Nunca como atualmente, foi tão fácil e tão barato para tantas pessoas manifestar suas opiniões a grandes comunidades; mas, ao mesmo tempo, em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, por métodos antigos e modernos, contrariar o gosto ou o interesse de poderosos talvez nunca tenha sido tão perigoso
o século 21 tem sido um período de grandes ameaças à liberdade de expressão e de imprensa, embora ele também seja a época em que mais oportunidades foram abertas para que qualquer indivíduo, mesmo sem recursos materiais, possa manifestar suas opiniões publicamente.
Até 25 anos atrás, quem quisesse transmitir seus pontos de vista para grandes grupos de pessoas precisava de capital, ou político ou econômico, para ter acesso à imprensa, ao radio e à TV.
Com a internet, multiplicaram-se sites, blogs e mídias sociais em que não é necessário dinheiro nem prestígio para disseminar, às vezes para multidões, os pensamentos que se deseje.
Mas também aumentam as formas de censurar, reprimir, intimidar os que transmitem conteúdo que desagrade a poderosos.
As fórmulas vão desde as mais antigas, como o exercício do poder do Estado contra os que se opõem aos seus detentores, como se tem observado na Rússia, China, Turquia ou, perto de nós, na Venezuela e em Cuba.
Nada de novo nesses casos, exceto a maior sofisticação tecnológica para o exercício da censura, como se nota, por exemplo, na China, onde o governo consegue impedir o uso até mesmo de corriqueiros instrumentos de busca na internet.
Uma variante do poder do Estado contra a imprensa aparece quando o chefe de um deles aciona outro para castigar alguém que o aborreça, como fez o turco Recep Tayyip Ordegan, que obteve da democrática Alemanha sanções contra um humorista que o irritou com suas críticas em palcos alemães.
O extremismo religioso tem exercido sua intolerância da maneira mais radical e covarde contra aqueles de quem seus praticantes divergem ou consideram blasfemos, como no atentado contra o Charlie Hebdo na França, na execução de correspondentes pelo ISIS (ou Estado Islâmico) no Iraque e nos assassinatos de jornalistas por grupos terroristas islâmicos na Síria e na Líbia.
O narcotráfico e o crime organizado continuam a ameaçar, ferir e matar jornalistas em vários países, como o México, frequentemente com a conivência da omissão ou dos aparatos de segurança do Estado.
Nos Estados Unidos avolumam-se episódios preocupantes. O blog Gawker foi à falência depois de perder ação judicial movida por uma celebridade da TV que alegou ter tido sua privacidade violada e que foi financiada com milhões por um empresário do Vale do Silício interessado em vingar-se do veículo, que anos antes revelara sua homossexualidade.
O Facebook está tendo de se defender de políticos conservadores que o acusam de ser tendencioso na seleção de suas “principais histórias”, embora elas sejam escolhidas por ferramentas estatísticas.
E o pior ainda pode estar por vir nos Estados Unidos se Donald Trump se eleger presidente: como candidato, ele já vem restringindo o acesso de veículos de que não gosta a seus eventos e constrangendo sistematicamente com ofensas jornalistas de quem discorda.
No Brasil, más notícias também proliferam. Delegados da Polícia Federal que participam da Operação Lava Jato processam o jornalista Marcelo Auler porque não gostaram do teor de alguns comentários em seu blog, os quais querem retirar do ar, e mais: tentam proibi-lo de veicular textos “com conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo”.
Juízes e promotores do Paraná movem ações em diversas cidades contra repórteres do jornal Gazeta do Povo que revelaram fatos verdadeiros sobre seus salários. Os processos simultâneos obrigam os jornalistas e a empresa que edita o diário a deslocamentos custosos e desgastantes, em claro ato intimidatório.
Esses fatos demonstram como é frágil o atual estado da liberdade de expressão e de imprensa no mundo, o que traz preocupações graves sobre o futuro da democracia.
Créditos: Observatório do Imprensa