Um cabide de emprego a serviço da ingerência política e da sanha dos aliados. Esse é o retrato da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), que tem parte de seus cargos ocupada por sobrenomes conhecidos da política – como Calheiros e Benevides -, por derrotados nas urnas, amigos do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e outras indicações e nomeações sem critério técnico.
Esses apadrinhados recebem salários que variam de R$ 8 mil a R$ 10 mil. Controlada por um consórcio do PMDB com o PTB, partidos que lotearam os principais cargos da companhia, a Conab está na mira da Controladoria Geral da União (CGU), que, desde a semana passada, enviou 12 técnicos para investigar denúncias de corrupção no órgão.
Matheus Benevides Gadelha está na Conab desde maio de 2008. Raramente é visto no órgão. É neto do ex-presidente do Senado e hoje deputado federal Mauro Benevides (PMDB- CE), que trabalha para nomeá-lo titular da Diretoria Financeira, que era ocupada por Jucá Neto. Matheus é coordenador de Acompanhamento de Ações Orçamentárias, um cargo criado para ele na época de Wagner Rossi.
Nomeado em abril deste ano, Rodrigo Rodrigues Calheiros, filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é assessor especial do novo presidente da Conab, Evangevaldo Moreira dos Santos, que assumiu o órgão no mesmo mês. Evangevaldo foi indicado pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO).
Evangevaldo é advogado e produtor rural. Em pouco tempo no cargo, conquistou o apoio dos servidores do órgão após conceder aos funcionários benefícios da carreira. Na sua primeira reunião com os servidores, Evangevaldo fez um discurso de aproximação e, no microfone, disse que seria presidente da Conab durante 24 horas por dia e divulgou o número de seu telefone celular.
Rossi se rodeou de amigos na Conab
Em nota, na semana passada, Evangevaldo afirmou que a atual crise no órgão não tem nada a ver com ele. Os escândalos que atingem hoje a Conab ocorreram na gestão de Alexandre Magno Franco de Aguiar, que presidiu a Conab durante um ano, até abril passado, quando deixou a companhia, a contragosto, e virou assessor especial de Wagner Rossi no ministério.
Aguiar é genro do ex-deputado federal Armando Abílio (PTB-PB), que o indicou para o posto, e diz que deixou o comando da Conab após pressão política. Apesar de não ter formação na área agrícola, Aguiar afirmou que, “sem subestimar qualquer agrônomo”, um advogado pode presidir a companhia. Ele admitiu que sem apoio político não chegaria aonde chegou.
O ministro Wagner Rossi presidiu a Conab durante três anos e deixou o cargo, em março de 2010, para assumir a pasta. Na sua gestão na Conab, prevaleceram indicações políticas e de amigos, que manteve quando foi deslocado para o ministério. Amigos de décadas, que o acompanham desde Ribeirão Preto (SP), foram contemplados com cargos.
Um deles é Milton Elias Ortolan, atual secretário-executivo do ministério e que foi seu chefe de gabinete na Conab. Quando Rossi comandou Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), no final da década de 90, uma decisão judicial determinou a exoneração de Ortolan, que teria sido contratado de forma irregular.
Outro amigo do ministro, Boaventura Teodoro Lima ocupou cargo na Conab na gestão de Rossi e, agora, está lotado na diretoria de Infraestrutura, Logística e Parcerias Institucionais do Ministério da Agricultura. Boaventura era uma espécie de carregador de pasta de Rossi. Também é do interior de São Paulo.
Rossi também fez de seu gabinete no ministério uma extensão da Conab. Funcionárias que deveriam despachar na companhia, trabalham para o ministro e não comparecem à Conab, que paga seus salários. São os casos de Nastassja Ferreira Tolentino, que ocupa a Gerência de Promoção Institucional, e de Janaína de Freitas, ambas lotadas na Conab.
O ex-deputado federal Marcelo de Araújo Neto (PMDB-GO) assumiu recentemente o cargo de diretor de Operações e Abastecimento da Conab. Foi candidato, derrotado, a vice-governador de Goiás na chapa de Iris Rezende (PMDB) ano passado.
Em março de 2010, O GLOBO revelou que, quando presidiu a Conab, Wagner Rossi nomeou até presidentes de clubes de futebol do interior de São Paulo – Ary José Kara (Taubaté) e Virgilio Dalla Pria (Rio Preto) – como seus assessores. Eles não iam a Brasília. Até mesmo um dentista de Ribeirão Preto, Rodrigo Casasanta, ocupou cargo na gestão de Rossi.
O Ministério da Agricultura informou que algumas indicações são políticas e outras, pessoais, de escolha de Wagner Rossi. “Todos são profissionais qualificados”, informou a assessoria. Segundo o ministério, Nastassja assessora o ministro e Janaína trabalha com o secretário-executivo. Boaventura e Ortolan foram escolhidos pelo ministro. “As nomeações de Rodrigo Rodrigues Calheiros, Matheus Benevides Gadelha e Marcelo Araújo Melo foram indicações políticas do PMDB”, informou o Ministério da Agricultura.
O Globo