 93 iniciais tocados por 80 indústrias farmacêuticas. Desses, seis ou oito estão passando em questão de semanas para a fase seguinte, com a perspectiva de que três ou quatro cheguem à fase final, no fim do ano ou em janeiro próximo. Seria um feito completamente excepcional e contrário ao conhecimento já adquirido sobre as pesquisas sobre vacinas.
Fonte: Veja
Créditos: Veja