Eleitores precisam ter cuidado com os ‘fake men’, diz Xico Graziano
O que importa é o conteúdo
Ciro Gomes soltou sua língua ferina contra o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM), chamando-o de “capitãozinho do mato”. Pegou mal. Por ser, o vereador, negro e gay, acabou o presidenciável taxado de preconceituoso. Era melhor ter ficado quieto.
Desnecessariamente agressivo, Ciro Gomes utilizou ademais uma metáfora infeliz e equivocada. Capitães do mato, na história brasileira, eram pessoas violentas, rudes e vingativas, que viviam de recompensa na captura de escravos fugitivos. Mercenários.
Tal perfil não combina com a personalidade jovial de Fernando Holiday, um rapaz educado, com formação liberal. Ele não merecia essa patada. A figura de linguagem virou ofensa moral.
O destempero verbal demonstra uma característica imutável da personalidade de Ciro Gomes. Irônico, ele perde fácil o fio da meada e deriva para o insulto com incrível facilidade. Sua língua incontrolável já o prejudicou várias vezes. Continua.
É curioso analisar, sem julgar mérito, o trejeito do discurso de nossos candidatos presidenciais. Assim como cada um de nós, cada qual carrega na fala seu modo característico de ser. Nossa essência se revela quando abrimos a boca.
Geraldo Alckmin é sempre calmo, previsível, pausado em seus pronunciamentos. Experiente, de seus lábios, raramente, sai um disparate, um grito, uma bobagem. Nem novidade.
Marina Silva tem palavras meigas e forma frases compridas, densas. Seu raciocínio é articulado, alinhavado, o que o torna meio difícil. Às vezes, enfadonho.
Bolsonaro é certeiro, rápido na fala, desbocado. Militarista, parece estar sempre no ataque. Sua alocução é impetuosa, e perigosa.
Alvaro Dias mostra-se manso, preparado, se exprime bem. Vaidoso, emposta a voz, parecendo discursar para seus próprios ouvidos.
Cada um deles, pessoas proeminentes na sociedade, agrada a um certo público ou segmento social, atende a uma expectativa deste momento eleitoral. Inexiste certo ou errado no discurso político.
O ponto de minha reflexão reside no seguinte: você prefere um candidato sincero, que se expõe livremente e, eventualmente, mostra suas falhas, ou prefere um daqueles moldados, redondos, que falam apenas o que o povo gostaria de ouvir?
Nessa época digital onde imperam e, por justa reação, se combatem as fake news, é preciso tomar cuidado também com os fake men. Os marqueteiros políticos e suas equipes de media training se esforçam em treinar candidatos para lhes domar o impulso.
Nesse contexto, Paulo Maluf virou benchmark na técnica de esquecer as perguntas dos jornalistas e responder, mudando o assunto, apenas aquilo que lhe interessa dizer. Tudo previamente arquitetado.
Dissimular o pensamento real virou uma arte da política tradicional, definindo um estilo de certo modo aceito pelos eleitores, tipo me engana que eu gosto. Funcionava bem até aflorar a transparência de condutas provocada pelas redes sociais. Acabou o embuste.
São distintos os desafios das lideranças políticas do século 21. Transmitir sinceridade é o maior deles. Eu prefiro ver o Ciro Gomes falando besteiras que, porventura, o encontrar docilizado. É no destempero dele que descubro o que ele, realmente, pensa.
Já pensaram a Marina Silva falando grosso; o Geraldo gritando; o Bolsonaro elaborando; o Alvaro Dias sendo direto? Todos seriam fakes deles próprios.
O que verdadeiramente importa é o conteúdo, a proposta, a ideia, o pensamento, os valores que evidenciam. O cara responde, ou enrola; mostra sapiência, ou engana; é verdadeiro, ou falso? O resto –a forma– é pura figuração.
O Brasil precisa se livrar daquele marketing político que engana a nação e transforma anta em líder. Que falem à vontade, mostrem seu âmago, exponham suas virtudes e suas fraquezas. Será melhor assim.
Fonte: https://www.poder360.com.br/
Créditos: Xico Graziano