A contragosto, Marcelo Queiroga anunciou a vacinação de crianças contra a Covid. O ministro, no entanto, disse que ainda não há previsão de doses para todo o público de 5 a 11 anos de idade. Segundo ele, a compra desses imunizantes vai depender da demanda. “Nós não sabemos ainda qual será a taxa de adesão dos pais a essa vacinação”, declarou.
Numa campanha peculiar, o governo Bolsonaro trabalha para achatar esse índice e vacinar o menor número possível de crianças. Depois de propor obstáculos como a exigência de receita médica, o presidente e o ministro da Saúde lançaram uma política oficial de comunicação para desestimular a aplicação de doses.
Na quinta-feira (6), Bolsonaro dedicou um quarto de sua transmissão ao vivo nas redes sociais para alardear riscos da imunização de crianças. As doses pediátricas da Pfizer já foram consideradas seguras pela área técnica do Ministério da Saúde, mas o presidente fez propaganda contra a vacina que o próprio governo vai oferecer nos postos de saúde.
Não foi só uma “posição de internet”, como Eduardo Pazuello descreveu as bravatas negacionistas do chefe. Bolsonaro disse ter determinado a Queiroga a divulgação de alertas sobre a vacinação e os possíveis efeitos adversos dos imunizantes, considerados raríssimos. “Vai ser obrigado a falar para os pais que queiram vacinar seus filhos”, afirmou.
O ministro gosta de ostentar sua impressão digital na distribuição de milhões de doses de vacina contra a Covid, mas endossa as suspeitas difundidas pelo presidente. Na última semana, Queiroga disse que “um dos momentos mais difíceis” que enfrentou no cargo foi a morte de uma gestante “em função de um efeito adverso de vacinas”.
Em quase dez meses na função, o doutor testemunhou os piores momentos da pandemia no Brasil. No dia em que ele tomou posse, o país registrou mais de 3.000 mortes. Desde então, outras 320 mil pessoas morreram. Neste mês, Queiroga ultrapassa os 303 dias em que Pazuello ocupou a cadeira de ministro.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo