por Josival Pereira
A política da Paraíba é cruel. Cruel demais com o cidadão ou cidadã que paga imposto e que não tem, em troca, os serviços que o Estado tem obrigação de oferecer (segurança, saúde, educação, etc.). É que a política paraibana está quase sempre a serviço dos interesses de grupos e dos partidos e quase nunca a serviço do povo.
A informação consolidada é que o secretário de Planejamento do Estado, Gustavo Nogueira, deixará o cargo nas próximas horas. Talvez na segunda-feira, quando o PSDB vai decidir o que fazer em relação ao governo neste momento de iminente rompimento da aliança entre tucanos e socialistas que vigora desde 2010.
O problema é que Nogueira é, praticamente, o único nome no governo adotado pelo senador Cássio Cunha Lima como indicação de sua lavra, que sustenta não ter outros apadrinhados na estrutura do Estado. Talvez seja uma meia verdade. Ou seja, no primeiro escalão restaria a fidelidade de Nogueira, mas haveria centenas de parentes e afilhados nos demais escalões do governo. Mas essa é outra questão.
Importa que o PSDB deverá usar o pedido de exoneração do secretário Gustavo Nogueira como suposta bandeira ética. Já que pode romper e lançar candidato, entregaria o cargo que tem. No caso dos demais postos, a responsabilidade de demissão seria repassada ao governador Ricardo Coutinho.
É lamentável. Primeiro, porque o secretário Gustavo Nogueira é um dos poucos quadros técnicos de destaque no serviço público, pela competência e, sobretudo, pela visão voltada para a defesa do Estado e não da política partidária.
Depois, porque Nogueira acaba de entregar o Plano de Desenvolvimento Estratégico da Paraíba, que coordenou no governo Ricardo Coutinho, com um conjunto de indicativos de investimentos para os próximos 20 anos. Trata-se de um estudo robusto e que, de fato, contém diretrizes para o desenvolvimento do Estado. Merece toda a atenção da sociedade, dos empresários e dos políticos, embora seja difícil que os últimos prestem alguma atenção no plano. O ideal é que ele ficasse no governo para conduzir execução do plano.
Mas não é assim que funciona na Paraíba. Aqui, o Estado está quase que totalmente a serviço da política. Não importa, pois, a capacidade técnico-profissional. Vale a cor da camisa partidária.
Não há como não lastimar essa triste cultura política, porque não são muitos os profissionais competentes no serviço público. Os melhores quadros técnicos vão quase todos para a iniciativa privada, que paga melhores salários e confere mais estabilidade ao profissional. O serviço público vira gangorra por causa da política. Na Paraíba, a gangorra é mil vezes pior em anos eleitorais.
O secretário Gustavo Nogueira está sendo atropelado pelas brigas políticas. Não haveria problema algum de, enquanto profissional, ele continuar no cargo. Mas essa é uma situação impensável na Paraíba. Ele é do PSDB, ligado a Cássio, que reivindica sua fidelidade. Do outro lado, certamente não haverá nenhum gesto do governador Ricardo Coutinho para sua segurá-lo no cargo, a não ser que se disponha a mudar de posição partidária.
Esse caso de Gustavo Nogueira não chega a ser uma novidade. Muitos outros capacitados quadros técnicos já foram catapultados do serviço público pela máquina da estupidez política que historicamente domina o Estado. É apenas mais um sintoma da grave doença que corrói a Paraíba, que é o predomínio da política dos interesses grupais em detrimento do Estado. Pior é que o mal é grave e não há nem sinais de recuperação do paciente. Assim, a Paraíba vai continuar moribunda.