12 anos de prisão

ESTUPRO DE VULNERÁVEL: Condenado por exploração sexual de menor, irmão de Garotinho assume como deputado federal

Condenado a 12 anos de prisão por exploração sexual de menor, Nelson Nahim (PSD-RJ) assumiu na quarta-feira (4) uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele é irmão do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Nahim ocupará o lugar de Índio da Costa (PSD-RJ), que se licenciou do mandato parlamentar para comandar a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação do Rio.

Nelson Nahim
Nelson Nahim (PSD-RJ) assumiu como suplente no lugar de Índio da Costa, que se licenciou do mandato para comandar secretaria no Rio de Janeiro.

Condenado a 12 anos de prisão por exploração sexual de menor, Nelson Nahim (PSD-RJ) assumiu  uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele é irmão do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho.
Nahim ocupa o lugar de Índio da Costa (PSD-RJ), que se licenciou do mandato parlamentar para comandar a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação do Rio.
Ex-presidente da Câmara de Campos dos Goytacazes, Nelson Nahim chegou a ficar preso por mais de quatro meses, mas foi solto em outubro do ano passado graças a um habeas corpus.
Ele foi condenado a 12 anos de prisão por estupro de vulnerável, coação no curso do processo e exploração sexual de adolescentes no caso que ficou conhecido como “Meninas de Guarus”.
O G1 procurou, por telefone, o deputado em seu gabinete funcional, mas não conseguiu localizá-lo. O Poder Legislativo está em recesso até o início de fevereiro.
Nesta sexta (6), Anthony Garotinho divulgou uma nota (leia a íntegra ao final desta reportagem) na qual informou estar afastado do irmão há seis anos. Ele também acrescentou que não mantém relações políticas com Nahim.
Nahim já tinha assumido uma outra vez como deputado suplente no dia 15 de dezembro de 2015, mas se afastou no dia seguinte.
O caso

Ao todo, 14 pessoas foram condenadas no caso “Meninas de Guarus”, que começou a ser investigado desde 2009. De acordo com a denúncia, os réus mantinham e exploravam sexualmente crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos, em uma casa em Guarus, distrito de Campos.
O lugar era mantido com as portas e janelas trancadas, sempre sob vigília armada, e as vítimas eram obrigadas a consumir drogas. Segundo o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, elas chegavam a fazer 30 programas por dia.
Após a negociação do valor do programa, as vítimas eram levadas de carro até os “clientes” para realizar programas sexuais em diversos motéis e alguns hotéis da cidade.
Pelos programas realizados, recebiam comida e drogas e, em alguns casos, uma parte do valor pago pelo “cliente”. O bando também firmou convênios com proprietários de hotéis e motéis locais, onde parte dos encontros era realizada.
Nota

Leia abaixo a íntegra da nota de Anthony Garotinho sobre o assunto:
O ex-governador Anthony Garotinho esclarece que, há seis anos, está afastado do seu irmão Nelson Nahim Mateus de Oliveira, com quem, inclusive, não mantém relações políticas.
O ex-governador lembra que Nahim fez campanha, em 2014, para o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), contra quem Garotinho concorria na eleição para o Palácio Guanabara. Na época, Nahim foi, inclusive, um dos coordenadores da campanha de Pezão no Norte-Fluminense do estado.
Garotinho acrescenta que repudia o crime de pedofilia cometido por qualquer pessoa.

 

A CONDENAÇÃO EM 2016

 

Após sete anos de investigação, 14 são condenados por abuso sexual de meninas
Entre os acusados dos crimes, ocorridos em Campos, há políticos, policiais e empresários. Doze estão presos

POR ANTÔNIO WERNECK
RIO – Sete anos depois do início das investigações, 14 pessoas envolvidas num dos mais brutais casos de exploração sexual de crianças e adolescentes foram condenadas na quarta-feira, em Campos, no Norte Fluminense, a penas de seis a 31 anos de prisão. Nesta quinta-feira, a polícia prendeu 12 dos réus, entre empresários, comerciantes, policiais e políticos, do caso que ficou conhecido como “Meninas de Guarus”. Um dos detidos é Nelson Nahim, ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara de Campos, irmão do ex-governador Anthony Garotinho. Dois homens estão foragidos.

Segundo as investigações, pelo menos 15 crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos, todas muito pobres, foram cooptadas por Leílson Rocha da Silva e pelos ex-vereadores Thiago Machado Calil e Fabrício Trindade Calil, sendo mantidas em cárcere privado numa casa em Guarus, sob vigilância armada. Durante um ano, entre maio de 2008 e maio de 2009, elas só deixavam o local para programas sexuais. Antes, porém, eram obrigadas a usar drogas.

De acordo com o Ministério Público, 17 juízes se recusaram a julgar o caso, alegando algum tipo de impedimento. O Tribunal de Justiça não se pronunciou sobre o caso.

Agora, a maior pena foi dada a Leílson, condenado a 31 anos de prisão. Os dois ex-vereadores receberam 25 anos e oito meses cada um, em regime fechado. O empresário Renato Pinheiro Duarte, apontado como dono de motéis que serviam para os encontros, foi condenado a 14 anos de reclusão.

Já o ex-deputado Nahim recebeu uma pena de 12 anos em regime fechado, pela prática de estupro, coação no curso do processo e por infringir o artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata da submissão de criança ou adolescente a prostituição ou exploração sexual. Na denúncia oferecida à Justiça, o político foi apontado por sua relação com uma adolescente de 15 anos conhecida por Barbie Girl, com quem mantinha encontros sexuais no sítio Nossa Senhora das Graças, na localidade de Caixeta, em Campos, que pertencia a ele. Segundo a denúncia, a adolescente desfrutava de tratamento diferenciado por ser a favorita de Nahim e ter o número dele gravado no celular.

VÍTIMA ESCAPOU E DENUNCIOU CRIME

O crime só veio à tona depois que uma das vítimas conseguiu fugir e procurou o Conselho Tutelar. Segundo o Ministério Público estadual, pelo menos três crianças desapareceram, nunca foram encontradas e podem ter sido mortas.

No total, 20 pessoas foram denunciadas pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP. A juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, em exercício na 3ª Vara Criminal de Campos, condenou 14 e absolveu seis.

Em nota publicada em seu blog, Garotinho, atual secretário de Governo da prefeitura de Campos, lamentou a prisão do irmão e disse estar há seis anos rompido com ele. “Nunca mais nos falamos, inclusive, na última eleição ao governo do estado, ele foi candidato a deputado federal na coligação liderada pelo PMDB e foi um dos coordenadores da campanha de Pezão no município de Campos contra mim. Amar um irmão não significa concordar com suas atitudes nem pessoais nem políticas”, escreveu.

A condenação é de primeira instância, e ainda cabe recurso.

— Chegamos a vários nomes, mas muitos não foram confirmados nas investigações. Reunimos indícios de materialidade contra 20. A juíza condenou 14. Agora vamos estudar se recorreremos — disse a promotora Ludimila Rodrigues, do Gaeco.

PROGRAMAS CUSTAVAM ENTRE R$ 80 E R$ 300

Testemunhas dos crimes revelaram que o preço cobrado pelos acusados para os programas sexuais com crianças e adolescentes eram proporcionais ao tempo de duração dos encontros. Por uma hora, os clientes tinham que desembolsar R$ 80. Três horas de programa custavam R$ 150. Segundo os investigadores, o grupo cobrava R$ 300 quando o cliente queria passar a noite toda com as meninas obrigadas a se prostituírem.

PUBLICIDADE
Na sentença, a juíza Daniela Assumpção individualizou as condenações, conforme a participação de cada um dos acusados em crimes como sequestro e cárcere privado, formação de quadrilha, rufianismo, tráfico de drogas, oferecimento de drogas para consumo, estupro e submeter criança ou adolescente a prostituição e exploração.

A magistrada também decretou a perda das funções públicas dos policiais militares Fábio Lopes da Cruz, Robson Silva de Barros Costa e Ronaldo de Souza Santos, condenados no processo, e escreveu: “O Judiciário deve agir com rigor para combater o criminoso travestido de agente público, protegendo a sociedade de sua interferência nefasta, em razão do que a perda da sua função pública é medida que se faz absolutamente necessária em casos desta natureza”.

UMA JUÍZA CONHECIDA POR SER LINHA-DURA

Daniela acabou com regalias de PMs presos – Márcia Foletto/18-11-2015
A juíza que assumiu a missão de julgar um processo que seus pares evitavam é conhecida por ser linha-dura, característica que rendeu a Daniela Barbosa Assumpção de Souza o apelido de Kate Mahoney, nome da policial da série de TV “Dama de ouro”, sucesso nos anos 1980. Quando estava lotada no Tribunal Regional Eleitoral, foi responsável pela cassação do ex-prefeito de Teresópolis Mário Tricano, que tinha mais de 20 anotações criminais, mas nenhuma condenação. No ano passado, Daniela acabou com as regalias no Batalhão Especial de Benfica (BEP), onde estavam presos cerca de 230 PMs. Logo depois, ao fazer uma inspeção de rotina no local, foi agredida pelos detentos, revoltados com a retirada de suas televisões e geladeiras. Daniela voltou escoltada para terminar a vistoria. O episódio levou ao fechamento do BEP. Daniela, segundo amigos, é adepta da máxima de que “a lei vale para todos”.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/apos-sete-anos-de-investigacao-14-sao-condenados-por-abuso-sexual-de-meninas-19478024#ixzz4V5SkKdU6
© 1996 – 2017. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Fonte: Por G1, Brasília