FALTA CORAGEM. SOBRA COVARDIA

Gilvan Freire

                        Não se exigirá mais dos políticos que tenham ética, porque esta foi para as cucuias faz tempo e, pelo menos, com os atuais líderes, não há mais risco dela voltar. Isso é coisa para outras gerações e outros momentos da história, que só deverá ocorrer quando o povo assumir o comando do processo democrático, de preferência na rua, e extirpar o câncer da corrupção que coloca no lixo sua representação eleitoral. De forma contemplativa, sem reação radical e sem luta, não é possível obter reforma nem mudanças, e a melhor forma de continuar tudo como está é realizar eleições pacificas. Ora, se não há barulho nem contestação, como o povo pode demonstrar seu desagrado com esse estado de coisas e com essas personalidades tão marcadas pela conduta desonrosa e pelo tratamento desrespeitoso com que pagam o voto de confiança dado pelo eleitor?

   Apesar de tudo e do clamor que toma conta da sociedade com relação aos maus predicados dos agentes políticos, seria de esperar-se que subsistissem ao caos total ao menos algumas pequenas virtudes próprias dos líderes, já que palavras hoje são soltas aos ventos, compromissos são para não ser cumpridos e verdades não são para ser ditas. Mas, se escassez de atitudes condignas for rasa demais, dessas que não têm um mínimo de profundidade e visibilidade e nem possam ser achadas nas práticas cotidianas, ai nada sobrará de nenhum deles, e nem há porque serem eles alvo de um mínimo de admiração e compreensão.

 

OS FATOS DESSES ÚLTIMOS DIAS, ENVOLVENDO ACORDOS POLÍTICOS, TROCA DE FAVORES, COMPRA E VENDA PURA DE APOIOS E TRAIÇÕES INTERNAS E EXTERNAS NO ÂMBITO DOS PARTIDOS, dão uma impressão precisa de quantos os líderes são capazes para não perder seus postos ou para alcançá-los. É uma vergonha repugnante.

 

Mas três episódios chamam a atenção neste momento: a crise de dupla personalidade do DEM, fiel às suas origens antigas, em que os chefetes partidários privilegiam a política de parentela em detrimento do colegiado e vendem os de fora para salvar os de casa, sem a menor cerimônia ou discussão democrática; a crise do PSDB, que troca Cícero e sua histórica lealdade política por oportunistas de ocasião, por razões financeiras ou outras de pouco convencimento, quando Cícero é, segundo as pesquisas, de duas ou três vezes maior eleitoralmente do que seus presumíveis concorrentes externos, sem contar que, internamente, Ruy Carneiro há tempos trama para traí-lo; e, por fim, a crise do PMDBxPT, a única coligação em que o PT oferece tempo de televisão, um candidato capenga na chapa, e uma promessa absolutamente infalível de traição, além de uma aliança complementar cheia de negocistas que querem vender a alma a Dilma e o corpo a seus adversários na Paraíba, tudo em homenagem ao despudor.

 

De tudo, porém, a situação mais melancólica é do PMDB, que espera deliberadamente que o PT o trate com desdém e interfira em sua derrota, já que com o partido a seu lado e seus cacarecos, é improvável que ganhe a eleição.

 

O PMDB está sem coragem e sem estratégia e fica a mercê das reiteradas desfeitas de Dilma e a acintosa desatenção de líderes petistas locais, cada um diminuindo mais e desmoralizando muito as respeitáveis lideranças peemedebistas. Por que Veneziano não forma logo sua chapa com Zé Maranhão para o Senado e Roberto Paulino, ou Naborzinho, ou Leonardo Gadelha na vice, a fim de viabilizar sua eleição e fugir da desmoralização que lhe impõe o PT?

 

Por que não deixar para trocar com Dilma o tempo de televisão pelo apoio de uma chapa tão competitiva como esta? Ou, então, deixa Dilma pra lá, à mercê de inconfiáveis e voláteis apoios daqueles a quem ela deu cargo e prestou favores ao longo de seu governo. Não é mesmo?