Festival de desinteresse

Paulo Santos

Não se sabe até quando os políticos vão manter esse discurso dignificando as “boas intenções” dos partidos políticos. Pense em instituições ineptas, distantes da sociedade, sem qualquer criatividade de apoio àqueles que lhes sustentam e atendendo apenas aos interesses de uns poucos.

Os partidos políticos, cantados em verso e prosa como entidades “vivas”, na realidade são tão inertes quanto um cadáver e indiferentes como psicopatas. Nem parecem compostos por seres humanos, ou seja, pessoas que vivem quase sempre graças à generosidade da população, daqueles que muitas vezes em suas vidas saem de casa para agraciar-lhes com o voto, o chamado “sufrágio secreto e universal”.

Muitos são os exemplos desse distanciamento dos partidos com a sociedade, mas há uns que são emblemáticos. O problema da seca, então, é recorrente e sempre que o fenômeno se manifesta é motivo de discursos pungentes de alguns, capazes de arrancar lágrimas dos endurecidos corações.

Passados os palavrórios o rio volta ao seu leito natural, os políticos esquecem os discursos que fizeram e nada, mas rigorosamente nada, acontece de positivo em favor daqueles que vivem sacrificados nos rincões sertanejos ou caririzeiros, impotentes diante da ferocidade inclemente da estiagem.

No quadro atual, quando o Nordeste – e particularmente a Paraíba – vive o que dizem ser a mais ostensiva seca dos últimos 40 anos vivencia-se uma campanha – SOS Seca – que saiu dos discursos, passou por uma caravana e tenta se impor como um movimento de protesto contra os descasos dos governos.

E os partidos políticos, o que têm com isso? Deveriam ter muito a ver, mas é o contrário. Omitem-se como se lutar por melhores condições de vida para a população fosse missão específica do homem e não das instituições. O coletivo fica, assim, dependente do individual. É incompreensível.

Poderia algum desavisado argumentar que os políticos envolvidos nessa mobilização representam os partidos. Não, representam a instituição Assembleia Legislativa. Partidos, institucionalmente, não deram as caras. O que fizeram PMDB, PSDB, PSB e outros “pês” menos votados? Estão apenas enfronhados em bizantinas discussões que nada mais são do que picuinhas e outras desnecessidades.
O que assombra é ver as instituições brasileiras alienadas das discussões dos problemas brasileiros.

Assim como os partidos políticos, que não têm qualquer papel ideológico nas definições das nossas vidas, outros condomínios sociais também se descompromissaram com os interesses maiores.

Portentosas instituições como a UNE-União Nacional dos Estudantes, CNBB-Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a OAB-Ordem dos Advogados do Brasil, para citar apenas algumas. Não estão nem aí para quem ou quantos morram em consequência da seca. E as instituições econômicas, então, nem se fala.

SOLIDARIEDADE
Nem tudo está perdido, neste país. Algo de bom veio á superfície em meio á tragédia com os estudantes de Santa Maria (RS): a solidariedade do restante do Brasil com os gaúchos. Além das tradicionais manifestações de conforto, houve outras convocando enfermeiros, psicólogos e profissionais de diversas especialidades para ajudar no atendimento aos parentes dos mortos e àqueles que se encontram hospitalizados. O brasileiro, independente da insensibilidade de muitas “autoridades”, é generoso. Deus conserve nosso povo assim. E nos livre dos empresários sem escrúpulos, dos governantes mentirosos e das fiscalizações incompetentes.