Milhares de pessoas foram às ruas na noite de quinta-feira (20) em dezenas de cidades de Israel em repúdio pelo estupro coletivo denunciado por uma adolescente, uma agressão sexual atroz que reflete as lacunas de proteção efetiva das mulheres no Estado judeu. Ainda que a investigação do caso tenha sido colocada em segredo, a imprensa israelense revelou na sexta-feira que 30 homens fizeram fila na porta do quarto de um hotel para violar um a um sexualmente uma garota de 16 anos que estava embriagada.
A comoção social foi crescendo conforme os detalhes sobre o estupro eram revelados. Ocorreu na semana passada na cidade turística de Eilat, na costa do mar Vermelho, mas que só caiu na opinião pública na noite de quarta-feira. Dois homens de 27 anos foram presos como suspeitos pela polícia, que criou uma equipe especial de agentes pela gravidade dos fatos e o alto número de envolvidos.
A menor apresentou a denúncia no dia 14 de agosto, 48 horas depois do estupro grupal, de acordo com sua declaração. Um dos suspeitos foi preso após trocar mensagens de texto com a vítima a quem alertava que possuía uma gravação em vídeo de todo o ocorrido. Apesar do segredo sobre as investigações, seu advogado declarou à imprensa israelense que o homem havia negado “toda a relação com os fatos e estava à espera de que a polícia examinasse as provas”.
Outro dos presos declarou à imprensa, através da advogada que lhe foi designada, que “não pôde impedir que aproximadamente trinta homens mantivessem relações [contra sua vontade] com a menor, já que tinha medo deles”.
A garota havia viajado a Eilat com uma amiga para passar alguns dias de férias. Na cidade da costa do Golfo de Aqaba, no extremo meridional de Israel, encontraram vários jovens conhecidos com quem combinaram uma saída noturna. Em dado momento, a menor se separou do grupo para utilizar o banheiro de um quarto do hotel.
Foi nesse quarto de hotel que, de acordo com seu depoimento, foi estuprada por turno por dezenas de homens. A imprensa israelense afirma que as câmeras de segurança do hotel mostram imagens de homens fazendo fila em um corredor, aguardando a vez para estuprar a jovem. Na gravação se observa como alguns deles entram sucessivamente no quarto.
O clamor de repúdio passou às redes sociais, onde se multiplicam as acusações contra os responsáveis do hotel em Eilat por não impedir o estupro denunciado. A direção do estabelecimento se limitou a afirmar que os fatos investigados pela polícia não ocorreram dentro do recinto do hotel.
“Acreditamos em você”; “não está sozinha”, diziam alguns dos cartazes exibidos nas enormes marchas de repúdio convocadas em Tel Aviv, Jerusalém, Haifa e outras três dezenas de cidades israelenses. Enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tachava de “crime contra a humanidade” o estupro coletivo, os manifestantes responsabilizaram o Governo por não subsidiar suficientemente as organizações que oferecem programas para prevenir as agressões sexuais e a violência contra as mulheres.
Dos mais de 1.250 casos de estupro grupal denunciados em Israel durante os últimos cinco anos, a polícia só abriu 84 investigações formais, segundo um relatório da Associação de Centros de Atendimento a Mulheres Estupradas citado pelo jornal Haaretz. De acordo com as estatísticas policiais, 63% dos casos investigados em 2018 afetaram vítimas com idades de 12 a 18 anos. Nove em cada dez casos abertos pela Promotoria são arquivados.
Apesar da complexidade de seu tecido social, fragmentado em compartimentos algumas vezes estanques e antiéticos, Israel é uma sociedade relativamente avançada em matéria de liberdade sexual, onde acaba de entrar em vigor uma lei que multa os clientes de prostituição e o coletivo LGBTI possui liberdade sem comparação no Oriente Médio. O atroz estupro grupal denunciado em Eilat, entretanto, coloca em xeque a validade das medidas de proteção das mulheres contra a violência sexual e a consistência dos valores em que os setores da população masculina foram educados.
Fonte: EL País
Créditos: EL País