Polêmicas

Futuro arcebispo de Diamantina comenta polêmicas e fala sobre homilia associada a Lula

 Dom Darci

Fala de Dom Darci durante missa em Aparecida do Norte (SP) lembrou discurso do ex-presidente da República. Religioso assume arquidiocese em meio a investigação contra padre suspeito de abuso

A partir de maio, a Arquidiocese de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, terá novo arcebispo. Dom Darci José Nicioli, de 56 anos, assume o posto atualmente ocupado por dom João Bosco Oliver de Faria, que renunciou por ter completado 75 anos, conforme estabelece o Código de Direito Canônico da Igreja Católica. Mineiro de Jacutinga, no Sul do estado, ele estava há 20 anos na Arquidiocese de Aparecida, em São Paulo. O religioso assume o cargo em meio a polêmicas recentes. Uma delas é a investigação de um caso de abuso sexual envolvendo um padre que atuava em São João da Chapada, distrito da cidade histórica mineira. E, no último domingo, a homilia do religioso durante uma missa no Santuário de Aparecida gerou repercussão por ter citado o mal “daqueles que se autodenominam jararacas”, o que levou muitos a associarem a fala com o discurso do ex-presidente Lula na semana passada, após depoimento na Operação Lava-Jato da Polícia Federal.

Dom Darci nasceu em 1959 em Jacutinga, no Sul de Minas, e foi ordenado sacerdote em fevereiro de 1986. De 2009 a 2013 foi superior e reitor do Santuário Nacional de Aparecida e vigário-geral da província Redentorista de São Paulo (2013-2014). É mestre em teologia pelo Pontifício Ateneo St. Anselmo, de Roma. “Vejam vocês como Deus é bom: saí de Minas Gerais para ser missionário, com apenas 14 anos de idade e, agora, tenho a graça de retornar como bispo-missionário às queridas terras mineiras… No coração brota espontaneamente uma prece: Deo gratias!”, escreveu o novo arcebispo, em carta destinada à comunidade católica de Diamantina, divulgada no site da Arquidiocese.

Em entrevista, o religioso disse que, apesar do tempo vivendo longe da terra natal, faz várias visitas ao estado para celebrações. “A gente está sempre ligado a Minas, porque, como redentorista, vou quase todo mês pregar em alguma paróquia no Sul do estado”, explicou. Ele lembra visitas a outras regiões, como o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, e à Basílica de São Geraldo, em Curvelo, na Região Central do estado.

Dom Darci explica que ainda não esteve em Diamantina, mas conhece a história da arquidiocese. A diocese da cidade foi fundada em 1854 e elevada em 1917. Ela abrange as dioceses de Almenara, Araçuaí, Guanhães e Teófilo Otoni. “Sei também que a Arquidiocese de Diamantina tem 47 mil quilômetros quadrados; é bem grande. São 34 municípios e sabemos do Vale do Jequitinhonha, toda a dificuldade que o pessoal vive. Vamos trabalhar de forma a incluir quem porventura esteja marginalizado. Queremos contar com a parceria das autoridades civis, do povo de Deus, padres, lideranças leigas”, diz.

O futuro arcebispo de Diamantina também falou da experiência em São Paulo. “Muito do que sou eu levo de Aparecida. Aparecida me ensinou muito, a experiência administrativa, pastoral, a visão organizativa da Igreja. Hoje ela é referência mundial e pude contribuir. Para mim, é um orgulho, a graça de Deus me permitiu trazer esse trabalho”, disse o padre, agradecendo as equipes e parceiros com quem trabalhou durante 20 anos.

Denúncia Sobre as investigações contra o padre de São João da Chapada, suspeito de abusar de adolescentes, dom Darci disse ter ficado sabendo por meio de uma das matérias publicadas pelo Estado de Minas, e afirma que a postura da Igreja é muito séria em relação a esses casos. “Li que havia uma denúncia. Sei que o arcebispo suspendeu o padre para averiguação, ele saiu do local onde estava até que seja feito o inquérito para saber se há veracidade”, disse. “Após isso, a igreja agirá. Existe a pena canônica (caso considerado culpado) e ele também responderá civilmente. Se não é culpado, têm que reconduzi-lo ao trabalho, mas ainda não estou por dentro disso”, relata.

Dom Darci também nega ter se referido a Lula durante a missa em Aparecida em 6 de março. “A gente, quando faz uma homilia, não manda recado para ninguém. A aplicação é feita por quem ouve”, disse o religioso. “Aquilo que eu disse é sobre eliminar todo o mal da nossa vida. E usei como imagem Nossa Senhora, aquela que pisou na cabeça da serpente e o mal não a tocou. Eu a coloquei como exemplo, que pisemos na cabeça das jararacas nas nossas vidas, poderia ter sido outra cobra, uma urutu-cruzeiro”, comparou. Para o sacerdote, a situação foi positiva para gerar reflexão. “Mas isso não foi de todo mal. Foi bom para refletir. Somos cristãos e devemos agir a favor do Brasil. Eu não incitei violência. Terminei minha fala dizendo que ‘vamos vencer o mal pelo bem’”.

Fonte: Estado de Minas
Créditos: Estado de Minas