Granja: a culpa, como sempre, será do “mordomo”

Flávio Lúcio

Primeiro foi Pâmela Bório a tentar tirar o corpo fora e atribuir única e exclusivamente a responsabilidade pelos rumorosos gastos na Residência Oficial do Governador ao Secretário da Casa-Civil, Lúcio Flávio Vasconcelos. Em nota divulgada pelas redes sociais (sempre elas!), a primeira-dama disse “não tem poder de ordenamento de despesas”. Na mesma nota, Bório diz que as informações sobre os gastos da Granja Santana NÃO lhe dizem respeito– assim mesmo, em caixa-alta,– e defende que eles sejam “averiguados” e, caso“constatados os abusos nos preços”, exige que os “reais” responsáveis sejam julgados. Na mesma linha, a primeira-dama joga a batata-quente nas mãos do secretário da Casa-Civil ao afirmar que, como não tinha conhecimento sobre as despesas do governo, Lúcio Flávio Vasconcelos é quem deveria responder por elas, para depois finalizar: “Apoio qualquer investigação de uso indevido do dinheiro público, indiscriminadamente”. Essa nota foi divulgada em 12 de janeiro. De lá para cá, o governo pouco alterara seu discurso.

Aracilba dá na canela
Isso até a última terça-feira, quando a secretária de Finanças, Aracilba Rocha, entrou em cena para reforçar a carga contra Vasconcelos. Em entrevista ao programa Polêmica Paraíba, Aracilba, a “cristã-nova” do ricardismo, desferiu tantos golpes públicos contra o coitado do seu colega Secretário, que me lembrou aquela cena antológica de Tropa de Elite em que o capitão Nascimento praticamente obriga um dos policiais a desistir do Bope. Na linha esboçada antes pela primeira-dama, Aracilba Rocha, entre outras coisas, disse com todas as letras que Vasconcelos não tem competência para estar à frente do cargo e, em caso de condenação pelo TCE, que ele seja punido para “aprender a cumprir a lei.” Quando perguntada sobre o envolvimento de Pâmela Bório no caso, Aracilba Rocha mudou de tom e disse não se tratar de uma questão de governo, e sim, “da Paraíba” (?). Ela tentou se explicar repetindo, como se tivesse ensaiado, o discurso já antecipado por Pâmela Bório: ela não é “ordenadora de despesa”, é “simplesmente a esposa do governador”, e foi “envolvida” no caso para atingi-lo. Não sei porque, mas eu fiquei com a impressão de já ter ouvido ou lido isso em algum lugar.

Foi então que Aracilba Rocha expôs uma esperteza – para tornar Lucio Flávio um asno, – mas que muito me pareceu cinismo. Ela citou os gastos do governo anterior com a Granja Santana, afirmando que em 2010 se gastou o mesmo do que foi gasto em 2012. Parece que, com a entrada em cena de Aracilba Rocha, o governo parou de brigar com a realidade e, para se justificar, procura agora igualar-se aos outros. É quando o cinismo passa a dar o tom da defesa, principalmente quando a consequência é jogar um companheiro de governo – muito próximo do Governador, diga-se – aos leões. Tentem escutar o que e como argumentou ela: “A f-o-r-m-a, talvez, do gestor da Casa Civil de fazer essa despesa, do ponto de vista administrativo, é que gerou toda essa confusão.” Quando um dos entrevistadores começou a perguntar se o “Secretário da Casa Civil de José Maranhão…”, Rocha não esperou sequer que a pergunta fosse concluída e já foi logo emendando: “…Era mais competente do que esse, pronto!” E ela ampara suas conclusões na falta de conhecimento dos procedimentos administrativos de Lúcio Flávio Vasconcelos. Se ninguém considerar que se trata de falta de ética promover um ataque público a um colega de governo, que pelo considere a possibilidade de que isso foi um tremendo ato dedeslealdade. Aracilba Rocha só faltou dizer, referindo-se ao Secretário da Casa Civil: “Pede pra sair! Pede pra sair!”

Mudanças?
Eu esperei por todo o dia de ontem por uma nota, uma frase sequer, de solidariedade a Lúcio Flávio Vasconcelos, o que não aconteceu. Vasconcelos é meu colega de Departamento na UFPB e sua já longa proximidade pessoal com o governador Ricardo Coutinho é conhecida. Por isso, minha expectativa era de que Aracilba Rocha fosse desautorizada por ter dito palavras tão duras contra um assessor tão próximo do governador, especialmente porque, até então, o governo considerava que todos os gastos da Granja Santana eram não apenas legais, mas justificados.

Está claro que houve uma mudança de discurso e há uma nova tática em andamento para enfrentar essa situação que causa grandes constrangimentos a Ricardo Coutinho e a seu governo. A ação é tirar a primeira-dama e o Governador do centro da polêmica, desviando as atenções para um assessor, nem que para isso ele pague sozinho pelo erro que, no dizer de Aracilba Rocha, não foi tão simples como até agora foi tratado. Tanto que foi escalado um renomado advogado para defender o Secretário da Casa Civil.

Se Lúcio Flávio cair, depois dessa fritura pública numa panela tão grande e em óleo tão quente – e num programa considerado de oposição, – teremos duas práticas abandonadas, e que são marcas de RC no governo: a primeira é a demissão de pessoas de muita proximidade; a segundo, é a admissão de um erro.

A primeira-dama é mesmo poderosa.