Exército de insatisfeitos

Rubens Nóbrega

Comentei esta semana que o Ricardus I tirou 5 em recente pesquisa Consult, alguns décimos abaixo do que havia tirado em pesquisa anterior, do Ipespe, e, mesmo assim, louvaminheiros oficiais e oficiosos do governo festejaram.
Anteontem, o Professor Flávio Lúcio Vieira, analista e consultor político de cabeceira, estudou mais detidamente os números da Consult e produziu o imperdível comentário que ofereço a seguir aos leitores deste espaço.
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Rubens, vi que na coluna de ontem (quarta, 7) e de hoje (quinta, 8 ) você abordou o resultado da pesquisa Consult divulgada no último domingo em que RC obteve 51,45% de aprovação contra 33,75% dos que desaprovam seu governo.
Em primeiro lugar, salta aos olhos o percentual enorme (quase 15%) dos que não souberam responder à simples pergunta ‘aprova ou desaprova?’. Em segundo lugar, a verdadeira forçação de barra que leva o eleitor a ter que aprovar ou reprovar por inteiro o governo paraibano.
Por que não os tradicionais ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo, que dão mais flexibilidade e podem captar melhor o sentimento do eleitor em relação ao objeto de sua avaliação?
Assim, dos 51,45% dos pesquisados, quantos consideram RC ótimo e bom, e, portanto, estão em clara aprovação ao seu governo? E quantos marcaram regular, que é uma outra maneira de dizer “mais ou menos”? E se a maioria dos que aprovam o governo o avalia na verdade como “regular”?
Nesse caso, nós temos um problema: avaliar o governo como regular ou pode ser entendido como uma forma de não rejeição ou pode também ser considerado um estado de espírito em transição para a reprovação. Não há dúvida, entretanto, que os quase 34% rejeitam enfaticamente o governo, tratando-o como ruim ou péssimo.
Nesse caso, RC arrebanha contra si em menos de um ano de governo um exército de insatisfeitos que, se acrescentarmos mais uns 5% dos que não “souberam” responder (servidores públicos ou cidadão temerosos de explicitar sua opinião?), chegaríamos a incríveis 40% de desaprovação.
Isso porque RC vive exclusivamente do crédito dos seus eleitores que ainda esperam pelas mudanças prometidas. Nesse caso, é bom cuidar de alterar a rota do seu governo, senão restarão poucos apoiadores ao final do seu mandato.
Na Assembléia, eles já começaram a botar as manguinhas de fora…
Tem razão, Professor
Evidente que a aprovação ou desaprovação de um governo ou de um governante não pode ser medida por uma indução maniqueísta eventualmente utilizada nessa ou naquela pesquisa de opinião.
Perguntar ao pesquisado simplesmente se ele aprova ou desaprova equivale a colocá-lo no canto da parede, exigindo dele um sim ou não peremptório, irrecorrível. Assim é limitar demais, é restringir muito ou reduzir a quase nada as possibilidades e variáveis de avaliação, de uma avaliação humana.
Eis porque concordo inteiramente com o Professor Flávio Lúcio. Para avaliar mais realisticamente um governo ou um governante, tem que perguntar aos governados se eles consideram o avaliado ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo.
Institutos há, inclusive, que dividem o regular em ‘regular positivo’ e ‘regular negativo’ e, com isso, somam os conceitos ótimo, bom e regular positivo para medir a aprovação. A desaprovação, sob esse critério, é medida pela soma dos conceitos regular negativo, ruim e péssimo.
É bem diferente de chegar pra pessoa e perguntar simplesmente se aprova ou desaprova. Afinal, eu posso muito bem aprovar um determinado governo por achar que ele merece, por exemplo, uma nota 6 (o que equivaleria, no meu padrão, ao conceito de ‘regular’). Quer dizer, aprovo, mas não aproooooovo!
Do mesmo modo, posso reprovar dando ao mesmo governo uma nota 4,5 (que corresponderia ao conceito ‘ruim’). Quer dizer, reprovo, mas não reproooooovo!


As opções a bordo

Essa ‘aprovação’ do Ricardus I lembrou-me historinha do tempo em que as companhias aéreas brasileiras ainda ofereciam, mas já estavam começando a restringir, bebidas e refeições em vôos domésticos de mil quilômetros pra cima.
Aconteceu em viagem de João Pessoa a São Paulo. O passageiro meio boçal estava cochilando. Ao ser despertado pelo aviso do comandante de que em instantes serviriam o jantar, o sujeito tratou logo de pedir um cardápio.
– Lamento, senhor, mas não temos menu impresso – explicou a comissária que veio atender ao cidadão
– Como não tem? E como faço pra escolher o prato?… Bem, nesse caso, quais são as opções? – perguntou o cara.
– Sim ou não, senhor.