Os segredos do HSBC foram revelados esta semana pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Trabalhando com uma equipe de 140 jornalistas em 45 países, os documentos mostram de que forma o HSBC (Suisse) Private Bank ajudou clientes ricos a ocultar bilhões de dólares em ativos: mais de 100 mil contas, em valor de quase US$ 120 bilhões, estavam envolvidas.
Outros detalhes podem ser obtidos no site do ICIJ, “Swiss Leak Data”. Algumas das contas pertenciam a potentados árabes como os reis do Marrocos e da Jordânia. Também havia milhares de clientes da Suíça, da França, do Reino Unido, do Brasil (8.667) e da Itália.
Os arquivos incluem nomes de clientes, posições de contas e anotações dos funcionários do banco sobre conversas com correntistas. Oferecem um vislumbre fascinante de quantas dessas contas foram deliberadamente escondidas das autoridades tributárias nacionais. Além de ajudar os sonegadores de impostos, o HSBC também prestava serviços a criminosos internacionais, traficantes de drogas e fugitivos, bem como outros indivíduos “de alto risco” que desejavam guardar ou esconder dinheiro ilícito em contas sigilosas. As autoridades dos EUA, França, Bélgica, Grécia e Argentina já iniciaram investigações. O HSBC havia anteriormente assinado um acordo extrajudicial nos EUA sob o qual o banco admitia ter lavado lucros do tráfico de drogas no México.
O homem responsável pelo maior vazamento de informações bancárias da história é Hervé Falciani, 43, ex-especialista em informática do HSBC. Sua história parece um filme de suspense. Uma visita clandestina ao Líbano, um encontro com o Mossad, uma fuga da Suíça para a França, prisão na Espanha. A transformação de Falciani, de consultor de tecnologia a denunciante de irregularidades, começou com sua transferência do HSBC de Mônaco ao HSBC Private Bank em Genebra. Entre 2006 e 2007, ele baixou detalhes de dezenas de milhares de contas. Mais tarde, os entregou às autoridades francesas. Christine Lagarde, então ministra das Finanças em Paris (e hoje diretora do FMI), transmitiu os dados relevantes a outras autoridades tributárias nacionais.
As peripécias começaram (aparentemente) em 1999, com a aquisição do Republic National Bank de Nova York e da Safra Republic Holdings, que respondem pela maioria dos clientes de alto patrimônio do banco na Suíça. Na época, a companhia era controlada pelo bilionário Edmond Safra, morto em um incêndio em sua cobertura em Monte Carlo a despeito de contar com guarda-costas treinados pelo Mossad. Teorias da conspiração e rumores de envolvimento de mafiosos russos e traficantes de drogas colombianos persistem. Joseph Safra, seu irmão mais novo, dirige (independentemente) o império bancário Safra em São Paulo.
Folha