“Rubão, uma alternativa para o trânsito em João Pessoa é transformar toda a Avenida Epitácio Pessoa em mão única nos horários de pico: pela manhã (entre 6h30 e 8h, digamos), das praias para o centro; no final da tarde (entre 17h30 e 19h), do centro para as praias”.
A sugestão me foi dada recentemente pelo empresário Lécio Moraes, dono de pizzaria em um shopping do centro da Capital. Pelo que entendi do nosso rápido contato sobre o assunto, os dois lados da avenida que liga as praias ao centro da cidade e vice-versa teriam um único sentido na hora do rush.
Imagino que para acessar a Epitácio pela manhã, quem mora no Cabo Branco, por exemplo, usaria a Marcionila da Conceição e todas as suas paralelas até o rio Jaguaribe. Quem mora em Tambaú, por seu turno, poderia usar a Navegantes e suas paralelas até o rio.
Evidente que todas as ruas perpendiculares ou que cruzam a Epitácio em toda a sua extensão (nos bairros de Miramar, Tambauzinho, Estados, Expedicionários, Torre etc.) teriam que se transformar em mão dupla (no mesmo horário) se tal mudança fosse implementada.
Tenho como interessante, válida, oportuna e perfeitamente exeqüível a sugestão de Lécio. Não entramos em detalhes, mas suponho que a inovação não mexeria no sentido do trânsito dos outros grandes corredores (Beira-Rio, Ruy Carneiro e Beira-Rio) que também ligam o centro à orla e vice-versa e se conectam com a Epitácio.
Comprei a idéia no ato. E comprarei tantas outras que me venham ou me apontem para tentar resolver no curto prazo os problemas de engarrafamento do caótico trânsito da Capital paraibana, que há muito é cidade muito pouca para tanto carro.
Daí por que considero mesmo viável a sugestão de Lécio de transformar a Epitácio em mão única, nos dois lados, ‘subindo’ da praia para o centro de manhã cedo e ‘descendo’ do centro para a praia no final da tarde e começo da noite.
Difícil? Complicado?
Que nada! Difícil e complicado é você se deslocar pela Epitácio em horário de pico e ser pontual em seus compromissos ou nos compromissos de quem você leva de carro para algum lugar da cidade. Filhos para a escola, por exemplo.
Difícil e complicado é ‘andar’ de moto em João Pessoa. Mesmo você sendo piloto tarimbado, ponderado e cuidadoso, quando se depara com a falta de educação de muitos motoristas e a agressividade criminosa de alguns é enorme o risco de atropelamento ou abalroamento (com alto índice de letalidade).
Difícil e complicado é ‘andar’ de bicicleta em João Pessoa, que não dispõe de ciclovias nos grandes corredores viários, que permitiriam aos trabalhadores ciclistas deslocamentos seguros. As ciclovias disponíveis até aqui privilegiam quem roda de bicicleta por lazer ou esporte.
A propósito, volto a lembrar que nessa categoria não dá para incluir aquele monstrengo que colaram à calçadinha de Tambaú e Cabo Branco, forçando motorista a estacionar carro no meio da rua, aumentando exponencialmente as chances de acidente envolvendo ciclistas e transeuntes.
Mantenho a suspeita de que aquilo lá foi feito sob encomenda para alguém (que explora um serviço de aluguel de bicicletas) “se dar bem”.
Inferno sob chuva
Foi um horror o que se viu nos dois últimos dias em João Pessoa. Trajetos de carro que em condições normais consumiriam vinte minutos, não mais, foram vencidos em não menos que hora e meia de estressante lentidão nas maiores avenidas da cidade.
Tem sido assim quando chove em abundância na Capital paraibana. Além de mostrar que a Prefeitura da Capital tem sido ineficiente ou ausente na manutenção preventiva de nossas ruas, sob chuva fica muito clara e evidente a falta que faz uma política pública de vergonha para o transporte de massa em nossa metrópole, realçando ainda a importância de alternativas como aquela apresentada por Lécio Moraes.
Afinal, não temos sequer alternativa de médio ou longo prazo, inclusive, sobretudo talvez, porque projetos e ações desse perfil, nessa direção, demandam vontade política e determinação administrativa. No presente, não temos uma coisa nem outra no governo municipal.
João Pessoa, além de muito carro, ruas estreitas e um traçado que confirmam a falta de planejamento e visão de futuro de seus administradores do passado, de 30 anos pra cá tem sido governada por prefeitos que parecem dominados pelas empresas concessionárias do serviço público de transporte de passageiros.
Ter que usar carro
As empresas de ônibus oferecem serviço apenas razoável, sem a rapidez (não confundir com velocidade) com a segurança e o conforto que estimulariam qualquer proprietário de automóvel a deixar o carro na garagem e pegar ônibus para ir de casa para o trabalho, de casa para a escola ou de casa para qualquer lugar, enfim.
De outro lado, desconfio que essas empresas também não permitem aos alcaides da Aldeia das Neves, que supostamente ‘comem na mão’ delas, a ousadia de investimentos em linhas de metrô, de trem, de barco etc., algo que poderia significar um grande salto de qualidade em matéria de mobilidade urbana com menos poluição e menos estresse.
O que vi, ouvi e li até aqui de eventuais pronunciamentos de nossos governantes municipais sobre essa questão dá a certeza de que sem uma mudança de mentalidade do poder concedente do serviço de transporte público vamos continuar dependentes de ações pontuais, alargamento de ruas e asfaltamento de outras para servirem de meros canais de escoamento do nosso convulsionado trânsito.
No mais, continuaremos assistindo a reiterados anúncios e promessas de melhoria do transporte público na Capital que não passam de demagogia ou de conversa pra boi dormir, expressão que remete a nossa vidinha de gado e à desconfiança segundo a qual os nossos eleitos consideram que somos mesmo uma plebe rude e ignara, que somos mesmo burros ou, no máximo, bovinos.
‘Terço bizantino’
Botei esse título na coluna de ontem em homenagem à devoção com que nossos governadores repetem, católica e bizantinamente, que tudo de ruim que acontece na vida, na Paraíba e no mundo é culpa de seus antecessores.