Estupidez em alta

Rubens Nóbrega

Atribuem ao cineasta francês Claude Chabrol uma das frases que considero extremamente adequada para definir – ou tentar entender – o quanto o poder altera é capaz de alterar a percepção do real e as decisões dos nossos poderosos eventuais.
“A estupidez é infinitamente mais fascinante que a inteligência; a inteligência tem seus limites, a estupidez não!”, teria dito Chabrol, a quem recorro hoje para definir ou tentar entender porque chegamos ao fundo do poço em matéria de segurança pública e o nosso governo insiste em continuar cavando.
Lembrei-me da ‘pérola’ chabroliana, ontem, depois de ler que o Ricardus I, através de portaria do Secretário de Segurança, resolveu reduzir em 10 horas (de 160 para 150 horas por mês) a jornada dos delegados da Polícia Civil.
Aparentemente, a medida foi adotada para o Estado economizar – vejam só! –uma complementação salarial (que deve ser uma miséria) paga aos delegados que aceitavam – pasmem! – responder por até dez delegacias no despoliciado e violento interior da Paraíba.
Com isso, “centenas de municípios paraibanos devem ficar sem delegados já a partir dos próximos dias”, declarou ao Portal Correio o Doutor Cláudio Lameirão, presidente da Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba (Adepdel).
“Talvez não faça diferença”, deve ter pensado o governo, porque diferença nenhuma deve fazer para o comandante maior da força pública do nosso Estado se é o bandido, e não a Polícia, que na Paraíba inteira está ‘positivo e operante’, como diria a turma do Casseta & Planeta.
Mas, se para Sua Majestade e seu governo a segurança da população parece não ter importância alguma, para os cidadãos ela pode fazer a diferença entre a vida e a morte ou entre trocar dignidade, sossego e patrimônio pela sensação de impotência ou de pavor sob a mira de um revólver nas mãos de um celerado qualquer.
Que o digam, por exemplo, funcionários e clientes de casa lotérica de São José da Lagoa Tapada, assaltados na sexta-feira (27). Que o digam dois empresários de Cajazeiras assaltados no final de semana. Que o digam quem estava trabalhando ou pagando contas ontem na agência dos Correios de Emas, assaltados ontem.
Eles se transformaram nas mais recentes vítimas sorteadas pela Bandoteca, loteria que os facínoras devem ter instituído na Paraíba depois de conferir a inércia associada à incompetência do Governo do Estado para prover segurança, reforçadas pela celeridade com que o mesmo governo reprime movimentos, indefere reivindicações e confisca vantagens salariais da Polícia Militar ou Civil.
Por essas e outras, não é difícil perceber uma nítida redução na presença e nos serviços policiais até nas ruas da Capital, onde o policiamento de exibição é ostensivo, onde pessoas de bem são agredidas cotidianamente ou ameaçadas por meliantes, tanto os contumazes como os incidentais, entre esses alguns filhinhos de papai que usam o poder da grana e a caranga que têm para atentar contra a vida de seus semelhantes.
A respeito dessa categoria de malfeitores, prestem atenção, por favor, no relato que transcrevo a seguir e me digam depois se não estamos à mercê, completamente à mercê, por conta desse arremedo de governo que nos legou aquele monumental equívoco das urnas de 2010.

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Caro Rubens Nóbrega, recorro ao seu espaço para colocar leitores a par de um fato lamentável ocorrido no último sábado em nossa Capital, em razão de um incidente que poderia ter tirado a vida de algum amigo seu dos muitos que caminham de manhã cedo pela Argemiro de Figueiredo, no Bessa.
Por volta das seis da manhã, caminhava por aquela avenida no lado recentemente reservado aos praticantes do Cooper, quando verifiquei dois indivíduos jovens ocupando uma portentosa camioneta preta, fechada, propositadamente avançando sobre os cones ali colocados, destruindo alguns.
Ao passar perto de mim, o motorista, cujo estado de embriaguez era visível, bem como o do passageiro, desviou o veículo em minha direção e atingiu o cone, jogando tal
peça violentamente na minha direção, passando a poucos metros da minha cabeça. Mais adiante, atingiu outro cone e a peça ficou presa entre a roda e o pára-choque, obrigando-o a parar e retirá-la, saindo em seguida em alta velocidade, sem ser incomodado por ninguém, já que não havia no local ou por perto um único policial e muito menos guarda da STTrans.
O fato causou grande revolta entre os praticantes de Cooper, dentre eles o ex-conselheiro e ex-secretário Marcus Ubiratan que assistiu a tudo. Na oportunidade, um cidadão que tinha avistado o veículo pouco antes de nós revelou que conseguiu ver que se tratava de carro emplacado em Pernambuco.
Ele só reteve a numeração da placa (3803). Não lhe foi possível anotar as letras, mas ele comentou que tal coisa acontecia em razão de nossa Polícia não estar fazendo a sua obrigação, que seria – a exemplo do que acontece em outros estados – realizar blitzen nos finais de semana para prender e autuar embriagados dirigindo.
A Polícia deveria estar fiscalizando esses potenciais assassinos mesmo nas áreas mais chiques da cidade, onde definitivamente a nossa PM parece impedida de agir, talvez pelo temor de ‘magoar’ algum filhinho de papai da nossa deprimente elite.
De qualquer sorte, caro Rubens, terminei minha caminhada por volta das 7h. Mas, voltando pra casa, atesto que não consegui avistar uma única viatura da Polícia Militar ou da STTrans no meu percurso.