Gente muito próxima de RC já previa o desastre

Gilvan Freire

Em setembro de 2010, pouco menos de trinta dias para terminar o primeiro turno das eleições na Paraíba, o então senador Roberto Cavalcanti, que assumira um ano e meio antes a vaga de Zé Maranhão, escreveu um artigo paradigmático para se entender o risco a que a Paraíba ficaria exposta se escolhesse um dos candidatos ao governo do Estado, numa disputa acirrada entre o governador José Maranhão e o ex-prefeito de João Pessoa Ricardo Coutinho, o RC.

Como se sabe, Roberto Cavalcanti é um empresário bem sucedido que pautou sua atuação no senado pela abordagem persistente sobre os temas econômicos do país e região nordestina, enfocando quase sempre o cenário de pauperismo que ainda domina a Paraíba de hoje.

Tipo polêmico que permeou sua vida empresarial com a intervenção direta nas crises políticas e partidárias do Estado, onde tem instalado um império de comunicação, de Roberto pode-se dizer muita coisa, menos que seja incompetente e despreparado. Além do mais, é um cara extremamente atento aos fenômenos que mexem com as estruturas sociais e o imaginário coletivo, sensibilidade que aguçou ao longo de anos dominando com mão de ferro a mídia que, em tamanho, nem mesmo Chateaubriand conse guiu implantar em seu Estado natal.

Nessa hora em que se trava pelo Estado afora uma discussão acerba sobre o papel de um governador de Estado pobre na construção de um grande projeto de mudanças econômicas para sua região, capaz de transformar a realidade social e o perfil de atraso histórico da população, Roberto quis ser vidente com os dois olhos arregalados. Sua crônica, publicada numa sexta-feira de 15 de setembro do ano passado, é de uma atualidade espantosa. Será que foi premonição? Vejamos a seguir.

”MIOPIA OU MEDIOCRIDADE
Por Roberto Cavalcanti

Ou o paladar paraibano se acostumou com migalhas ou entramos naquela fase em que, diante da possibilidade do banquete, já ficamos com medo da indigestão.

O fato é que ouvi semana passada de um candidato, em entrevista a Rádio CBN, um sonoro “não, obrigado” para projetos estruturantes.

Até riu de pessoas que, como eu, apostam em ações como o porto de águas profundas e ramal da Transnordestina para acionar as engrenagens de nosso desenvolvimento.

O perfil da Paraíba, segundo ele, casa melhor com os micros negócios – como quem diz que o nosso intestino não está preparado para digerir o filé dos investimentos, apenas o picadinho.

Claro que não ignoro o potencial dos pequenos empreendimentos (acho que neles reside o verdadeiro DNA do empreendedorismo).

Mas não têm potencial para promover uma mudança no perfil econômico do Estado. Daí porque funcionam muito bem como coadjuvantes da economia, não como prato principal.

O principal item de qualquer cardápio econômico variado e equilibrado advém das obras estruturantes. E, apesar de ridicularizá-las, o candidato em questão deve conhecer seu impacto.

Sabe disso, infelizmente, por olhar por cima do muro e espiar o que o Porto de Suape está fazendo pela economia de Pernambuco – além dos dividendos embutidos no investimento em si, gerou uma onda de micro, pequenos, médios e grandes negócios tão avassaladora que (e esta é a torcida dele) pode extrapolar a fronteira pernambucana, beneficiando a Paraíb a com as sobras das demandas que os pernambucanos, já refestelados, não consigam digerir.

Não apoiar projetos estruturantes aqui, mas torcer pelas sobras das obras estruturantes lá, configura miopia ou mediocridade?

Não sou juiz da consciência alheia, mas só quem porta deficiência de visão – e uma boa dose de mediocridade – não consegue vislumbrar que também podemos ter nosso Porto de Suape.

Também podemos viabilizar investimentos que movimentem toda a cadeia produtiva do Estado – incluindo aí a capacidade empreendedora dos paraibanos.

Contar com sobras e migalhas é subestimar o apetite da nossa gente.

A mesa agora pode não estar farta, mas isto não significa que o paraibano aposte na fome. Até onde conheço esse povo, a fome aqui é por progresso, desenvolvimento, qualidade de vida.”

Este artigo integrará o futuro livro:
‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDE NTE CEGO’