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Estudo consegue detectar partículas de coronavírus no ar de hospital

Os cientistas esperam na próxima etapa do estudo testar o quanto esse ar realmente é infeccioso.

Um grupo de 239 cientistas de 32 países afirmou no mês passado que partículas do novo coronavírus permanecem no ar em ambientes fechados, sendo capazes de infectar as pessoas. Agora, um estudo preliminar publicado na plataforma MedRxiv (sem revisão por pares) e desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Flórida (EUA), parece ter confirmado a tese: o novo coronavírus pode sobreviver no ar.

O estudo mostrou que as partículas do vírus podem permanecer no ar como aerossóis fazendo com que se espalhem mais rapidamente. A transmissão por aerossol ocorre quando várias gotículas respiratórias produzem aerossóis microscópicos por evaporação, e quando uma pessoa respira, tosse, espirra ou fala. Os aerossóis contêm vírus em quantidade suficiente para causar infecção.

Como foi feito o estudo?

A equipe coletou amostras de ar de uma sala de enfermaria do Hospital de Shands. Para o teste foram usados dois pacientes infectados por coronavírus.

Os especialistas conseguiram isolar o vírus vivo de aerossóis coletados a uma distância de 2 a 4,8 metros dos pacientes.

Os aerossóis são minúsculos por definição, medindo apenas cinco micrômetros de diâmetro, e a evaporação pode torná-los ainda menores. As tentativas de capturar essas gotículas delicadas geralmente danificam o vírus que contêm.

Por isso, nesse novo estudo, os pesquisadores desenvolveram um amostrador que usa vapor de água puro para aumentar os aerossóis o suficiente para que possam ser coletados facilmente do ar. Além disso, em vez de deixar esses aerossóis parados, o equipamento os transfere imediatamente para um líquido rico em sais, açúcar e proteínas, que preserva o patógeno.

Em entrevista ao jornal The New York Times, Sheila Miller, engenheira ambiental da Universidade do Colorado em Boulder, que estuda a qualidade do ar e doenças transmitidas pelo ar destacou a dificuldade do trabalho.

“É muito difícil coletar amostras de material biológico do ar e torná-lo viável. Temos que ser espertos na amostragem de material biológico para que seja mais semelhante a como você pode inalá-lo”.

Os pesquisadores já haviam usado esse método para coletar amostras de ar de quartos de hospitais. Entretanto, nessas tentativas, outros vírus respiratórios flutuantes cresceram mais rápido, dificultando o isolamento do coronavírus.

“Estou impressionado. É uma técnica de medição muito inteligente”, disse ao The New York Times, Robyn Schofield, um químico atmosférico da Universidade de Melbourne, na Austrália, que mede aerossóis sobre o oceano.

O que mostram os resultados?

Os cientistas foram capazes de coletar vírus em ambas as distâncias e, em seguida, mostrar que o vírus que haviam coletado do ar poderia infectar células em uma placa de laboratório. A sequência do genoma do vírus isolado era idêntica à de um cotonete de um paciente sintomático recém-chegado na sala do hospital.

Embora seja um passo importante, os especialistas pedem precaução e dizem que ainda não podem estimar o risco de infecção. Para isto são necessários mais estudos.

“Não tenho certeza de que esses números sejam altos o suficiente para causar uma infecção em alguém. A única conclusão que posso tirar deste artigo é que você pode cultivar um vírus viável do ar”, opina Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), ressaltando, porém, que “isso não é pouca coisa”.

Por que essa confirmação é importante?

Uma vez constatada, as descobertas podem levar as pessoas a tomarem cuidado com a transmissão aérea. “Todos nós sabemos que esse vírus pode se transmitir por todos esses modos, mas estamos focando apenas em um pequeno subconjunto”, argumenta Seema Lakdawala, especialista em vírus respiratórios da Universidade de Pittsburgh.

De acordo com John Lednicky, virologista, chefe da equipe da Universidade da Flórida, os espaços internos com pouca ventilação, como algumas salas de escolas e escritórios, por exemplo, podem acumular muito mais vírus transportados pelo ar.

Outro estudo em Chicago também está em curso

Esse estudo está em andamento e visa analisar como o coronavírus se espalha pelo ar. Isso porque, embora esteja comprovado que algumas partículas de vírus se movem pelo ar, ainda não se sabe até que ponto e com que extensão elas viajam ao redor de pessoas infectadas. E é justamente isso que especialistas da University of Chicago Medicine querem entender.

Os pesquisadores também estão monitorando o ar nos quartos de hospital. A equipe montou pequenos monitores para coletar amostras de ar nos quartos dos pacientes. Os participantes variam desde aqueles internados em UTI e os que estão em condições menos graves, até aqueles que não têm covid-19.

A colocação dos monitores varia desde perto da cabeça do paciente, até a porta, até cerca de 3 metros de distância. Depois que o material no ar é coletado, o laboratório mede a quantidade de vírus nas amostras e a distância que ele percorreu do paciente.

O professor de engenharia molecular Savas Tay, da Universidade de Chicago disse ao site de notícias SciTechDaily que a intenção é descobrir os mecanismos do coronavírus no ar.

“Em qualquer sala queremos saber onde estão os pontos de acesso, onde os pacientes estão exalando o vírus. Esperamos saber quais pacientes são muito infecciosos e expelem muitos vírus, como essa carga viral muda no ar ao longo do tempo com o tratamento, e quais tratamentos aumentam ou diminuem a carga viral no ar”, disse Tay.

Os cientistas esperam na próxima etapa do estudo testar o quanto esse ar realmente é infeccioso. O estudo atual simplesmente detecta a presença do material genético do vírus, mas os coronavírus são relativamente frágeis, no momento em que circula à distância, pode ou não ainda ser capaz de causar infecção.

Fonte: UOL
Créditos: UOL