Especialista analisa pesquisa 6Sigma e destaca disputa polarizada por Cartaxo e Azevedo

"João Azevedo ainda tem um discurso bastante técnico, mas isso certamente deverá mudar quando 2016 começar"

disputa eleitoralO cientista político e professor universitário Flávio Lúcio Vieira analisou os números divulgados nesta segunda-feira, 28, para a disputa eleitoral de 2016, em João Pessoa.

A pesquisa realizada pelo Instituto 6Sigma, encomendado pelo Sistema Correio de Comunicação traz dados acerca da aprovação da gestão do prefeito Luciano Cartaxo e das intenções de votos dos principais pré-candidatos a prefeito no próximo ano.

Entre os pontos comentados, estão os 3,1% de intenções de votos dedicados ao socialista João Azevedo, que foram comparados aos números apresentados em pesquisas de campanhas passadas para o, então, candidato Ricardo Coutinho (PSB) na disputa vitoriosa pelo governo da Paraíba.

Leia aqui a análise de Flávio Lúcio Vieira:

Sobre a pesquisa Correio-6Sigma, divulgada hoje, que avaliou a administração pessoense e aferiu a preferência do eleitorado para 2016, destaco os seguinte pontos:

1. A pesquisa da 6Sigma divulgada hoje diferente das realizadas anteriormente pelo Instituto IP4 porque, acertadamente, não restringiu as opções da população pesquisada apenas entre os que APROVAM e os que DESAPROVAM a gestão Cartaxo.

2. A soma dos que acham a administração Cartaxo ótima (15,8%) e boa (39,6%) chega aos 55,4%. Inexplicavelmente, o O Correio agrega os 26,7% que a consideram REGULAR a administração pessoense entre os que a “aprovam”, elevando esse índice a 67,3%.

3. Esse critério, por exemplo, não é utilizado quando se trata da avaliação do governo da presidenta Dilma, quando o Correio exclui os que avaliam o governo como regular do contingente dos que o aprovam.

Na última pesquisa divulgada pelo Portal Correio, por exemplo, a opção “regular” de Dilma atingiu 10% e elevaria os que aprovam o governo de 9% para 19%.

4. Comparando os índices de Ótimo e Bom da pesquisa 6Sigma (55,4%) com os números obtidos pelas pesquisas anteriores realizadas pelo IP4 – que apenas aferiu os que aprovavam e desaprovam o governo municipal – teremos uma queda abrupta na avaliação positiva da administração Cartaxo, que saiu de 73,3% em novembro de 2013 para 55,4% dois anos depois, ou seja, uma perda de quase 18 pontos percentuais (29% de perda). Mesmo se incluirmos os que marcaram “regular” na pesquisa 6Sigma como avaliação positiva (67,3%) teremos ainda uma queda de 6%, ou quase 10% na avalização positiva.

ELEIÇÕES

5. Na pesquisa eleitoral, Cartaxo teria hoje, três anos após iniciada sua administração, 44,3% dos votos válidos. Para quem está em exposição quase que permanente na mídia, “inaugurando duas obras por dia” desde meados do ano em curso, esses não são números que, apesar de expressivos, não podem deixar o prefeito tranquilo. Pelo contrário. Um prefeito bem avaliado teria, sem que seus adversários tenham a exposição que um prefeito no cargo dispõe, números bem mais expressivos.

6. E nessa fase da disputa o que importa mesmo são os números da pesquisa espontânea. Nesse quesito, Luciano Cartaxo tem 27,7%, o que pelo menos já lhe assegura no segundo turno. É bom lembrar, entretanto. que Cássio ostentou números semelhantes dois anos antes da eleição de 2014, mas nunca chegou a superar a marca dos 50%. É preciso, portanto, saber se há um limite de votos para Luciano Cartaxo e qual seu real potencial de crescimento, o que só saberemos com algum grau de confiança quando começar a campanha na TV daqui a oito meses.

6. Um dado a impressionar nessa pesquisa foram os índices referentes às opções NULO e BRANCO: 21,6%! É um dado preocupante que certamente está relacionado aos recentes escândalos que abalaram o país durante todo o ano e que colocou em xeque a atividade política, ampliando ainda mais o seu descrédito.

Essa enxurrada de denúncias, por exemplo, atingiu indistintamente todos os possíveis candidatos à presidência em 2018, todos hoje próximos ou acima de uma rejeição de 50%, como mostraram pesquisas recentes.

7. Ou seja, essa não será um conjuntura fácil para candidato de práticas políticas e administrativas tradicionais ou que possam ser identificados com elas. Muito menos para aqueles sobre os quais pesem suspeitas de malversação do dinheiro público.

8. Sobre o desempenho de João Azevedo,que obteve 3,1% nessa pesquisa, é preciso considerar tanto a baixa exposição e o pouco conhecimento que o eleitorado tem do seu nome, bem como o perfil do candidato.

Azevedo, por exemplo, ainda tem um discurso excessivamente administrativo quando concede entrevistas, o que certamente deverá mudar quando 2016 começar.

Ser identificado como “técnico” não é algo que desperte rejeição no eleitorado – ou “burocrata”, como preferiu chamá-lo Luciano Cartaxo, dando sua ajuda na construção da identidade eleitoral de Azevedo, – Azevedo não pode ser um candidato anódino, frio, que não desperte paixões.

Azevedo pode ser um técnico no sentido de ter uma trajetória administrativa cuja competência é reconhecida por todos – o que é um fato positivo, especialmente considerando a conjuntura atual, – mas não pode ser apenas o “homem que calcula”, que sabe de cor todos os números, mas é inerte diante da realidade que esses números mostram.

É preciso inserir um toque de sensibilidade, de indignação, de um conhecimento que esteja à serviço que uma causa de mudança para melhor.

Se João Azevedo chegar a esse patamar, sem se mostrar artificial, poderá incorporar aquele sentimento avassalador de mudança que levou às vitórias de Ricardo Coutinho em João Pessoa, especialmente as duas últimas (2010 e 2014).

No mais, mesmo enfaticamente apresentado por Fabiano Gomes, durante o Correio Debate, como o “ÚLTIMO” colocado na pesquisa, estatisticamente João Azevedo, com 3,1%, está em empate técnico com seus concorrentes na disputa pelo segundo lugar, considerando a margem de erro de 3,5%: Ruy Carneiro (6,5%), Manoel Júnior (4,5%), Wilson Filho (4,1%) e Luiz Couto (3,2%). A diferença a ser vencida é longa, mas o tempo que resta também.

 

Polêmica Paraíba