GILVAN FREIRE: MORRERAM JUNTAS A ÉTICA E A IDEOLOGIA

ETICA2 - Cópia(2)

Quando a União Soviética desabou e o povo derrubou (de propósito a martelo), o muro de Berlim, dois símbolos fracassados de uma guerra atávica travada entre o capitalismo e o comunismo, que só serviu para destronar ditadores da direita e substituí-los por títeres da esquerda, o mundo estava experimentando a mais esquisita face dos tempos modernos: o fim das ideologias. Do final da década de 1980 para cá os povos passaram a fazer guerras por outras razões, até por razões religiosas, sem que se saiba qual de todas é a pior, pois as antigas e as novas guerras têm o mesmo resultado nefasto – a mortandade humana em larga escala e a vitimização dos que se colocam a serviço mais de líderes do que de causas.

Antes como agora, o alvo central é o mesmo: o poder (bem maior de todas as ambições do homem e cobiça de todos os líderes mundiais), mesmo quando se dizia que o comunismo era – grande mentira histórica – a transferência do poder das elites aos operários e aos organismos coletivos. Com esses disfarces e artifícios enganadores e perversos, milhões de escravos brancos politizados se submeteram ao regime totalitário do partido único e de um homem só e, ou morreram, ou foram torturados, ou fugiram ou se renderam à tirania e ao medo – e tiveram de perder o primeiro maior bem da vida: a liberdade.

Mas eram os confrontos ideológicos que, pelo menos  moviam os povos pobres do mundo, porque as ideologias criaram as utopias, que prometiam a restauração plena das liberdades coletivas e da igualdade social. Agonizando, porém, o apelo ideológico e seus fundamentos, reina o capitalismo, o único regime da humanidade que mata mais pela fome do que pelas armas, mas mesmo assim mata também pelas guerras de cobiça e pela exploração do homem pelo homem e pela espoliação econômica.

 

Mas, nas regiões atrasadas do planeta Terra, como no velho Brasil de centenária dominação da elite sobre o povo, o fim da ideologia criou um vaco moral, pois a ela estava associada à ética, uma virtude que parecia indispensável à formação política de esquerda, quando ambas criavam as utopias como forças motrizes do idealismo. Idealismo e utopia, alias, pareciam a mesma coisa.

 

Mortas as duas das melhores virtudes da alma humana, o que resta hoje é a busca pelo poder que, nos povos menos civilizados, é feita no vale tudo, sem ideologia, sem utopia e sem ideal.

 

No Brasil, para piorar, houve a ascensão e fracasso do PT, o partido construído nos tempos das utopias e da ética, mas desonerado na primeira experiência de governo e transformado em pó da imoralidade, quando era para salvar pelo menos uma das virtudes perdidas pela implacável revolução dos tempos modernos.

 

Na Paraíba, quando se ouve o que dizem os líderes políticos, todos se oferecendo aos conluios políticos de forma despudorada, sem compromisso com a sociedade e sem um mínimo de fidelidade aos programas partidários, ou apego a qualquer principio ético, mas apenas interessados na sobrevivência a qualquer custo, no geral baseados em grandes negócios que se dão às costas da decência e da moral, sempre bancados por dinheiro público direto ou indireto, ou de origem suspeita pela clandestinidade, a percepção que fica é a da que não são os valores e os costumes que estão morrendo, mas é a própria sociedade que está agonizando também, senão lhe restaria ao menos a capacidade de indignar-se. Nem isso ela faz mais. Voltarei ao assunto de forma mais direta.