Polêmica

Ex-assessor de Flávio que admitiu esquema não pagou aluguel de R$ 275/mês

Enquanto recebia, no papel, um contracheque de R$ 4.466,37 da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), passou oito meses, no ano de 2007, sem pagar o aluguel de um imóvel que não superou R$ 275 mensais.

Na semana passada, Marcelo disse ter participado de um esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj em que tinha que devolver 80% do que ganhava.

O ex-assessor parou de pagar o aluguel do imóvel em janeiro de 2007, segundo consta em ação judicial de despejo movida contra Marcelo. Até sair do cargo, em agosto, ele não havia pagado oito parcelas mensais acordadas com o locatário, mesmo recebendo salário de R$ 4.466,37.

Em janeiro daquele ano, ele deixou de pagar o aluguel de R$ 226,65 pelo imóvel e, nos outros sete meses, R$ 275.

A inadimplência se arrastou pelos três anos seguintes, com Marcelo já fora do gabinete de Flávio. A dívida acumulada do aluguel do sobrado em Quintino, zona norte do Rio, superou R$ 14 mil, segundo valores da época.

Reportagem do UOL mostrou, na semana passada, que a quebra de sigilo bancário do ex-assessor, autorizada no âmbito das investigações de Flávio Bolsonaro, revelou diversos saques feitos por Marcelo ao longo de 2007.

As retiradas em dinheiro vivo em datas próximas ao pagamento reforçam a denúncia feita pelo ex-assessor de que ele era obrigado a devolver parte de seu salário na Alerj —prática criminosa conhecida como “rachadinha”.

Em 13 oportunidades, ele retirou mais de R$ 1.000. Em abril, por exemplo, dois dias após receber o salário da Alerj, ele fez um saque de R$ 3.000.

O ex-assessor alugou o sobrado em julho de 2003, inicialmente por R$ 250. Em fevereiro daquele ano, havia sido nomeado por Flávio Bolsonaro, ganhando R$ 1.791,79.

Em 2005, o salário passou a ser de R$ 4.253,69. De 2006 até ser exonerado, em agosto de 2007, recebeu R$ 4.466,37. Ao todo, nos mais de quatro anos na Alerj, ele acumulou, em salários brutos, um valor de R$ 176.700.

Processo se arrastou na Justiça
Em junho de 2010, diante da inadimplência de Marcelo, o dono do sobrado em Quintino, o comerciante João Carlos Júdice da Silva, que herdou o imóvel do pai, entrou com a ação de despejo.

Sem haver acordo, o processo se arrastou até 2013.

Procurado pelo UOL na última sexta (3), João Carlos contou que nunca recebeu o dinheiro devido. Quando o despejo foi concretizado, havia, segundo ele, uma terceira pessoa na casa, para a qual o ex-assessor teria sublocado o imóvel.

O comerciante disse que não sabia das denúncias do ex-inquilino de participação num esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro. Bolsonarista de carteirinha, ele afirmou que a notícia não fará o seu apoio ao governo do atual presidente diminuir.

“Naquela época em que ele alugava a casa, eu sabia que ele era assessor parlamentar, mas não sabia de quem. Infelizmente, a rachadinha está institucionalizada no Brasil. É o usual, é o que acontece. É certo? Não, é muito errado. Mas, comparado com os trilhões que foram roubados no país nos últimos anos, R$ 4.000 é pouco”, disse João Carlos sem citar a qual escândalo de corrupção fazia menção.

O UOL tentou contato com Marcelo Luiz Nogueira dos Santos para ele comentar os motivos da inadimplência, mas não obteve retorno.

Na semana passada, em entrevista à colunista Juliana Dal Piva, o ex-assessor afirmou que, enquanto esteve empregado no gabinete de Flávio, teve que devolver parte do salário em dinheiro para Ana Cristina Siqueira Valle, então esposa de Jair Bolsonaro e chefe de gabinete de Flávio na Alerj.

O hoje senador nega irregularidades e diz ser vítima de difamação.

Em sua página no Instagram, Ana Cristina afirmou que o ex-assessor “mentiu num gesto de vingança ou loucura”.

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba