Empregos da Fiat (2)

Rubens Nóbrega

No seu sacrossanto esforço para manter o filho Duda no bom caminho, Dona Ieda sempre aconselhava ao seu primogênito: “Tem duas coisas na vida que você jamais deve fazer, Eduardo: dever a rico e prometer a pobre”.

Se Ricardo Coutinho fosse irmão de Duda certamente receberia e assimilaria o conselho daquela sábia matrona e hoje não estaria na iminência de ser cobrado por milhares que acreditaram quando ele disse que os paraibanos teriam vez nos empregos abertos pela Fiat em Goiana (PE). Pois bem…

Sob o título ‘Fiat já contrata trabalhadores para Goiana’, o Portal do Governo de Pernambuco divulgou matéria no final da tarde de ontem na qual deixa bem claro que os quase 7 mil postos de trabalho necessários para a construção da fábrica da montadora italiana naquele município serão ocupados por gente de lá e da região.

“Nesta segunda-feira (05), a Fiat contratou os primeiros funcionários da futura fábrica de Goiana e o Governo do Estado iniciou o cadastramento para contratação dos 6.782 pernambucanos que vão passar por uma capacitação e trabalhar nas obras de construção da planta industrial cuja terraplanagem inicia na segunda quinzena deste mês”, informa o Blog de Notícias do portal governista (acesse www.pe.gov.br).

Conforme antecipara a imprensa pernambucana na última sexta-feira (2), o cadastramento iniciado ontem está sendo realizado através do Senai em 13 municípios. Todos de Pernambuco.

Essas informações contrariam o anúncio feito pelo Ricardus I em agosto deste ano, quando comemorou a decisão da Fiat de se instalar em Goiana, que faz fronteira com a Paraíba, e não em Suape, no Litoral Sul do vizinho. Além de garantir que os paraibanos seriam beneficiados com empregos, Sua Majestade jactou-se de ter influído na mudança de local da fábrica para a Zona da Mata Norte de Pernambuco.

“Vínhamos trabalhando silenciosamente para que a montadora fosse instalada na Zona Norte, a poucos quilômetros da divisa da Paraíba, porque tínhamos a consciência de que seria importante não só para Pernambuco e Paraíba, como para todo o Nordeste”, declarou o monarca, segundo texto da Secretaria de Comunicação do Estado, datado de 9 de agosto, que peguei no sítio PBAgora.

Naquela ocasião, o absoluto antecipou que se articularia com a Fiat para que indústrias da cadeia produtiva automobilística venham a se instalar na Paraíba. Nesse caso, é bom o soberano se apressar porque algumas dessas empresas já anunciaram que vão abrir fábricas entre Goiana e Recife e outras já começaram a construir as suas unidades em território pernambucano.

É o caso da fábrica de peças para motores automotivos WHB Fundição S.A., fornecedora da Fiat, que começa a funcionar em 2013. Em Glória do Goitá, município da Mata Norte pernambucana com 30 mil habitantes e a 60 km do Recife. O investimento é de meio bilhão de reais. Vai proporcionar 2.500 empregos. Empregos para os pernambucanos.

Evidente que uma fábrica de automóveis funcionando pertinho da divisa com Pernambuco deve absorver alguma força de trabalho nossa. Se vier a acontecer será muito bom, e acontecerá – tenham certeza – com, sem ou apesar do governador que temos. Um governador que se vangloria da sua capacidade de pegar carona no feito dos outros e ainda tenta fazer praça disso, em vez de se aplicar na atração de investimentos de verdade, e daquela magnitude, para o nosso Estado.

Burocracia girassolaica

Lamentavelmente, o atual governador da Paraíba parece que segue a mesma pisada, a mesma trilha ou o mesmo script de alguns dos seus antecessores: muita publicidade paga com o dinheiro do contribuinte, muita conversa pra boi dormir, pouca ação e quase nenhum foco ou empenho no que realmente importa.

É o que nos mostra adiante o estimado e arguto Professor Menezes, em mensagem que enviou neste final de semana ao colunista. Leiam com atenção, por favor, pra vocês verem o que pode significar a inação ou inércia de um governo.

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A respeito desse assunto, vale lembrar, caro amigo, apenas para servir como mais um fato a registrar, que o irmão de um amigo meu, próspero industrial no Rio de Janeiro, estabelecido no ramo da produção de material médico-cirúrgico, resolveu ajudar seu estado natal – Paraíba, aqui instalando uma filial de sua indústria. Isto, há mais de dois anos.

Projeto pronto, aprovado por sócios estrangeiros, financiamento negociado, o empreendedor que quer ajudar o seu Estado sofre, hoje, com a burocracia girassolaica, que não libera a documentação necessária para concretização do empreendimento.

Sei de viva voz desse amigo que o Governo de Pernambuco, onde a indústria já tem um escritório de distribuição em Recife, já investe pesado sobre o interessado, para que ele relocalize o projeto para o distrito industrial de Suape, onde contará com todas as benesses.

Vale lembrar que os sócios, não paraibanos, já vêem com ótimos olhos essa proposta e não me admiro que ela se torne realidade, em breve.
Será mais uma perdida!

No entanto, talvez não faça falta. Pode ser que essa fábrica se instale, mas não tenha mão de obra, pois a disponível será toda absorvida pela Fiat.