FLÁVIO LÚCIO: Cartaxo visitou Romero, e daí?

Analista político fala sobre ida do prefeito de JP aos festejos juninos de Campina Grande

imageUma imagem vale por mil palavras também na política? Às vezes sim, às vezes não. Mas, em política, uma das maneiras de falar é o silêncio. Ou ato. Ou uma imagem.

Quando o prefeito Luciano Cartaxo resolve fazer, no último sábado, uma visita ao camarote da Prefeitura de Campina Grande no Parque do Povo, onde foi recebido por Romero Rodrigues e devidamente anunciado ao grande público, para em seguida a dupla fazer um périplo pelos camarotes, é de dar o que falar, não é mesmo?

Alguns dirão que se trata apenas de um ato de cortesia, de civilidade política. Que é sempre bom não misturar questões pessoais com política e não exigir tanto do prefeito petista quando o assunto for suas incursões na vida social. Quem sabe o prefeito petista queria apenas conhecer aquela bela festa? Quem sabe?

Se não for por isso, talvez seja adequado pensar que Cartaxo não dá lá muita importância ao que o líder de Romero Rodrigues, Cássio Cunha Lima, diz e faz no Congresso, sempre com grande destaque da mídia, desde que a Presidenta Dilma tomou posso para cumprir o seu segundo mandato presidencial – Cartaxo nem sequer deixou esfriar a repercussão da última visita que a trupe de senadores comandada por Aécio Neves, que Cássio compôs, fez à Venezuela para constranger o governo brasileiro, num ato da mais pura provocação e desmiolamento político.

Talvez Luciano Cartaxo não consiga ver relação entre sua condição de prefeito petista e a de Romero Rodrigues de prefeito tucano em um Brasil conflagrado pela radicalização política, onde os mais altos dirigentes petistas declaram que o objetivo tucano – e da mídia e seus parceiros – é destruir o PT e impedir a candidatura de Lula em 2018, mesmo que para isso tenham de prendê-lo.

Será que estamos diante de mais um caso de autismo político? Como eu não costumo subestimar a sagacidade política de ninguém, especialmente de alguém que se elegeu prefeito da maior cidade do estado, nem a capacidade de ler e ver a realidade – mesmo que seja ao seu modo, – vou considerar que Cartaxo quis mandar um recado.

A visita de Luciano Cartaxo ao Parque do Povo foi antecedida por um aumento da pressão política, proporcionada pelas visitas e inaugurações de obras do governo do estado em João Pessoa, levando muita gente a crer que estavam diante de mais um capítulo da esgarçada aliança entre PT e PSB na Paraíba.

Talvez – é bom ressaltar: talvez – haja na iniciativa de Luciano Cartaxo um recado que insinua a possibilidade de que, sem o PSB, outras alianças podem dar suporte ao projeto político do prefeito, que é se reeleger abrigado numa chapa puro-sangue.

Se for isso mesmo, o recado de Cartaxo funciona não como um antídoto, mas um estímulo, e mesmo uma justificativa, para o rompimento de uma aliança que, se não deu frutos eleitorais para o PT, em 2014, ajudou a transformar o governador Ricardo Coutinho na principal liderança a defender a presidenta Dilma e a denunciar o golpe branco, parlamentar, que está em pleno andamento.

Enquanto o PSDB e determinados seguimentos da política paraibana fazem pesada oposição a RC, a principal liderança do PT no estado se desloca da capital para participar de uma festa promovida por uma administração tucana, cujo prefeito é primo do líder da oposição no Senado e homem de confiança da principal liderança oposicionista no Brasil, hoje.

Nesses tempos sombrios em que vivemos na política nacional, que podem resultar em perigosas rupturas institucionais, é necessário não subestimar o significado de determinadas atitudes políticas.