Rubens Nóbrega

“Esse povo trabalha caro”, disse-me certa vez um amigo jornalista sobre determinado ‘povo’ que assumira o poder na Paraíba. Deve estar dizendo a mesma coisa agora, depois de saber que o Estado vai pagar mais R$ 44 milhões para a ‘Cruz Vermelha’ passar mais seis meses gerenciando o Hospital de Trauma da Capital.

Essa fortuna vai sangrar dos cofres públicos para o bolso privado porque foi renovada a terceirização do HT, onde sobra dinheiro e falta transparência, mas que mostra o quanto o contrato com Cruz é caro para o Ricardus I. Caro no sentido de querido, porque a acepção mais onerosa fica mesmo é com o contribuinte.

Mas contratante e contratados fazem a maior propaganda de que o serviço no Trauma melhorou, como se prestar serviço de qualidade num hospital como aquele, um dos maiores patrimônios públicos da Paraíba, somente fosse possível através de esquemas como esse de privatização disfarçada de terceirização ‘pactuada’.

Gestões anteriores no próprio Trauma, principalmente quando o hospital começou a funcionar, já mostraram que é perfeitamente possível ter uma administração qualificada, operosa, eficiente e eficaz, com profissionais contratados ou nomeados por aqui mesmo, sem precisar importar mão de obra da Baixada Fluminense.

Além do quê, o Trauma da Capital e seu congênere de Campina e outros de porte e complexidade assemelhados podem muito bem ser incorporados a uma Empresa Paraibana de Hospitais, nos moldes da versão nacional criada pelo Dilma I, e sob essa nova direção apresentarem desempenho bem superior àquele de que se jacta a Cruz.

Existem, portanto, alternativas de gestão em hospitais públicos bem mais baratas e com toda certeza mais condizentes com o interesse público. Bem melhor, portanto, do que esse negócio nebuloso, misterioso e, sobretudo, super, hiper, ultra, mega dispendioso entre o Estado e uma organização que ninguém sabe direito o que é.

Só se sabe que é um esquema que dá dinheiro, muito dinheiro. Basta ver como começou. Lembram? Para justificar a milionária contratação, no início do reinado Sua Majestade veio a público dizer que o Estado gastava mais de R$ 10 milhões por mês com o Trauma. Sob a Cruz, passaria a gastar cerca de R$ 6 milhões.

Diante dessa informação, a banda da Paraíba que ainda acreditava em Ricardo Coutinho aplaudiu a economia que o contrato traria aos cofres públicos. Mais aí deu problema. Deu porque o soberano esqueceu de combinar a conta com o real custeio do Trauma, que em 2010, na média, não consumiu mais do que R$ 4,5 milhões por mês.

Jornalistas independentes e representantes da oposição, em especial aqueles que também são médicos, a exemplo do deputado Manoel Júnior, provaram por A + B que o contrato com o Estado daria à Cruz um lucro de cerca de R$ 3 milhões. Mas como isso é possível, se a própria lei (a Lei nº 9.63798) diz que organizações sociais como supostamente o é essa Cruz não podem ter fins lucrativos?

“A lei, ora a lei…”. O que é a lei diante da vontade de um absolutista? E quem disse que a ‘sobra’ é contabilizada como lucro? E quem sabe para onde vão esses R$ 3 milhões que sobrariam todo mês? São questões que poderiam ser esclarecidas se esse governo, mesmo caro, trabalhasse transparentemente, republicanamente.

Mas esse não é o caso nem o propósito. Este colunista, pelo menos, está cansado de pedir informações e esclarecimentos que nunca chegam, sobre esse e outros assuntos. Aí, na falta de explicações, sobram as deduções, inferências, especulações. Embora todas, nesse caso da Cruz, baseadas em números e dados extraídos das próprias contas estaduais que o governante esqueceu de consultar.

Se tivesse consultado, não teria vindo falar nos tais R$ 10 milhões. Tanto é assim que falou só uma ou duas vezes. Após se ver desmentido pela oposição, jamais voltou a tocar naquela cifra e na pretensa economia no Trauma. Mesmo assim, o homem surpreendeu. Em vez dos R$ 6 milhões mensais, aventados inicialmente, mandou fazer um contrato de mais de R$ 7 milhões.

Por essas e outras, o meu amigo deve estar dizendo, com metade da Paraíba fazendo coro: “Eita povo pra trabalhar caro!”.
Sobre o reajuste do ônibus

Recebi do administrador Mário Tourinho, diretor executivo da AETC-JP (Associação das Empresas de Transporte Coletivo de João Pessoa), considerações sobre a coluna de anteontem, dedicada à ‘Farsa do reajuste’, como chamei a encenação do ‘aumento’ das passagens de ônibus concedido pelo prefeito da Capital. Ele faz reparos, inicialmente, aos meus cálculos sobre o pretenso faturamento das seis empresas que dominam o transporte de massa da cidade. Calculei em R$ 18,9 milhões o que deverá ser o faturamento dessas concessionárias a partir de segunda (9), quando a tarifa sobe de R$ 2,10 para ‘apenas’ R$ 2,20 graças à bondade reeleitoral do prefeito Agra.

Deixei claro que aquela projeção era em termos brutos, porque nessa história o líquido é privado e ninguém sabe quanto é, apesar de o serviço ser público. Mesmo assim, Doutor Mário mostra que o meu cálculo está equivocado porque nem todos os 8.629.202 passageiros transportados por mês, segundo a STTrans, pagam inteira. “Há os que pagam valor integral, os que pagam só metade (estudantes) e os que nada pagam porque fazem a integração, usando o cartão eletrônico que lhes dá direito de tomar um segundo ônibus com passagem inteiramente grátis”, explica o executivo.

Tem mais de Mário Tourinho, mas vou guardar para a coluna de amanhã, até como forma de garantir informação de qualidade ao leitor na próxima edição.