Essa mordomia vai acabar!

Rubens Nóbrega

Segundo o Aurélio, “mordomias são vantagens tais como moradia, condução, criadagem, alimentação, etc., proporcionadas pelo empregador (privado ou público) a certos executivos, e que lhes aumenta indiretamente os honorários e salários sem aumento do imposto sobre a renda”.

Já o Houaiss acrescenta que mordomia também é “abuso de poder na utilização do patrimônio público para atender interesses particulares” ou “qualquer regalia, conforto que se pode desfrutar, sem que se tenha de despender qualquer esforço”.

Desconfio que na Paraíba os nossos dirigentes públicos, especialmente os exercentes de cargos estaduais, preenchem ou atendem a todas as acepções, sentidos e significados da palavra mordomia.

Até por ser difícil encontrar um que não use nem abuse de tudo o que a Viúva pode lhes dar sem que mereça ou tenha que gastar um centavo do próprio bolso para tamanho desfrute. A exceção seria o Doutor Luzemar Martins, secretário-chefe da Controladoria-Geral do Estado. Se der, depois eu conto porque. Por hora, vejamos algumas situações que nos empobrecem e nos entristecem.

Da coroação do Ricardus I, em 1º de janeiro de 2011, ao final de fevereiro deste ano, o contribuinte já pagou mais de R$ 6 milhões pelos carros que esse governo alugou a apenas uma empresa, a Localiza, conforme atesta o Sagres, ferramenta que permite a qualquer um acompanhar os gastos públicos consumados. Consulte, no portal do Tribunal de Contas do Estado (sagres.tce.pb.gov.br).

Evidente que outras locadoras de veículo trabalharam e trabalham para o governo. A despesa é muito maior do que R$ 6 milhões. E tudo isso só pra gente bancar carros que atendem na maioria das vezes à mordomia explícita do governador, secretários, assessores, aspones, comissionados e prestadores de serviço potencialmente alistados no exército de cabos eleitorais do grupo da hora que manda na Paraíba.

Agora, diga aí: por que você, eu e todos nós pobres mortais temos que pagar carro, motorista e gasolina para buscar e levar pra todo canto um secretário de Estado que ganha mais de R$ 13 mil por mês e poderia perfeitamente usar seu próprio carro para se deslocar de casa pro trabalho e onde mais quisesse?

E o nosso imperador? Você sabia que só com diárias o homem embolsou R$ 33.625 em apenas 14 meses de governo? E o que dizer dos R$ 120 mil que desembolsamos por apenas três viagens de táxi aéreo (da Weston, firma de Pernambuco) para levá-lo a lugares para os quais o monarca poderia perfeitamente voar em aviões de carreira a um custo vinte vezes menor?

É um absurdo completo pagar tantos impostos e viver em um Estado tão pobre para custear mordomias tão injustificáveis de seus governantes. Ainda mais que a gente não vê retorno do ‘investimento’, feito quase sempre em função do seu beneficiário direto e não do conjunto de pessoas que ele deveria representar.

Está mais do que na hora, portanto, de a gente acabar com essa farra, que só em relação aos gastos aqui mencionados inclui mais de R$ 5,5 milhões pagos a postos de gasolina diversos no mesmo período e outros R$ 17,5 milhões consumidos por serviços de agências de viagem e turismo em apenas um ano e dois meses da gestão ‘socialista’.

R$ 28 milhões, por baixo

No total, no mínimo R$ 28 milhões saíram do cofre público em um ano e dois meses tão somente para garantir luxo, conforto e comodidade sobre rodas ou asas para os donos do poder. Já pensou o que a gente poderia fazer ou comprar com tanto dinheiro? Umas 1.200 casas populares, 60 escolas, 10 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) ou dois Cuiás (afinal, tem gosto e esquema pra tudo, não é?).

É um acinte, digo-lhes com toda sinceridade d’alma e antecipado pedido de desculpas aos que acham que “é assim mesmo”, não adianta falar, reclamar e muito menos criticar porque “nada vai mudar”. Vai, vai mudar sim.

Não podemos nos conformar em viver eternamente numa terra onde milhões de viventes ou sobreviventes amargam a mais absoluta miséria, enquanto uns poucos reinam na mais afrontosa opulência, que chegará ao fim, garanto, se daqui a dois anos os paraibanos me derem a chance de tomar a caneta das mãos de Ricardo Coutinho.

Com a poderosa vou escrever uma nova história na gestão dos recursos públicos do povo paraibano, começando pela assinatura de decretos e mensagens ao Legislativo que se destinam ao extermínio de todas as mordomias que nossos agentes políticos se atribuem. E os outros poderes vão ter que aderir. Não aguentarão a pressão de uma cidadania esclarecida, suficientemente informada, plenamente consciente.

Mas, até lá, sejamos justos: as mordomias não são privilégio exclusivo do Poder Executivo nem o único culpado pela situação degradante e abominável a que chegamos é o nosso atual governador. Ele apenas tende a piorar o que sempre foi muito ruim. Seja porque gosta mesmo dos regalos e com eles se esbalda, seja porque concentra muito poder e seu absolutismo faz com que se julgue acima das pessoas e das leis. Imune, portanto, a todos e quaisquer limites.

Então, caríssimas leitoras, caríssimos leitores, até quando vamos suportar isso? Inda mais sabendo que Sua Majestade é, sem dúvida alguma, a mais desfavorável relação custo x benefício que já tivemos em matéria de governante até agora. Constatação que me faz repetir e insistir: do jeito que é e vai, ainda que trabalhasse de graça, para um bom número de paraibanos o nosso soberano sairia muito caro.