Extermínio de flanelinhas

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Rubens Nóbrega

Moradores de Assunção, no Cariri, foram acordados às três da madrugada de ontem por tiros e explosões que destruíram a agência local do Bradesco. O ataque partiu de um sexteto de meliantes que antes de explodir o banco sitiou o destacamento da PM, abriu fogo contra a Delegacia de Polícia e rendeu um vigia que ensaiou perseguição.

Doze horas antes, um trio aterrorizou Campina Grande com sucessivos assaltos, um dos quais a um empresário do qual levaram R$ 120 mil. A vítima teria trocado tiros com os assaltantes e no tiroteio uma pessoa foi baleada, mas não se sabe com que gravidade. Ah, e nesse e no caso de Assunção os criminosos fugiram sem dificuldades.

Duas horas depois dos assaltos em Campina, em João Pessoa, no Rangel, Daniela de Souza, 19 anos, foi abrir a porta de casa para atender ao dono da voz que a chamava da calçada e levou um tiro no peito. A jovem morreu na hora. O assassino fugiu deixando uma única pista: a de que uma inocente muito provavelmente pagou pelo suposto envolvimento do namorado com drogas, nosso flagelo maior.

Ontem, ainda na Capital, cedo da manhã um taxista – Harrison Leal, 46 anos – foi assassinado a tiros em Jaguaribe, presumivelmente por engano. O alvo seria o colega com que partilhava o carro. Perto do meio dia, no mesmo bairro, em frente à Igreja do Rosário, o flanelinha José Figueira, 27 anos, foi executado por dois homens que usaram um Corsa preto para cometer o crime.

No meio da tarde, outro flanelinha (não identificado) foi morto a tiros. Em Cruz das Armas. Segundo o portal ClickPB, com esse subiu para quatro o número de flanelinhas vítimas de homicídio na Capital em menos de 24 horas. Obra de um serial killer ou de um grupo de extermínio especializado em matar guardadores de carro? Aguardemos os resultados das investigações.

Se investigações forem abertas e concluídas, claro. Digo isso porque morte violenta de gente pobre em geral não dá ibope nem rende matéria para além do mero registro da ocorrência. É assunto pra cair ligeirinho no esquecimento da população e dentro de alguma gaveta da Polícia já abarrotada de inquéritos ‘desimportantes’.

Mas, apesar de tudo isso, apesar de todos esses crimes que se repetem e se multiplicam em nosso apavorante cotidiano, devemos dar graças porque a violência na Paraíba, segundo o nosso governo, não apenas está sob controle como até vem diminuindo. Ainda bem, amigos, amigas. Imaginem como seria, então, se não estivesse…

Esvaziando o debate

A Comissão de Segurança Pública da Câmara Federal promoveu anteontem à tarde, em Brasília, debate sobre violência no Brasil, especialmente no Nordeste, onde seria dado maior destaque ao problema na Paraíba, esperava o Deputado Major Fábio, que articulou o evento. Mas a sessão não rendeu o esperado. Convidado a participar, o Governo do Estado não mandou representante algum para aquela sessão.

Pegou mal, Prefeito

Embora plenamente defensável e explicável (se tivesse sido melhor trabalhada, melhor comunicada e, sobretudo, melhor debatida), pegou muito mal para a imagem do prefeito Luciano Cartaxo essa história do parcelar em 96 meses e dar mais um desconto de 30% na dívida acumulada por donos de cartório junto ao Fisco municipal.

Muito dificilmente a grande maioria dos contribuintes da Capital vai entender tamanho benefício para quem no senso comum é visto como gente rica que opera máquina fazedora de dinheiro. Não deve entender mesmo, mesmo que o prefeito explique exaustivamente que o projeto aprovado ontem na Câmara fará a Prefeitura apurar em breve uma receita travada na Justiça há mais de oito anos por no mínimo quatro emperradíssimas ações judiciais impetradas pelos cartórios.

Foi para desatar esse nó e receber uma boa grana extra que a Prefeitura resolveu negociar com os donos de cartório e chegou ao acordo do parcelamento e dos 30% de desconto. Significa, na verdade, um refinanciamento semelhante àquele (e talvez não tão vantajoso) fechado com a Unimed-JP no tempo de Ricardo Coutinho prefeito. Semelhante também a tantos outros já feitos aqui e em outras capitais, explicou-me ontem o secretário Fábio Guerra, da Receita Municipal.

Ele esclareceu ainda que o refis não quer dizer, em absoluto, que os cartórios continuarão sem pagar ISS (Imposto sobre Serviços) ou que pagarão apenas R$ 500 por ano, como alguns faziam. Doravante, a exemplo de todos os demais profissionais liberais, tabelião também vai cair com os 5% de ISS sempre que faturar um serviço, receber uma taxa ou algum emolumento cobrado em sua ‘mina’.

Pelo que entendi…

O secretário Fábio Guerra só não sabe ainda quanto vai render aos cofres municipais essa história. O montante, disse, há de ser apurado mediante auditoria que a Secretaria da Receita fará nos cartórios em cima do faturamento de até cinco anos prá trás, pelo que entendi.

Outro detalhe que consegui levantar: até fechar esse acordo, por liminar que conseguiam na Justiça ou leniência do gestões anteriores (a inferência é minha), fiscal nenhum, auditor nenhum chegava nem perto da contabilidade dos cartórios.